Alec

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Ao longo dos anos senti em vários momentos que estava fazendo algo de errado, era como se a vida a todo o instante me lançasse em um mergulho em alto-mar sem chances de eu aprender a nadar antes e a frustração não era só o que me matava, mas também a necessidade que adquiri ao longo dos anos de ser validado pelas pessoas ao meu redor, eu queria enfrentar o desafio no mar, queria passar sem ajuda, mas que no final... Que no final, queria que as pessoas que me importo estivessem lá, para mim, seguindo uma lógica de reciprocidade diante tantos desafios. Mas é claro que em muitos momentos isso não aconteceu, inclusive eu me afoguei no percurso muitas vezes até por fim me encontrar e perceber que minha atuação, minha vida, não precisava ser tão desafiadora quanto estava a fazendo ser. Era engraçado pensar nisso agora, agora que eu estava estável comigo, com as pessoas que eu amava e que tinha assumido o controle da minha própria vida.

Olhei para a frente, as folhas das árvores no quintal agora estavam alaranjadas e já tinham começado a cair por conta da estação do ano. O contraste entre a grama verdinha e as folhas secas fez com que me sentisse de certa forma acolhido, ali era minha casa, me sentia em paz observando a natureza e ali eu sabia que havia chego em um ponto em que eu tinha assumido o controle da minha própria vida. Era tão libertador e ao mesmo tempo tão... Não assustador, há uma palavra para isso com certeza mas não estava me lembrando. Acho que depois de tanto tempo tentando agradar as pessoas, seguindo o fluxo das marés de acordo com o que eu achava que iria transmitir uma melhora da minha imagem para o próximo, cada vez que eu percebia as mudanças de rumo que minha vida tinha tomado eu ficava um pouco amedrontado, isso porque eu sabia que se não tivessem sido algumas escolhas minhas e certa insistência de algumas pessoas que me amavam, eu poderia ter perdido as experiências mais surreais e agradáveis de toda a minha existência, poderia ter me perdido tanto no meio do caminho que não saberia mais o que era de fato eu e o que era os outros, teria me transformado numa personalidade e tenho certeza que não me reconheceria e seria infeliz e perdido.

Bem, analisando as coisas agora depois de um tempo, foi fácil chegar a essa conclusão, na verdade ao longo dos anos tinha chego a tantas conclusões sobre mim mesmo e sem contar nos arrependimentos, sinto as vezes por não ter aproveitado minha juventude como uma pessoal normal, sem maiores dramas, sem ter que ficar jogando com minha própria família e sem ter tido que amadurecer tão cedo; mas olhando por esse lado também, talvez se tudo tivesse sido tão normal como as vezas eu desejava, eu não teria conhecido o grande amor da minha vida e nem construído uma família incrível com ele. Talvez se muitas das coisas ruins que aconteceram comigo não tivessem acontecido, eu não seria eu de verdade e por Deus, claro que não acredito que as pessoas devem passar pelo inferno para moldarem seu caráter, claro que não, aliás acho essa linha de pensamento tão absurda que chega a me irritar como justificam as coisas ruins da vida para que coisas boas possam acontecer, coisas ruins e boas nunca foram sinônimos e algumas pessoas ainda insistem nessa besteira. É como uma justificativa condescendente ao seu sofrimento. Algo bem niilista para mim, mas é claro que muitas pessoas podem descordar e respeito as diversas opiniões. O que seria do rosa se todos gostassem do azul, não é mesmo?!

- Você parece bem reflexivo. – Sorri ao ouvir a voz de Magnus, ele se sentou na cadeira de balanço ao meu lado com duas xícaras de chocolate quente.

- Acho que conforme a idade vai chegando é impossível não ficar. – Ele riu, para mim Magnus Bane continuava sendo o mesmo, na verdade não o mesmo, agora ele parecia muito mais doce, continuava sendo tão alegre quanto um dia foi e divertido. Nós já estávamos mais velhos, mas parecia que a idade nunca chegaria de fato para ele, conseguia perceber leves marcas de expressão em seu rosto, mas nada que pudesse prejudicar sua beleza, na verdade eu achava isso tão impossível. Ele me entregou uma das xícaras de chocolate quente e se encostou na cadeira observando a mesma árvore que antes eu encarava.

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⏰ Última atualização: Dec 16, 2020 ⏰

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