•| Capítulo 3 - Lua Cheia.

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Shay, a psicóloga, abriu a porta e fez-me sinal para eu poder entrar. Levantei-me e entrei no gabinete dela. Sentei-me na cadeira à frente da sua secretária, tirei os fones e fiquei a olhar para ela esperando que ela me fizesse as mesmas perguntas de sempre.

— Chloe, como estás hoje? - ela pergunta. Parece estar de bom humor hoje.
— Hoje estou sentada tal como em todas as outras consultas.
— Não sejas assim, quero que respondas como eu quero.
— Mas eu faço o que eu quero e não o que tu queres.
— Aqui quem manda sou eu.
— És minha psicóloga e não minha mãe.
— Quando estás em casa de outra pessoa também fazes o que tu queres em vez de fazeres o que te pedem?
— Não. Faço o que me pedem. Tu não pediste.
— Chloe, podes responder-me como uma adulta e não como uma criança de 5 anos? - ela pergunta já quase sem paciência para me aturar.
— Hm... Não.
— E continuas. Já vi que hoje não dá para falar contigo.
— Alguma vez deu?
— Sim. Já tivemos boas conversas, mas depois tens dias em que nem por isso.
— Peço desculpa mas é noite de lua cheia.
— Tu mudas de humor conforme as luas?
— Já te tinha dito isso, se não prestas-te atenção não tenho culpa.
— Está bem. A consulta de hoje já acabou. Podes ir.
— Está bem. Até amanhã.
— Até amanhã.

Não respondo e saio do gabinete. Eu hoje não tenho paciência para nada. Coloco de novo os fones e sigo o caminho para casa.
Chego a casa e nem quero acreditar. As minhas queridas melhores amigas meteram-se a tentar convencer os meus pais para poder ir com elas ao concerto.

— Vá lá, deixe-a vir connosco. - pede a Katherine.
— Ela tem que estudar. Ela não pode ir. Peço desculpa meninas. - responde o meu pai.
— Mas nós já não temos mais testes este período.
— Não interessa. Ela tem que ficar a estudar.
— Mas se não temos teste porque é que ela tem que ficar a estudar? - pergunta desta vez a Christianna.
— Porque não se pode esquecer da matéria. Vocês sabem que não me importo que ela saia à tarde, mas à noite não pode ser.
— Porquê?
— Eu não quero ir com vocês! - digo já irritada.
— Porquê? - pergunta a Katherine.
— Não quero. Eu adoro-vos às duas, mas não gosto dos rapazes.
— Faz o que quiseres. Eles tentam dar-se bem contigo, mas tu afastas-os sempre. - diz a Christianna.
— Talvez seja porque não gosto nem quero gostar deles.
— Porquê? - pergunta a Katherine.
— Não quero! - digo quase fora de mim.

Pela cara delas, os meus olhos devem de estar lindos. Normalmente quando assim fico, os meus olhos tornam-se pretos na irís e vermelhos por fora, se não sangrar. As minhas veias parecem querer explodir e até a minha voz fica mais grossa.
Quando disse que sou um monstro, não estava a brincar, até porque eu nunca brinco.

— Vão embora e deixem-me em paz!
— Chloe... O que é que tu tens? Tens os olhos negros... - diz a Katherine.
— E estás a sangrar do nariz. Vai ver isso. - diz a Christianna.
— Irritei-me. Posso? Agora vão divertir-se e deixei-me a estudar.

Viro-me e subo as escadas a correr. Entro e fecho a porta do quarto violentamente. São 19:23. A lua cheia já se vê e já está a começar a fazer efeito.
Dou vários murros e pontapés no saco de boxe que tenho pendurado na parede. Foi prenda de natal por parte dos meus pais à talvez 3 anos atrás. Eu tinha hábito de esmurrar as paredes por isso eles acharam que seria melhor ter um saco de boxe e umas luvas para poder descarregar as minhas energias, mas as luvas eu nunca as usei.
Cada vez dou mais murros naquele saco e não sinto dores nenhumas nas mãos, tal como nunca senti. Mas cada vez tenho mais vontade de esmurrar o saco. Não me consigo fartar.
Jantei e voltei para o quarto. Ainda tento estudar mas agora sim, sinto-me bastante cansada por isso vou dormir.
Adormeço.

— Deixa-me em paaaaaaz! Deixa-me! Deixa-me!
— Não deixo. Eu gosto de me agarrar a ti, gosto de me apoderar de ti e nunca deixarei de o fazer.
— Mas eu não quero que o faças!
— Mas não és tu que decides o que eu faço.
— LARGA-MEEEE!
— Quem manda sou eu.
— Mas o corpo é meu!
— Mas quem manda nele sou eu, quer tu queiras quer não.

Acordo com o pesadelo. Estou a transpirar e deitada no chão do quarto. Levanto-me e volto a deitar-me para dormir.

INSANE: The Murderer [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora