•| Capítulo 22 - Ele morreu de overdose.

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Segunda-Feira, 14 de Dezembro de 2015

Saio das aulas e coloco os fones nos ouvidos como companhia para casa.
Já entrei na universidade. Mesmo com tudo o que se passou, eu consegui.
Cheguei a casa e fui almoçar, na companhia de ambos os meus pais. Ando a tirar a carta, e como não tenho aulas à tarde hoje tenho aula de condução, pois já passei no código. Vinham-me buscar às 15h por isso despachei-me para estar pronta a tempo.
Ouço buzinar, por isso, pego na carteira e saio de casa. Entro na parte de trás do carro pois à frente ia um colega meu de curso, Dre, e ao meu lado está um rapaz que não conheço e uma rapariga, a Christianna.
No fim da aula, deixam-me em casa mas a Chris sai comigo.

- Como é que estás?
- Em pé. - respondo sem olhar para ela.
- Sempre engraçada. Conseguiste entrar na universidade?
- Ya.
- Ainda bem. No curso que querias?
- Ya.
- Que sorte. Eu não e estou num curso que é uma merda. Tens falado com o Luke?
- Ya.
- E estais fixes?
- Ya.
- Podes deixar de me responder "Ya"?
- Sim.
- Eu só queria que fizessemos as pazes. Nunca deixámos que nada nos separa-se e acontece isto? Eu ainda não percebi porque é que nos deixámos de falar.
- Pois.
- Foi por causa do Harry? Tu sabes que eu só queria provocar ciúmes ao Luke. E tu tinhas dito que não sentias nada por ele. Não aconteceu nada entre nós. Só estivemos juntos umas 5 vezes, ele queria conhecer-te melhor.
- A sério? Mas, para de falar nele. Eu não quero saber desse puto mimado para nada.
- Tudo bem. Então se houvesse algo entre nós não te irias importar, certo?
- Não. Mas tu tens visto esse dred?
- Nem por isso. Já não o vejo à uns três meses.
- Três meses?
- Sim, porquê?
- Nada. Faz bom proveito.

Abri a porta de casa, entrei e fechei a mesma. Suspiro enquanto me lembro dos seus olhos verdes. Caminho até à sala onde está a minha mãe a ler um livro.

- Mãe?
- Oh, olá querida. Então, como é que correu?
- Tirando a parte em que a Christianna também foi e que me esteve a chatiar aqui à porta de casa os últimos 10 minutos... bem.
- Como é que ela te esteve a chatear? Vocês são as melhores amigas.
- Só que não mãe, só que não.
- Porquê?
- Ela não se devia de ter metido com quem se meteu.
- Não me digas que te roubou o moço. - diz o meu pai ao entrar na sala.
- Que moço?
- Ninguém mãe.
- Então mas tu e o Harry estavam juntos.
- O moço que aqui dormiu? - pergunta a minha mãe.
- Não estávamos não. Éramos apenas amigos ou só mesmo conhecidos graças à psicóloga. E graças a ele ter bazado tenho que voltar a ter aquelas consultas. E pai, não fales mais nele, já te tinha pedido isso.
- Mas vocês estavam tão bem juntos. Ele deixava-te bem e não tinhas ataques quando ele estava contigo. Eu não sei o que se passou, mas vocês pertencem-se e precisam um do outro, por isso vocês vão ficar juntos, têm que ficar juntos.
- Achas mesmo? O que é que estou a dizer? Eu não quero saber dele para nada.

Corro para o quarto e fecho a porta. Atiro a carteira para cima do pequeno sofá em conjunto com o casaco e deito-me em cima da cama de barriga virada para cima a mirar o teto branco. Sinto os meus olhos a ficarem pesados com o passar do tempo e acabo por me deixar levar pelo sono.

- Chloe! Levanta-te! Faltam 5 para as 19h! Vais chegar atrasada à consulta!
- Ai mãe, calma. Eu vou chegar e vou ficar à espera dela.

Levanto-me e vou até ao quarto de banho passar água pelo meu rosto. Depois de o secar, vou até ao quarto, visto o casaco, pego na carteira e saio de casa seguindo caminho para o psicólogo.

- Podes tirar os fones?
- Tem calma, Shay. Eu acordei à pouco tem que ser com calma.
- Tudo bem. Como é que tens estado?
- Normal.
- Define-me o que queres dizer com normal.
- Como estou todos os dias.
- Mas como é que estás todos os dias?
- Sentada nesta cadeira a responder às tuas perguntas e sempre a observar aquele relógio rezando para que o tempo passe rápido.
- Gostei da tua resposta.
- Porquê?
- Porque vejo que mudaste. Antigamente irias dizer antes assim: sentada na puta desta cadeira a responder à merda das tuas perguntas estúpidas e sempre a observar a porcaria daquele relógio rezando para que o caralho do tempo passe rápido.
- A sério? - rio com o que ela disse.
- Sim, a sério. Acho que mereces passar a ficar em casa a esta hora.
- Como assim?
- Não precisas de voltar todos os dias. Mas convém fazer consulta de rotina, de 3 em 3 meses até ter a certeza de que não precisas mesmo mais de mim.
- Obrigada Shay. A sério. Por tudo o que aturaste da minha parte. Foste bastante paciente comigo.
- Estou aqui para te ajudar. Se precisares de cá vir não tenhas receio, vem.
- Tudo bem, obrigada.
- Só mais uma coisa.
- O quê?
- Tens visto o Harry?
- Mas toda a gente me fala desse estupor?
- Então?
- Ele deixou-me do nada porque lhe disse que não o queria voltar a ver depois do que ele me fez. E assim sendo, já não o vejo há mais de um ano. Mas toda a gente me fala sobre ele. Até parece que não o posso esquecer.
- Chloe, tu com isso queres dizer que conseguiste desenvolver sentimentos românticos por ele?
- Sim... Eu achava mesmo que era recíproco, mas pelo vistos não.
- Se calhar era, e por isso ele fez o que pediste. Põe-te no lugar dele e pensa no que farias. Se o vires dá-lhe uma oportunidade. Não te esqueças que nunca sentiste isso por ninguém para alem dele.
- Não sei se o voltarei a ver. Nem avisou que ia partir. Ao menos podia ter tido que com o que eu disse que ia embora daqui.
- Pois não sei. Ele nunca mais cá apareceu. Eu nunca mais o vi. Mas digo-te que não era minha intenção que vocês começassem uma relação amorosa, apenas achei que se iriam dar bem, mas pelos vistos funcionou ainda melhor. Apesar de agora não estarem bem, funcionou. Se está destinado a ficarem juntos, os vossos caminhos irão cruzar de novo. Nem que seja daqui a uns anos que tu te mudes ou que ele venha cá visitar alguém e se encontrem no café.
- Desculpa, mas tenho que atender esta chamada. - digo depois de ouvir o telemóvel tocar e de ver quem era.
- Sim, força.
- Estou? Calum?
- Des-s-sculpa Chloe, masss preciso de-de ir t-t-ter contigo.
- Estás a chorar? Calum, o que é que se passou? O que é que o Mike fez?
- Ele mmm-morreu.

Sexta-Feira, 18 de Dezembro de 2015

Acabei agora de me arranjar. Preto será a cor dominante para o dia de hoje. É o funeral do Michael. Só podia dar nisto. Eu fartei-me de avisar tanto o Mike como o Calum, mas nem um nem o outro me deu ouvidos. Ele andava viciado de todo. Deviam de o ter ajudado quando poderam. Morreu à 4 dias atrás, em casa, de overdose, com 20 anos. Tão novo e ainda por cima uma morte destas. Sem motivos para fazer o que andava a fazer. O Calum ligou-me depois de ligar para o 112, pois chegou a casa e encontou o rapaz no sofá da sala já sem vida. Tinha ido ver do jantar, pizza, a comida preferida do Mike, mas não chegou a tempo de fazer a sua última refeição com ele. Pelos vistos já não comia nada à quase uma semana e mal se viam ultimamente. A relação deles já não era a mesma há mais de 2 anos e meio. Desde que o Mike decidiu começar a consumir, sem motivo aparente. Eram tão felizes. Eu não entendo, ninguém sabe explicar porquê, nem o Calum.
Junto ao smoking dele, tinha uma carta que dizia o seguinte:

"Querido Calum,

Para estares a mexer neste fato, é porque já parti. Sei como tu gostas de me ver nele e por isso mesmo é que guardei esta carta junto a ele.

Quero apenas pedir-te desculpa por ter sido tão estúpido durante todo o tempo que passou. Sempre quis ser a melhor pessoa do mundo, mas nem para ti consegui ser o melhor. Sei que fizeste tudo por mim, mas eu consegui ser mais teimoso que tu e o amor não foi suficiente pois já estava a bater lá no fundo.

Não morri feliz, não, mas estou feliz agora, e estarei sempre pois irei estar sempre a teu lado quer precises de mim ou não. Irei estar sempre a olhar por ti. És o melhor do mundo.

Recorda apenas todos os momentos felizes que passaste comigo pois serão esses os momentos que levarei comigo para onde quer que eu vá.

Amote daqui até à próxima galáxia infinitas vezes.

Um grande beijo e um enorme abraço com muito carinho...

Mike ♥"

É muito triste ler isto e passar o que o Calum e os pais do Mike estão a passar, mas a vida é mesmo assim. Todos nascemos um dia, mas todos crescemos sabendo que iremos morrer seja hoje ou amanhã. Uns têm medo desse dia, outros já não e muitos já enfrentaram a morte estando ainda por cá.

INSANE: The Murderer [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora