One is enough to live

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Às vezes, não sentir é o único jeito de sobreviver.

Mais umas semanas depois...

Estava pronta para outra dose, ouço seus passos, o que me fez sorrir. Eu já não conseguia sair do transe para gritar com ela, fazer perguntas e etc. Eu só ficava largada no sofá, ouvindo e vendo ela fazer, com a visão turva. Não sentia mais nada, só queria mais e mais, o que eu mais temia, aconteceu. Eu queria aquilo.

-  Você não deveria gostar disso, Mia. - Aspen diz, caminhando até mim.

- Se querer isso, é a única coisa que eu consigo sentir.... A única coisa que me mantém viva, eu preciso gostar. - Dou de ombros, ouço a porta se abrir e vejo que ele some. Me esforço para abrir os olhos mas, é em vão.

- Mia. - A voz era masculina e embargada. - Me desculpa por isso, eu vou... eu vou lhe tirar daqui. - Sinto meu corpo ser levantado. - Alexia. - Ele grita, é o Matthew!

- Não tire ela dai, não faça isso Matthew. - Alexia diz, as dores em meus ossos retornam levemente, como filhotes a sair do ovo. Perco a consciência rapidamente.

Uma enxurrada gelada cai em minha cabeça, o que me fez despertar e gritar assustada, vejo Matthew abraçado a mim, me segurando:

- Tudo bem, tudo bem. - Ele seguro meu rosto, tento me soltar... A água parecia estar congelada, caindo em meu corpo fraco e frágil.

- Está.... frio.... demais. - Dizia, perdendo o fôlego.

- Seja forte, Mia. - Ele disse, encostando minha cabeça em seu ombro encharcado. O mesmo me ajuda a sair me secando, coloco uma calça de moletom preta, com uma camiseta e um moletom dele. - Eu não acredito no que estavam fazendo com você.

- Onde ela está? - Pergunto, me encolhendo, pelo frio.

- Quem? - Ele me olha.

- A Chloe, eu quero ver ela. Deixe ela me ver. - Peço.

- Não, Mia... Presta atenção, você precisa focar em outra coisa. - Nego com a cabeça. Cada célula do meu corpo parecia gritar para ela aparecer. Patrick, entra no quarto, o que me faz sorrir. Ela estava ótimo, bem, muito bem recuperado.

- Como é bom te ver. - Ele corre ate mim, me abraçando fortemente, era tão bom vê-lo vivo. - O que fizeram com ela?

- Patrick...

- O que fizeram com ela? - Ele grita.

- A encheram de heroína. - Ele me encara. - Ela está viciada.

- Foi ela, Patrick. A Chloe, traz ela para mim. - Afirmei pedindo, ele me abraça novamente, seu olhar é de piedade.

- Eu não acredito. - Patrick diz em um tom baixo.

- Estou com muita dor, eu preciso dela. - Digo, me soltando dele.

- Eu vou trazer algo para você comer e chamo ela. - Matthew disse, me encarando. - Pode ser? - Sorri de lado, concordando com a cabeça, ele se aproxima, beijando minha testa. Seguro seu rosto, selando levemente seus lábios.

- Eu estava com saudades. - Digo, encarando seus olhos. Eles saem do quarto  me deixando ali deitada e sozinha. Estava com fome e com frio, mas a dor em cada parte do meu corpo e principalmente os braços era predominante. A solidão dentro de mim, era mortal, eu desejava a morte... Alguém bate na porta, fico confusa.

- Sou eu, florzinha. - Não consigo levantar, a batalha interna é grande. Eu quero mas, isso está acabando com a minha vida, não posso continuar sentindo todas essas dores mas, não posso acabar com a minha vida aqui. Não estou pronta para morrer, talvez eu queira mas, não estou pronta para este fim macabro que terei, com toda certeza. - Você não vai sobreviver sem isso, Mia. Seja esperta. - Caminho até a porta, abrindo.

- Você precisa.... - A seringa já estava suas mãos. Ela amarra o elástico rapidamente, avaliando meu braço e injetando rapidamente. As dores começam a sumir aos poucos, suspiro, sentindo meu corpo leve novamente. - Muito obrigada. - Sorri a olhando.

- Quer outra? - Ela pergunta, já injetando outra em meu braço. Vejo o sangue escorrendo, pelo meu braço, ela me machucava em todas as injetadas, doía severamente mas, o efeito era rápido e a todas as dores e problemas, viravam nada. Sinto minha alma, sair do meu corpo, se eu conseguisse ver, eu mesma. Chloe segurou meu corpo mole, me levando até a cama. Ouço a trava da porta e vou para longe, para o escuro, adormeço sem dificuldade. Um sono tranquilo, como a morte que vem sem aviso mas, te enche de paz.

Eu nunca desejei tanto que minha vida acabasse, queria que tudo chegasse ao doloroso fim. Não queria mais respirar, sabendo que sempre estariam perto, me fazendo voltar ao fundo do poço. Eles sempre vão estar me puxando para as trevas e tirando tudo de mim.

Eu cansei de perder, cansei de perder tudo. Perdi minha mãe, perdi meu pai, perdi minha irmã, perdi meu filho, perdi meu amor... Perdi minha vida. Eu não tinha mais nada e ninguém.

Espírito de RetaliaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora