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Capítulo 4: Sexualidade frágil como uma folha de papel machê.

Sentar-se na mesma mesa de jantar que Wooyoung depois de sua infeliz brincadeira era um tanto quanto... desconcertante. Enquanto mastigava a saborosa comida que Jina havia preparado — aprovando o sabor, a textura, estava feliz por estar comendo comida de verdade, e que não viesse direito de um freezer de um supermercado —, Choi tentava digerir a ideia de que Jung realmente não tinha noção do que estava fazendo quando encostou o joelho na área perigosa, e o esfregou quase como se estivesse tentando estimulá-lo.

San possuía todas as provas do mundo que estruturam sua teoria; 1) Wooyoung ficou desesperado quando notou o que estava acontecendo. 2) ele tentou agir como se aquilo fizesse parte de sua "punição" mesmo que também não quisesse dar a entender que provocou aquele contato íntimo com outro homem. E, por último e mais verídica, 3) tudo foi um grande acidente organizado pelo acaso e que deveria ser esquecido para sempre.

Afinal, apenas San sentiu algo que... ele preferia não categorizar. Era normal que homens da idade dele fossem facilmente provocados, não podia se preocupar tanto com isso. Deveria estar se martirizando por ter se dirigido à Wooyoung pelo primeiro nome, aquilo sim havia o desmoralizado — o fato era que isso acabava fazendo as peças no tabuleiro da amizade entre os dois se moverem para frente, e não para trás como gostaria. Se se mantivessem formais e apenas se chamassem pelo sobrenome, aquelas peças não iriam se mover nunca, e aquela linha invisível que haviam traçado entre um e o outro permaneceria intacta e intocada.

Ouviram suas mães falando sobre algo que assistiram no jornal. Certamente era isso o que podia se esperar de gente "velha" no fim das contas — era isso que San e Wooyoung pensavam, embora as mulheres tivessem comportamentos bem joviais. San enxergava sua mãe como Joana D'Arc, a mulher que revolucionou o patriarcado. Ela não era nem de longe como todas as mães, e talvez a maioria das mães não sejam como todas as mães e ele não devesse se sentir especial por isso.

E era exatamente sobre aquele livro que iria falar em sua transmissão ao vivo.

— Hoje iremos conversar sobre o livro de Helen Castor; "Joana D'arc", aquela que comandou o exército francês no século XV, na Idade Média. Ela é uma mulher cativante e admirável, uma jovem vibrante que tem o sangue de uma líder correndo por suas veias. Joana tem tendência em tomar a frente de decisões importantes, e levantou sua espada frente a padres, bispos, príncipes, soldados e camponeses, contra o exército inglês em uma guerra civil — San falava entusiasmado em frente à câmera profissional conectada ao seu computador, que fazia a transmissão. Ele estava sentado no chão de seu quarto, expondo a capa dura do livro que apresentava as tranças de Joana D'Arc em meio ao breu escuro e sombrio. — Jovem, líder, bruxa e santa. Joana D'arc estava à frente de seu tempo...

Como Choi San era um leitor assíduo, apaixonado por livros e viciado em conhecer novos universos, mergulhar em palavras e se prender em narrações intensas e em tramas extraordinárias, há alguns meses resolveu começar a gravar vídeos para a internet apenas fazendo reviews e indicações das obras que lia. Ele contava sobre a história de forma que não cobrisse seus telespectadores de spoilers, dissertava e entregava sua opinião sincera e interagia com o público ligado à literatura, tão fanático quanto o garoto de mechas vermelhas.

Aquela ideia partiu da cabeça de Yeosang, que tinha como premissa ganhar dinheiro com aquilo que se ama, apresentando e sendo a voz que as pessoas querem ouvir. Se San amava ler, ele podia tirar vantagem disso enquanto conversava com outras pessoas iguais a ele. Juntos saboreavam às histórias, mergulhavam intensamente numa euforia sem fim, e o rapaz saía satisfeito.

Conseguia se desdobrar em ler os comentários feitos pelas muitas pessoas que o assistiam e falar sobre a obra que tinha em mãos. Toda semana ele tentava trazer algo novo, e se não podia terminar de ler uma das inúmeras obras que colecionava, ele fazia indicações das que já havia lido no passado. Eram títulos infinitos; era o seu hobby mais precioso desde que se entendia por gente.

CAMISA 18 | WOOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora