inner confusion

54 4 0
                                    


- Ele nunca faria isso, Mia. - Ele negou. - Alexia, é uma mentirosa. - Ele riu, tossindo, por estar muito alterado.

- Você precisa se acalmar. - Digo a ele. - Eu não confio no Aspen como você, consegue me entender? - Pego outra colherada da comida, levando até a boca dele. Fazia cinco dias, desde que ele voltou, ainda com muitas dores e dificuldade para se movimentar.

- Eu conheço o Aspen de verdade, e achei que você também. - Ele parecia decepcionado comigo.

- Não fique assim comigo, você é a única pessoa aqui a quem eu daria a minha vida. - Digo a ele.

- Ele deve estar louco atrás de nós, ou já deve saber que estamos aqui e está planejando algo de muito grande para o Brandon. - Ele estava esperançoso, e confesso que eu também acreditei em suas palavras. - Você está magra, achei que sua barriga ia crescer mais. - Ele comenta, me fazendo retrair o corpo.

- É, talvez porque Thomas ainda esteja pequeno. - Minto, sem encarar seus olhos.

- Ele tem chutado bastante? - Ele perguntou, sorrindo. Apenas concordo com a cabeça, forçando um sorriso. Pego o copo de suco, o ajudando a beber. - Obrigado, Mia.

- Pelo quê? - Perguntei, pronta para sair dali. Pensar em Thomas ainda era dolorido demais.

- Por ter me tirado de lá. - Ele sorriu, ajeitando-se na cama. Sorri em agradecimento, deixando o quarto. Vendo o guarda se posicionar na porta, assim que saio.

- Não deixe, ninguém entrar. Além de mim e Shelly. - O mesmo concorda com a cabeça. Caminho até a cozinha, indo levar meu prato. O ânimo de Patrick, em relação ao Thomas, me encheu de frustrações e dor. O vazio aumentava a cada dia, ainda estava tendo sangramentos, mas, Shelly dizia que era normal após um "parto". Jogo a louça fortemente na pia, sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. Eu quero meu filho de volta.

- Está ficando louca, vadia? - Ouço Matthew atrás de mim.

- Não enche, Matthew. Por favor. - Digo com a voz embargada, me viro. Sentando ao chão, abraçando meus joelhos, permitindo com que o choro tomasse conta de mim e de minha dor. Fecho os olhos com força. Nada no mundo, poderia me ferir mais.

- É... - Ele ainda estava ali. - Desculpa.

- Só sai de perto de mim. - Peço, sem direcionar meu olhar a ele. Silêncio, até que ouço uma movimentação ao meu lado. Abro os olhos, o vendo ao meu lado, ele encarava o teto acima de nós. - Que porra você está fazendo? - Digo, enxugando minhas lágrimas.

- Eu tenho sido um merda na sua vida. - Ele comentou, dou uma risada acima das lágrimas.

- Jura? - Perguntei irônica.

- Nunca fiz isso com ninguém e só agora percebo o peso das minhas ações, em te ver... dessa forma. - Ele me encarou.

- Bom saber que sou a primeira que você arruinou a vida. - Comento com ironia.

- Eu não sabia o quê meu pai tinha feito. - Ele diz. - Eu posso ser o pior ser humano que existe, mas... Depois de ver a Flora, eu nunca faria aquilo. - O olhei de volta.

- Flora nasceu? - Perguntei.

- Sim, ela era linda. - Era? Seu olhar retorna a mim. - Mas, tivemos que entregá-la a uma família melhor.

- Os dois? Ou somente você? - Perguntei.

- Os dois, Alexia e eu sabemos que aqui, ela não teria a vida que merece. - Ele afirmou.

- Você é real? - Perguntei, e ele riu.

- Eu sei que te sequestrar, deixar com que te leiloassem, tentar tirar sua vida... Não são coisas que nos trouxeram paz. - Concordo com a cabeça, encarando o chão. - Eu tenho um pouco de culpa, pelo que ele fez.

- Eu não estou entendendo o porquê está dizendo essas coisas para mim, não vai mudar nada. Eu ainda quero matar você. - Dou de ombros. - Mas, que bom que consegue entender, pelo menos 10% da dor e vazio que carrego. - Ele me encarou.

- Como consegue dormir do lado dele? - O mesmo perguntou.

- Eu não durmo, deito até ele dormir e depois, vou ao jardim esperando o amanhecer. Dormir, principalmente a noite, me traz lembranças que doem na alma. - Comento. - As vezes, consigo cochilar enquanto estou de olho no Patrick. - Me levanto, o mesmo me acompanha.

- Vou voltar a fazer minhas coisas. - Ele pareceu nervoso, sumindo na mesma rapidez com que apareceu. O dia passou rapidamente, voltei ao quarto do Patrick, para jantar juntamente a ele. Me espantando ao ver a cama vazia, coloco as coisas em cima da cama.

- Patrick? - Perguntei ofegante, me tranquilizando quando o mesmo sai mancando do banheiro. - Quer me matar? - Perguntei.

- Eu só queria fazer alguma coisa sozinho. - Ele comentou. - Gosto que me ajudem, mas odeio depender de outras pessoas. - Me aproximei dele, o ajudando a se deitar. Enquanto comíamos, pela primeira vez consegui realmente rir naquele lugar, por alegria. Patrick, era muito engraçado e tinhas umas histórias muito boas do colégio. Num certo momento, deito ao lado dele, para continuar ouvindo e acabo pegando no sono, sem perceber.

Acordo assustadas, com o pesadelo que tenho desde que cheguei aqui, cenas aterrorizantes que minha imaginação criou, do momento do aborto. Meu rosto estava molhado e Patrick descansava serenamente ao meu lado, me levanto com cuidado, pegando as louças. Levando até a cozinha, vejo que era noite de lua cheia, e ela estava linda. Caminho até o jardim, me sentando num banco que havia ali, onde passava todas as minhas noites.

De repente, alguém se senta ao meu lado e quando vejo seu rosto, me espanto:

- Vim lhe acompanhar. - Matthew diz, ele vestia uma calça de moletom preta com detalhes xadrez vermelho. E uma blusa larga branca, permaneço em silêncio ainda me recordando das cenas trágicas que estavam em meu pesadelo. - Como é?

- O quê? - Perguntei confusa.

- Como é o pesadelo que te atormenta? - Ele encara meus olhos.

- Eu vejo um homem, de branco, com muito sangue na mão. Ele joga algo dentro de um saco, vejo um pequeno fragmento do meu filho, o homem tira as luvas. Eu tento gritar, me levantar.... - As lágrimas desciam por meu rosto. - E dói tanto, dói demais. - Digo, o mesmo se aproxima mais, me envolvendo em seus braços. Fico confusa e em choque com a ideia de que aquela pessoa estava me abraçando, justo aquela pessoa, estava tentando me confortar. Quem era ele?

- Você vai ficar bem. - Ele diz, acariciando meu cabelo. Aceito o abraço, por necessidade, precisava de algum e qualquer forma de carinho. - Está segura comigo. - O mesmo sussurrou, procuro seus olhos, que me encaram, o mesmo acaricia meu rosto de forma tão calma, eu precisava tanto desse afeto... Seu lábio encontra o meu lentamente e carinhosamente.

Matthew me beijou?



Espírito de RetaliaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora