Como se eu soubesse onde ela estaria. Como se ela estivesse comigo. Quando era o total oposto, ela estava com Daniel.
Parte de mim se sentia incomodada com esta situação. Daniel era a pessoa mais improvável para estar com Briseis. Não que ele fosse ruim, mas... Estávamos falando de Daniel o dia todo na companhia de uma garota.
— Eu suponho que com o menino Daniel — respondeu Zínia, confirmando meu pensamento.
Havia algum tipo de satisfação em sua voz ao ver a maneira que franzi o cenho.
— Então os dois devem ser chamados até aqui — disse Lucinda.
— Já cuidei disso, Karen foi chamá-los — anunciou a outra.
Naquele instante, um zumbido tomou meus ouvidos, era o sangue pulsando por minhas veias com o medo do que poderia acontecer. Subitamente tomei consciência do que aquilo significava. Eu bem sabia que Daniel não estava no Vale das Estações e se Briseis não passara o dia com Lucinda isso só significava que...
— Eles não estão na cidade — disse Karen, entrando na sala.
Meu coração acelerou para uma velocidade frenética.
— Ah, isso explica a ausência do seu carro, irmã. Que rebeldes! — observou Zínia. — Deixe que se divirtam. Quem iria atrás de uma híbrida?
Karen pareceu engasgar ao ouvir aquilo.
— Ela está correndo perigo, Lucinda! — vociferei. — Não poderia ter saído do Vale das Estações... Não com uma aura tão evidente. Sabemos que o mais provável é que ela seja a integrante perdida.
— Mas e se ela não for? Temos que ter calma. Só nos resta aguardar e rezar aos Grandes que nada aconteça a nenhum dos dois. Eu já havia proibido Daniel de sair da cidade... E você também, Heitor — Lucinda sentou numa poltrona levando as mãos à cabeça, sua voz estava carregada de decepção e preocupação.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui, gente? Então Briseis realmente é uma hanariana?
Karen disparava seu olhar entre nós, seu rosto repleto de confusão.
— É uma história complexa, Karen. Mas, por enquanto, precisamos ligar para eles voltarem agora — instruiu Lucinda. — Se Briseis for de fato hanariana, apenas os Grandes podem proteger a ela e Daniel.
Peguei meu celular e digitei o número de Daniel freneticamente. A voz da secretária eletrônica do outro lado da linha fez milhares de dúvidas surgirem em minha mente.
— O celular de Daniel está desligado — falei, enquanto jogava o meu sobre a mesa de centro.
— E essa tal Briseis não tem celular? — perguntou Zínia.
— Zínia, a garota não tem nem ao menos juízo — Karen riu.
— Que os Grandes os protejam, se os Meltas os encontrarem...— falei, ignorando a frase da Imperatriz. — Eles não terão chance alguma. Eu já os confrontei, são impiedosos.
— Calma aí — pediu Karen. — Daniel já é bem crescido, sabia no que estava se metendo. Além disso, não é como se ele fosse entrar a qualquer momento por aquela porta carregando a pobre donzela indefesa desmaiada em seus braços — disse enquanto se sentava no sofá próximo a mim.
Justamente naquele instante, a porta da entrada abriu fazendo com que todos tivessem um sobressalto, e Daniel entrou com Briseis pendendo inerte em seu colo.
— Ops. Eu acho que subestimo Vreida às vezes... — disse Karen, surpresa.
— Briseis?! — Lucinda gritou, indo ao encontro de Daniel.
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Vale das Estações
FantasyHá dezessete anos, num país em que poucos acreditariam haver magia e as lendas eram vistas como tolices para assustar crianças, surgiu um lugar fantástico onde as estações coexistiam e as histórias se tornavam reais. Após uma série de coincidências...