•| Capítulo 51 - Três encapuzados.

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Eu matei um rapaz que nunca conheci e agora a namorada está destroçada. Pior que isso, eu matei o meu namorado. A única pessoa por quem eu me apaixonei. A única pessoa que se apaixonou por mim.
Beijo a testa do meu namorado, com o meu rosto ainda lavado em lágrimas. Levanto-me e saio daquele espaço. Corro o mais depressa possível entre as grandes árvores da floresta.
Exausta de tudo, deixo o meu corpo cair no chão, em cima de pedras, terra e troncos de árvores. Começa a chover, mas não me interessa. Eu não mereço viver. Eu já o sabia, mas agora tenho a certeza.

Christianna

A minha melhor amiga tem as suas mãos à volta do pescoço do rapaz que matou o Mike. Ele merece aquilo, mas ela não.
E o estado em que ela estava? Não era a minha melhor amiga. Não pode. A Chloe não é assim. Ou será que é? Não. Só posso estar com alucinações. Não pode ser a realidade.
Tento fugir daquele sítio e esquecer o que vi, mas não consigo. O rosto da Chloe não me sai da cabeça. A fúria nos seus olhos que estavam negros como nunca vira. As suas veias que pareciam querer saltar do seu corpo. Não posso deixar que isto continue.
Agarro num tronco e corro de novo para dentro da casa velha. Mas o que é que se passou aqui? O rapaz está estendido no chão. O meu irmão está estendido no chão. A minha melhor amiga está a ser pontapeada por esta vaca.
Sem pensar muito nisso, elevo o tronco e acerto com ele na cabeça da rapariga que cai no chão.

— O que é que se passou?
— O que é que se passou pergunto eu. Porque é que mataste o rapaz? Eu sei que foi por causa dele que o Mike morreu, mas o que foi aquilo? Porque raio é que estavas como estavas? O que é que foi aquilo Chloe?
— Não era eu. Chris, eu nunca vos contei porque vocês não iriam compreender e iriam afastar-se de mim. Eu nasci com um demónio no corpo. Era por isso que tinha psicólogo. Era por isso que não saía à noite, por causa dos ataques.
— O quê?
— As únicas pessoas que sabiam eram os meus pais e o Harry que é igual.
— Eu vi-te a ti assim e não ao Harry.
— Mas é verdade. É por isso que somos feitos um para o outro e ele não pode morrer. Não pode!
— O que é que tu fizeste??

Ela matou o meu irmão.
Ela agarra-se ao namorado de novo a chorar. Beija-o e sai dali.
Eu queria ir atrás dela, mas o meu irmão está aqui no chão sem batimento cardíaco. Ela está bem e o meu irmão não.
Eu não sou experiente nisto até porque não estou a tirar o curso de medicina, mas sim de design multimédia, não tenho curso de primeiros socorros nem sou bombeira, por isso faço como sempre me disseram para fazer. Por cima da camisola apalpo o seu tronco para encontrar o tórax do moreno. Coloco a base da mão direita no centro do tórax dele e a outra por cima, entrelaço os desdos e exerço pressão 4 a 5 centímetros directamente para baixo. Executo 30 compressões torácicas desta forma, a um ritmo de cerca de 100 compressões por minuto. Há coisas que se aprendem na escola e até mesmo na internet. Continuo a comprimir mas começo a dar conta de que só me estou a cansar e ele não irá voltar.
E agora? O que é que eu faço? Tenho dois mortos à minha frente e uma inconsciente, ou pelo menos assim espero. O que é que eu devo de fazer? Fugir? Não me parece.
Encosto-me ao meu irmão a chorar e acabo por adormecer.

Harry

Sinto claridade a penetrar as pálpebras dos meus olhos verdes e abro os mesmo. Tenho a Chris a dormir ao meu colo, o Zayn morto deitado no chão e a Alessandra também no chão, será que também está morta?
Sinto o meu corpo leve, demasiado leve e só por isso sinto-me bem, pois sinto um enorme aperto no pescoço.
Pego na minha irmã ao colo e deito-a na minha cama.
Quando volto à sala a Alessa já está acordada, mas parece confusa.

— O que é que se passou?
— Não te lembras?
— Não.
— De nada?
— Nada de nada. Só me lembro de estarmos aqui os três na boa. O que é que se passou?
— Chegaram aqui três encapuzados e mataram o Zayn com as próprias mãos. Diziam que queriam que ele sofresse por ser um canalha.
— O quê? O Zayn tá morto?
— Sim.
— Oh meu deus. ZAYN! - a morena agarra-se ao namorado a chorar - Temos que ir à polícia.
— Não podemos.
— Porquê?
— Porque esta casa não é mesmo minha. Eu vou-me lixar por causa disso. Isto deve de ser propriedade de alguém.
— Mas temos que fazer alguma coisa.
— Não podemos. Já não vale de nada. A única coisa que podemos fazer é encontrar quem fez isto.
— Tens razão.
— Não sei é como é que fazemos com os pais dele.
— Os pais dele não querem saber dele. Nem vale a pena tentar. Se os pais quisessem saber ele não morava onde mora.
— Nisso tens razão.
— Ainda por cima não trabalha. As únicas pessoas que vão dar por falta dele são os seus compradores porque nem amigos tem. Os únicos somos nós e o Liam, mas ao Liam podemos dizer o que se passou.
— Sim, é verdade. E como é que fazemos com o corpo dele?
— É melhor deixar e não mexer-mos. Se a polícia o encontrar podemos ser acusados de homicídio por lhe termos mexido e não termos dito nada a ninguém.
— Eu não consigo ficar aqui. Eu tenho que ir.
— Está bem. Mas primeiro vem cá.

Reparei que estava com receio de se aproximar de mim, mas quando estava já próxima o suficiente abracei-a.

— Se precisares de alguma coisa fala comigo.
— Obrigada.

Beijei a sua testa e ela saiu dali.
Agarrei num saco e coloquei tudo o que lá tinha meu. Fui até ao quarto e peguei na minha irmã e saí dali.
Andei durante algum tempo com ela, à procura de uma outra casa, mas não encontrei nada e os meus braços já doíam com o peso do saco e com o da morena ao meu colo. Sentei-me no chão e coloquei um casaco por baixo da sua cabeça para pelo menos não sujar nem aleijar a mesma. Nem sei como é que não acordou.
Olhei em volta e não havia nada para além de árvores, troncos, pedras e plantas. Só quero aqui ficar até ela acordar. Espero que não demore muito.
Sabes o que é que eu fazia agora? Fumava um cigarro, ou melhor ainda, um charro. Agora é que me sabia maravilhosamente bem.
Ao menos a Alessandra esqueceu-se de tudo e espero que não se lembre. Assim, é uma ajuda para a Chloe. Quanto à Chris eu sei que ela nos irá ajudar. É minha irmã e é como uma irmã para a Chloe. Vamos a ver.

— Harry?

Dois braços envolvem o meu corpo apertando-o contra o corpo dela. Ela chorava e chorava, de alegria como é óbvio. Porquê?

INSANE: The Murderer [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora