Corri para o pátio buscando ver de onde vinham as chamas, porém o prédio da escola ainda permanecia intacto. Duas garotas passaram por mim discutindo sobre onde estaria o foco de incêndio. Uma pequena multidão agora estava junto a mim, buscando escapar do que quer que fosse.
Ao longe as sirenes dos bombeiros soaram. Seria possível que fosse apenas um alarme falso?
Até que meu olhar foi atraído por uma densa nuvem de fumaça que se formava bem acima de minha cabeça, onde o muro terminava. Um frio invadiu minha espinha quando notei que aquele era o lugar em que eu estivera há apenas algum tempo, onde meus colegas foram fazer a excursão.
— Por favor, saiam da frente! Saiam da frente! — gritava o capitão do corpo de bombeiros enquanto os outros desenrolavam a mangueira de incêndio.
— Onde pode estar o foco? — perguntou um dos bombeiros.
— Hãn... Com licença? — falei batendo no braço de um deles.
— O que há, garoto? Não vê que isso é sério? — brigou um deles que estava com uma espécie de walk talkie em mãos.
Respirei fundo.
— Sim, eu sei que isso é sério. Mas parece que vocês estão demorando um pouco para ver aquilo — falei apontando para a nuvem de fumaça.
O homem segurou o equipamento que tinha nas mãos frente aos lábios enquanto dizia "003 falando, 003 falando! Foco de incêndio encontrado, foco de incêndio encontrado!".
O homem se afastou de mim, enquanto continuava a gritar com a outra pessoa.
— Traga uma escada, uma escada bem alta!
— Eu sei uma forma mais rápida de chegar lá! — falei me pondo em sua frente.
— Eu já disse para você sair da frente, rapazinho. Esse assunto não é coisa para crianças.
— Mas...
O bombeiro se foi sem me dar ouvidos.
Precisava fazer alguma coisa, ver se estava tudo bem com eles, se haviam conseguido sair.
Acompanhei várias pessoas assustadas que passavam pelo portão do colégio. Notei uma pessoa familiar de cabelos castanhos à minha esquerda, perigosamente próxima a mim. Arminda conversava com o porteiro perguntando algo a respeito do incêndio. Eu não iria para casa, não naquele momento. Ela poderia esperar.
Corri para a rua deserta rezando aos Grandes para a lanchonete da fenda não estar aberta.
Lá estava a passagem estreita com a escada no fim, e a lanchonete para minha sorte estava de fato fechada. Escalei o muro de pedras até estar novamente no terreno baldio, muita fumaça e calor vinham do buraco no chão. Por mais incrível que parecesse, eu não estava incomodado, respirava normalmente embora o ar estivesse tomado por fumaça. Era como se me encontrasse envolto em uma barreira que não me permitia ser afetado.
Não havia sinal dos bombeiros.
— Socorro!
Ouvi o pedido de vozes abafadas.
— Vocês estão bem?! — perguntei.
— Heitor, a escada quebrou. Ajude-nos! — gritou Leo.
Fui até a entrada, onde antes estivera a escada, só havia pequenos tocos de ferro. O grupo estava logo abaixo.
Me surpreendi ao notar que eu conseguia vê-los perfeitamente.
— Alguém segura a minha mão. Eu os trarei para cima — ordenei.
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Vale das Estações
FantastikHá dezessete anos, num país em que poucos acreditariam haver magia e as lendas eram vistas como tolices para assustar crianças, surgiu um lugar fantástico onde as estações coexistiam e as histórias se tornavam reais. Após uma série de coincidências...