Eu teria desistido de tudo por mais um dia com você. - Tron, o legado.
Há dias eu estou orbitando entre o real e o ilusório, não consigo decifrar o que está acontecendo, mal consigo abrir os olhos e me levantar. Quando consigo, voltar ao controle do meu corpo, ela vem de novo, e injeta algo em mim que me leva para longe, do controle, da mansidão e de mim mesma.
Não consigo nem ao menos, saber quanto tempo se passou, ou o porquê estão me mantendo inconsciente, com algo que não sei nem distinguir o que é, parece que meu corpo está mais leve, que não sinto mais dor nenhuma, nada, eu não sinto nada. Ouço vozes bem ao fundo, mas não consigo pensar unindo as palavras que ouço a algo coeso e que eu entenda. Me sinto um vegetal, quanto tempo estou assim?... Não sei. Quanto tempo vão me manter assim?... Não sei.
Abro os olhos, lentamente, vendo minha visão voltar ao normal aos poucos, observo e estou em uma sala, deitada no sofá, com a mesma roupa da minha última lembrança. A frente de mim, há um vidro escuro, enorme. Algo dentro do meu estômago ferve, subindo pela minha garganta, abaixo a cabeça vomitando, sentindo meu corpo todo se injuriar, uma sensação horrível de boca seca, me faz tossir e acabo vomitando novamente. Me sinto fraca e com um frio absurdo, estava tremendo, meus ossos de todo o corpo doem e me atormentam, olho para meus braços me deparando com marcas roxas horripilantes e que coçavam demais:
- O que fizeram comigo? - Gritei assustada, começando a coçar, só que a dor das minhas unhas em atrito com a pele dolorida, me fez gemer de dor. - O que vocês fizeram? - Grito, sentindo meus olhos encherem de lágrimas, eu estava com medo e muito assustada. Ela entra pela porta, com uma bandeja em mãos:
- Oi florzinha. - Sorriu. - Lembra de mim?
- O que você quer comigo? O que está fazendo aqui? - Grito, me recolhendo no sofá, não tinha forças para levantar.
- Enquanto, eu falo.. Preciso que coma, ou pode morrer com o que eu coloquei em você. - Meu coração dispara. Ela coloca a bandeja ao meu lado, e havia um sanduíche de frios com um copo de suco.
- Há quanto tempo estou aqui? - Pergunto.
- Come, e eu digo o que quiser. - Ela pega uns instrumentos que estavam jogados ao chão, se sentando ali. Pego o sanduíche comendo, ouvindo meu estômago roncar.
- Fazem, duas semanas que está aqui, inconsciente. - Ela sorriu, pegando uma seringa.
- O que você está fazendo? Por que? O Aspen não me quer mais, ele me entregou. - Afirmo, bebendo um pouco do suco, o medo que assolava era tão grande.
- Você fez muitas coisas que não deveriam e o Aspen também. - Ela diz, pegando um isqueiro, engulo seco a observando. - Isto é uma punição que você vai carregar pela vida toda, para se lembrar sempre de não cometer erros, porque nós sempre vamos estar de olho em você. Se é que você vai sobreviver. - Ela dá de ombros, esquentando algo na colher que borbulha com o fogo. - Quando eu fui distanciada do Aspen, conheci algo que salvou a minha vida, para aguentar a pressão de estar longe de quem amamos. - Ela explicou, aquela mulher era louca. - Heroína. - Ela diz, começando a mexer na seringa. - Termino de comer, negando com a cabeça.
- Você está me drogando? - A olhei, deixando as lágrimas caírem.
- Não, eu estou te tornando como a mim... - Ela deu de ombros. - Uma viciada.
- Não, não, eu não quero isso. - Gritei assustada, tentando me levantar. Ela aponta uma arma para mim. - Vai, atire em mim, qualquer coisa é melhor do que vocês sempre controlando a minha vida. Atira. - Gritei. - Vocês tiraram o meu filho, vocês quase tiraram o meu melhor amigo... O que mais vocês querem? - Chorava desesperada, eu estava exausta, exaurida dessa vida de pesadelo e sofrimento constante.
- Quer um tiro florzinha? - Ela sorriu de lado, guardou a arma, se aproximando de mim, com um elástico e a seringa. - Com o que será que você vai alucinar hoje? - A forma como ela me olhava, era assustadora.
- Você é um monstro. - Digo, chorando, enquanto ela amarra o elástico em meu braço.
- Sou mesmo, mas acho que o Aspen gosta desse meu lado mais feroz. - Ela diz em um tom baixo. - Bons sonhos, florzinha. - Ela não perde a oportunidade de injetar a agulha em meu braço fortemente, me machucando. Sinto o líquido adentrar as minhas veias, como se todos os ligamentos do meu corpo voltassem a funcionar. Mas, a sonolência que bate contra mim, apenas sinto meu corpo deslizar no sofá. - Já temos uma dependente. - Ouço a voz dela ao fundo.
Volto a flutuar dentro da minha cabeça, tendo visões que nunca aconteceram e as vendo de longe, uma Alissa feliz, com uma família completa. A dor de saber o que seria da minha vida depois do que estão fazendo comigo, era destruidora. Eu estava destruída, sem vida, sem família, sem nada.
Vingança é uma emoção que pode matar você.
Abro os olhos lentamente, vendo que Aspen estava ao meu lado:
- Oi. - Sorri o olhando, me sentia em um transe profundo.
- Oi Mia, como está se sentindo? - Ele me abraça, me fazendo deitar em seu colo.
- Morta. - Dou risada, meio mole. - Por dentro e por fora, vazia.
- Não diga isso de você mesmo, eu amo você. - Sorri, o observando. - Você sabe que eu não estou mais aqui, certo? Sou só uma alucinação do efeito da droga em você.
- Eu sei. - Reprimo os lábios, sentindo as lágrimas quentes descendo pelo meu rosto frio. - Fica só mais cinco minutinhos, até ela voltar e me dar outra dose.
- Tudo bem, só mais cinco minutinhos. - Ele concordou.
- É bom ver você... - Sussurro, prestando atenção em seu rosto, que não me recordava ser tão lindo. - Sinto falta do nosso filho. - Digo, sentindo a dor voltar novamente. Quando a porta se abre, vejo que ele havia sumido, junto com os efeitos. Meus olhos pesam, fico entre o real e o ilusório.
- Oi florzinha. - É a última coisa que me recordo.
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Espírito de Retaliação
RomansaDe todas as armas que estão prontas para a guerra, não existe melhor arma que a mente humana. É nela que está o plano de ataque, instinto, treinamento, e onde podemos perceber quem são aliados e quem são os temidos inimigos, onde diferenciamos o amo...