•| Capítulo 52 - Eu não o matei.

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Chloe

Acordo com um coelho a cheirar-me a cara. Com o salto que dei assustei o pobre animal que fugiu logo de mim. Olho em volta e não vejo nada.
Será que sonhei? Será que tive mais um ataque e vim para aqui? Ou será que o que me lembro foi tudo real? Eu matei mesmo alguém? Eu matei o meu namorado? Não pode.
Levanto-me de vagar pois estou cheia de dores no corpo todo.
Preciso de comer e de beber alguma coisa, mas não posso ir para casa. Eu não sei bem o que se passou, por isso não posso arriscar.
Caminho durante algum tempo até encontrar uma cascata com um poço na parte de baixo - ao nível a que eu me encontrava - onde vi um casal a brincar na água. Havia uma toalha com um cesto que parecia estar cheio de comida a 6 metros de mim. Estou cheia de fome por isso tem que ser. Aproximei-me da toalha tentando não fazer barulho. Agarro na cesta e começo a correr conseguindo ainda ouvir o casal a mandar vir.
Paro de correr uns bons metros longe do poço passando a andar mais de vagar. Vejo a casa do Harry mesmo à minha frente. Já aqui estou? Mas eu andei aqui às voltas? Tento entrar sem fazer barulho e vejo apenas o diller no chão. Onde estão os restantes? Onde é que está o Harry?
Saio de novo dali e continuo a andar à procura de um sítio onde me pudesse sentar para comer, mas não encontro nada.
Quando desisto ouço vozes uns metros mais à frente. Apercebo-me logo que não é o casal a quem roubei a cesta, mas sim duas pessoas conhecidas. Christianna e Harry. Harry?

— Achava que te tinha perdido.
— Achavas?
— Sim. Não te lembras?
— Foi a Chloe, não foi?
— Não sei, eu já não estava lá, tinha fugido.
— Foi ela foi. Eu lembro-me de a ver a agarrar-me pelo pescoço, mas depois não me lembro de mais, só de acordar e de tu estares a dormir ao meu colo.
— Eu fugi e pensei que tinha que voltar para trás, mas quando voltei vi a Chloe no chão toda enrolada e a outra rapariga a dar-lhe pontapés.
— A sério? E onde é que ela está?
— A rapariga não sei, mas a Chloe fugiu. Eu agarrei num tronco e acertei na cabeça da outra. O que é que ela estava a fazer ao teu colo?
— A outra é a Alessandra. Eu estava a pedir-lhe ajuda numa coisa e ela só estava a ajudar. Achas mesmo que eu ia traír a Chloe? Ainda por cima com o namorado da Alessa ao meu lado?
— Não, não acho.
— Ela acordou depois de eu te deitar na cama. Ela não se lembrava de nada e eu disse-lhe que foram três encapuzados que lá entraram e mataram o Malik.
— E ela acreditou?
— Sim. Ela queria que chamasse-mos a polícia, mas eu disse-lhe que não podíamos até porque a casa não é mesmo minha e nós podíamos ser presos por estarmos lá dentro. Ainda por cima o rapaz já estava morto não havia nada a fazer a não ser encontrar quem o matou. Ela não vai conseguir descobrir que foi a Chloe, só se ela se lembrar de tudo.
— Pois, espero que não. A Chloe disse-me que também ficas assim naquele estado se te irritares, mas tu não estavas assim. Ela também disse que isto é porque cresceram com um demónio no corpo. É verdade?
— Sim. Só não entendo como é que eu estive tão perto de me passar e não consegui. Ela é mais forte do que eu. Só queria arranjar uma solução e acabar com isto de vez. Eu estou farto disto, eu não mereço e ela também não. E tu já me viste assim, quando quase matei o nosso pai.
— Pois, é verdade. E não, vocês não merecem isto, aquela não era a minha Chloe. Eu vou conseguir uma solução.
— Como?
— Com a ajuda da Katherine, mas vou conseguir.
— Mas como? Vais contar-lhe?
— Não sei se é melhor contar ou não, mas eu percebo bastante de computadores e ela é uma craque em livros. Eu posso procurar na internet se encontro algo sobre isso e ela pode procurar nos livros. O meu problema é que não sei se a convenço a fazer isso sem lhe explicar o que se passa.
— Conta-lhe. Diz que é por causa de mim. Não digas que a Chloe tem o mesmo problema que eu. Diz só que eu preciso de saber como deixar de ser assim.
— Está bem. Vou começar a pesquisar quando chegar a casa. Por falar nisso, onde é que vais dormir esta noite?
— Não sei se vou conseguir dormir. Vou procurar a Chloe. Eu preciso de saber onde é que ela anda e preciso de saber se ela está bem. Ela precisa de mim e eu preciso dela.
— Está bem. Diz-me algo se a encontrares e se não a encontrares também pois sendo assim vais lá dormir a casa.
— Eu não vou...
— Vais e acabou a conversa. Não vais voltar a entrar naquela cabana, não vais dormir na rua, e sem a Chloe também não dormes em casa dela. O pai não está lá em casa por isso não tem mal nenhum.
— Está bem.
— Bem, eu vou já que já é muito tarde. Vou falar com a Katherine e arranjar uma solução para vocês. Vocês têm que conseguir ser realmente felizes como duas pessoas normais. Eu amo-vos bastante e só quero o melhor para vocês.

Eles despedem-se e ela leva as coisas dele. Ele começa a andar na minha direção, mas escondo-me, não quero que ele me veja, não agora.
Ele passa por mim e só de sentir o seu cheiro já me sinto feliz. Ele está bem. Eu não o matei. Ele está vivo.
Vejo-o parar e olhar para trás, por isso escondo-me. Acho que estou a fazer barulho ao segui-lo. Ele volta a olhar para a frente e continua a caminhar tal como eu continuo a segui-lo. Pouco depois pára e volta a fazer o mesmo. Quando o faz pela terceira vez chama por mim.

— Chloe? Chloe? Se és tu aparece, eu preciso de falar contigo.

Engulo seco, respiro fundo e avanço para ele me poder ver. Ele olha para mim, mas eu não consigo olhar para ele. O que eu fiz foi horrível. Eu matei uma pessoa que não me fez nada e quase matei o meu namorado.

— Chloe. Onde é que te meteste? Deixaste-me preocupado. - ele diz aproximando-se de mim, mas afasto-me - O que é que de passa?
— Eu quase que te matei. Eu quase matei a única pessoa que foi capaz de me amar e a única pessoa que amei em toda a vida. Eu sou um monstro. Tu não, mas eu sou um monstro.

INSANE: The Murderer [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora