Ela saiu do quarto, após me forçar a comer algo totalmente sem gosto. Não iria abaixar a guarda, não queria estar ali, não queria ser mais eu. Observei as paredes brancas e sem vida do quarto, apenas aquilo já me enjoava. Ao descer o olhar ao chão, parece tudo girar e fecho os olhos com força. Sentindo minha cabeça girar e latejar, então, Patrick toma conta da minha mente. O que estão fazendo com ele? O que ele deve estar passando? Por quê estão o torturando?
- Você parece bem. - Bufo ao ouvir sua voz.
- Saia daqui, some da minha frente. - Digo, revirando os olhos.
- Eu sei que...
- Você não sabe de nada, nem ao menos ser um ser humano você sabe. Eu quero distancia de pessoas como você, e enquanto eu não conseguir morrer... Terei repulsa de ter alguém como você por perto. - Cuspo as palavras em cima dele, com todo ódio que posso.
- Garota, você me desafia....
- Vai terminar o que começou, ótimo! É isso mesmo que eu quero. - O olhei e vi seu olhar perdido.
- Eu não te atormentar mais, há duas pessoas que me aguardam para fazer isso. - Ele diz, instigando minha curiosidade.
- Você é fraco e ataca pessoas fracas como você. - Digo sem pensar.
- Diga isso ao ver o estado que o querido Patrick está. - Ele ergue seu celular a minha frente, me mostrando uma terrível foto quase irreconhecível de Patrick, levo minhas mãos juntas a minha boca.
- O que você quer? - Disse incrédula, seu rosto estava inchado, sangrando, era horrível de ver. - O que você quer de nós? - Gritei o olhando, sentindo as lágrimas quentes tocando minha pele dolorido. - Olha o que fez comigo, com Lucy, com Aspen, com Patrick. Se quer que eu morra lentamente, é melhor colocar fogo em mim. Não faça isso com os meus. - Dizia aos gritos.
- Mia, eu não...
- O que está acontecendo aqui? - Shelly entra brava. - Ela não pode se alterar, é possível ouvir os gritos raivosos dela por todo o hospital. Você me pede para mantê-la viva e quase a mata toda vez que está por perto. - Vejo ele agarrar Shelly pelo pescoço, me desesperando ao ouvi-la puxando o ar, me lembrando rapidamente de Melanie.
"Você vai ter uma vida feliz ainda.... quero morrer lutando por isso, pela felicidade."
Paraliso olhando aquela cena, vendo os pés da enfermeira começarem a sair do chão, entro em pânico ouvindo aquele som agonizante de lutar pela vida, pela vida... Melanie morreu lutando pela minha vida.
- Solta ela, Brandon, solta ela, por favor. - Pedi o olhando que estranha meu tom de voz. - Chega, chega disso. Solta ela. - Encarei seus olhos impiedosos.
- Tudo bem. - Ele afirma. - Cuida dela, assim que a mesma puder sair daqui, me avise. - Solta o corpo fraco e sem fôlego no chão. Tento em levantar para ajudá-la.
- Fique aí, estou bem. - Ela disse ofegando, fico sentada na cama, tentando controlar o pânico que aquela cena havia causado em meu interior.
- Melanie morreu... - Digo em um tom baixo, vejo a garota levantar me olhando confusa. - Os seguranças de Bárbara atiraram nela, antes de morrer ela disse que eu teria uma vida boa e linda.... E que ela morria por isso. Então, e-eu-eu.. - Gaguejo a olhando, percebo que a mesma estava com os olhos repletos de desespero e lágrimas. - Eu a vi morrer, sangrar, puxar sua última porção de oxigênio, pela minha vida.
- Nossa, eu não.... Eu sinto muito, Mia. - Ela se aproxima lentamente, puxo o corpo da garota para perto do meu, a abraçando fortemente.
- Eu não posso morrer, Shelly. - Nego chorando em seu abraço aconchegante.
- Você não vai... Não vai. - Ela estava chorando juntamente comigo.
- Eu a amava e ela morreu para salvar a mim e ao Aspen. - Digo me aconchegando mais ao abraço que me foi concedido. - Eu não posso morrer, não agora, não assim. - Sentia algo muito grande surgir em meu interior, uma força retirada de algum lugar irreconhecível, eu tinha que sobreviver.
- Você vai ficar bem, Mia. - Ela sorriu em meio as lágrimas. - Então, precisa comer essa comida horrível, beber bastante água, se hidratar realmente. - Concordo com a cabeça, voltando a deitar na cama hospitalar com sua ajuda. - Ainda sente dor?
- Umas dores internas, ainda estou muito fraca e... Minhas costelas doem muito. - Ela concorda com a cabeça.
- Vou te dar uns remédios para essas dores passarem, eles vão te dar muito sono mas, não se preocupe, eu não deixarei ele entrar. - Ela disse segurando na minha mão. - E... Me desculpe, por não ter contado a vocês a situação que estamos, por ter me afastado e ter deixado você. - Ela estava cabisbaixa olhando para nossas mãos unidas. - Você me entende como ninguém e, eu sinto muito.
- Eu sei, eu sei disso. - A olhei. - Não tenho o porquê lhe odiar assim. - Ela levanta o olhar, com uns sorrisos de canto.
- Você viu o que eles fizeram? - Ela perguntou e sinto uma fisgada em meu coração, engolindo seco.
- Não, eu acordei horas depois. - Fraquejo. - Eu.... Eu não o vi. - Nego com a cabeça.
- Isso é horrível. - Ela disse com um semblante triste.
- É doentio. - Afirmo.
- Vou lá buscar a comida horrivel e colocar os remédios pra você. - Ela diz, antes de sair do quarto. Ao ficar sozinha, volto a pensar se realmente eu escaparia daquele local, se eu realmente fosse ser feliz e ter uma vida boa e linda, como Melanie disse. Se algo de inacreditável e improvável aconteceria para me retirar dos braços cruéis de Brandon, alguém me resgataria ou teria forças de escapar sozinha? Voltaria para o Aspen? Conseguiria finalmente me libertar dessas pessoas que querem acabar com a minha vida. Será que teria minha família unida novamente, Grace, Anna e eu?
Como eu queria minha mãe aqui, para me confortar, dizer que sabe como é essa dor e como ela vai acabar comigo mas, que eu vou superar, que eu irei conseguir passar por isso com a ajuda dela. A vida vive nos separando, vive me separando de quem é essencial em minha vida. A vida me separou da minha mãe, do meu pai, da minha irmã... Do meu amor, do meu filho. Eu havia realmente perdido todos? Sim, eu perdi há todos com quem eu me importava e queria bem, um por um, até restar somente eu e minha solidão assassina.- Voltei. - Ela apareceu com umas bolsas de soro e um carrinho trazendo a minha comida. - Peguei tudo que parecia estar mais gostoso, uma sopa de legumes, gelatina de morango, um sorvete de limão e suco de uva. - Me ajeito enquanto ela coloca a bandeja na minha frente , começando a comer, ainda não tinha um gosto maravilhoso mas, estava me sustentando.
- Shelly, seja sincera comigo... - Pedi a olhando.
- Não, não acho que Aspen te entregou. - Ela rebate na mesma hora. - Com certeza não, tenho a noção de que o tempo vai passar e vocês vão se reencontrar, tenho isso na minha cabeça... Que ele vai vir te buscar. - A observei dizer aquilo e era exatamente a mesma coisa que relutava com o quê Alexia disse.
- Eu também. - Digo enquanto comia.
- Ele vai acabar com o Brando quando souber o que ele fez...
- Ele vai ficar destruído. - Digo olhando para a parede, pensando em todos os momentos que tivemos após ele saber da gravidez. Então, eu não vou desistir, não acatar que ele me entregou, eu ainda não estou preparada para desistir dele assim, vou lhe esperar, Aspen... Nem que seja a última coisa que eu faça.
A ruína de um ser humano prepotente,
é seu amor
que o destrói sem demora.
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Espírito de Retaliação
RomanceDe todas as armas que estão prontas para a guerra, não existe melhor arma que a mente humana. É nela que está o plano de ataque, instinto, treinamento, e onde podemos perceber quem são aliados e quem são os temidos inimigos, onde diferenciamos o amo...