• Vinte e Três

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Maratona 03/10

Depois de horas rodando em círculos, finalmente conseguimos achar o caminho que eu me lembro de ter passado naquela noite

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Depois de horas rodando em círculos, finalmente conseguimos achar o caminho que eu me lembro de ter passado naquela noite. Andamos mais um pouco e conseguimos vê faróis acesos no meio do mato, eu aponto e mesmo com medo Ana concorda vira o carro e entramos em um caminho de terra bem estreito. Andamos mais um pouco e consigo vê sua SUV branca. Meu coração se acelera e minha respiração falha.

- É o carro dele - sussurro.

- As portas estão abertas, não parece ter ninguém lá - Ana fala.

- Você é amiga minha ou do capeta? - falo e ela acaba rindo. Me permito sorri. - É o carro dele, ele está aqui, eu sei que está - estaciono o carro e saio do mesmo. Vou correndo em direção ao carro de Scott, mas ele não estava lá, seu carro estava fedendo, não tinha aquele cheirinho do seu perfume caro, novamente lágrimas voltam a escorrer pelos meus olhos.

- Amiga - Ana sussurra e toca meu braço. Eu me viro para ela e a mesma direciona seu olhar para a ponte, me viro e vejo meu Scott de costas para mim, ele está sem camisa e é visível que ele está tremendo, Ana aperta meu braço e tenta me tirar dali - a gente vai embora agora, aquele homem pode ser um pouco que bateu em Scott e está com o carro dele, vamos ligar para a polícia - fala e eu prensso meus pés no chão.

- Aquele é o Scott - falo e ela intercala o olhar entre mim e o homem atrás de mim.

- Aquele bêbado moribundo não é o seu Scott - ela fala e eu nego com a cabeça.

- O meu Scott, é meu pelo que ele é por dentro, ele está sofrendo e largado, eu não vou negar ele pelo estado dele, eu conheço o coração dele, e sei que ele não fez por mal, ele só não estava pensando - eu falo e ela concorda com a cabeça mesmo que não esteja concordando.

- Eu vou tirar o carro dele daqui, vou levar para a estrada, se em trinta minutos eu não vê o seu carro saindo daqui, eu ligo para a polícia - fala e eu concordo.

- Agora vai, eu vou ir atrás dele - falo sorrindo bobo olhando Scott de longe.

Vou até o meu carro e pego o blazer dele que eu havia deixado lá, em uma das noites que eu passei procurando ele de carro na rua. Vou me aproximando de vagar e quando eu já estou a poucos centímetros dele, eu sou capaz de ouvir ele falar alguma coisa.

- Eu não devia ter escutado ela, eu estou com tanta saudade, saudade da minha mãe, do meu pai, das minhas irmãs, da Kim... Ah, Mih, que saudade eu tô de você, do seu cheiro, da sua boca, do seu beijo, da sua voz doce no meu ouvido, eu estou com saudade de tudo - consigo vê pelo seu ombro que ele está segurando o celular, agora quebrado, em suas mãos, e nele uma foto minha sorrindo no parque. Minhas lágrimas voltam a aparecer e eu me aproximo mais, ele está tremendo de frio e eu coloco o blazer sobre ele, ele se assusta e olha para mim, ele começa a chorar copiosamente e eu me sento um pouco longe dele e sinto seu olhar sobre mim.

- Oi - sussurro tentando não chorar. Eu não sei o que eu estou sentindo, é um misto de alívio, raiva, vontade de chorar, de bater nele, de beijar ele.

- Oi - ele sussurra com a voz falha, consigo vê pelo canto do olho que ele me encara a todo momento. - Como me achou? - pergunta.

- Você falou que gostava desse lugar, que é bom para pensar, eu só queria ter lembrado antes - sussurro ainda sem olhar para ele.

- Meus pais, como eles estão? - pergunta.

- Sua mãe está tomando calmante para dormir, e se culpa o tempo todo por não ter sido uma boa mãe para você, Peter está desesperado, ele tem se passado de forte na frente da sua mãe, mas eu já o peguei na frente da casa dele chorando duas vezes, Alisson está sendo reconfortada pela pequena Kim, que não sabe o que está acontecendo, e pergunta por você a todo momento, Sophia  se trancou em casa e disse que só sai de lá quando você voltar - falo e o vejo concordar.

- A empresa - sua voz quase sai, mas o único fio audível é embargado e falho.

- Eu estou cuidando da direção, sua mãe me pediu, mas Peter pediu para estar presente nas reuniões e fechamento de contratos, ele está tentando aliviar e esquecer que você sumiu - falo e ele coloca a cabeça entre as pernas e começa a chorar.

- E você? - ele sussurra, agora sem me olhar.

- Estou sem dormir a dias, tenho passados todas as noites te procurando pelas ruas, o resto que sobra eu vou para sua casa e fico com os bichinhos e vejo o dia amanhecer, sinto que a qualquer momento eu vou cair no chão e não vou acordar mais, eu já não tinha forças para ir atrás de você, eu mal me levantava da cama - ele olha em meus olhos e eu mantenho até ele cortar o contanto.

- Eu estou bem, pode avisar a eles, e pode ir - sorrio sarcástica e me levanto, passo meus dedos no meu cabelo e ando por um momento mas volto e me agacho, ficando na altura de seus olhos.

- Eu não sei sobre o que foi aquela maldita conversa, mas você devia deixar de ser covarde, e ir pelo menos falar com a sua mãe, que está sofrendo amargamente todos os dias, se a minha presença aqui não te vale de nada, eu vou ir embora feliz da vida em saber que você está bem e que eu não preciso mais me preocupar, que eu só preciso pegar as minhas coisas e sumir, mas se você se importa um pouco que seja com a sua mãe, você vai entrar naquela merda de carro, e vai me acompanhar, eu vou te levar para casa e depois você pode me enxotar se quiser - falo.

- Para casa não - ele sussurra e sua mão pega a minha.

- Você pode ir lá para casa - sussurro e coloco uma de minhas mãos em seu rosto e ele fecha os olhos.

- Me desculpa - ele volta a chorar e eu o abraço, sentindo seu cheiro forte de bebida.

- Você tá fedendo a mijo - falo e acabamos sorrindo.

- É sério - ele volta a ficar sério e sua mão vai até meu rosto, seu dedão passa por cada fraco do meu rosto, parando em minha boca. - Me perdoa - ele pede em meio as lágrimas.

- Tá tudo bem, ei, covinhas - ele sorri e me encara - eu tava com saudade de você, muita - ele me puxa para si mais uma vez e me abraça - você ainda está fedendo a mijo - a gente acaba gargalhando - você precisa de um banho covinhas - falo e ele concorda.

- Vamos para sua casa? - pergunta.

- Você quer ir? - pergunto e ele concorda. - Tudo bem se passarmos na sua casa para deixar seu carro e pegarmos os bichinhos? - pergunto e ele concorda - Ana tá esperando a gente na estrada, ela está com o seu carro - falo.

- Se eu estou fedendo, o carro pode ser jogado faro - ele fala envergonhado.

- Mas eu vou dar um banho em você, e o cara do lava jato vai dar no carro, tudo bem? - pego em seu rosto com as minhas duas mãos e em um ato sem pensar eu lhe roubo um selinho rápido, ele me olha surpreso mas sorri.

- Mas eu vou dar um banho em você, e o cara do lava jato vai dar no carro, tudo bem? - pego em seu rosto com as minhas duas mãos e em um ato sem pensar eu lhe roubo um selinho rápido, ele me olha surpreso mas sorri

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