•| Capítulo 38 - Bruta como eu.

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Harry

Tenho a minha cabeça a mil. Não sei o que fazer com as coisas que se têm passado. Cada vez tenho mais a certeza de que a única coisa positiva que tenho na minha vida é a Chloe. Não tenho amigos, não tenho pai - para mim ele está morto - nem mãe, não tenho uma vida segura, não tenho emprego, nem tenho uma casa, não tenho comida e para melhorar sou um monstro. Se não fosse por ela eu não estava aqui. Provavelmente estaria num outro lugar depois de matar toda a gente aqui ou então estaria morto. Foi desde aquele dia que eu acalmei. Foi desde aquele dia que me senti seguro só de olhar para alguém. Foi na consulta diária com a psicóloga - que mais uma vez o meu pai me obrigou a frequentar depois de me encontrar na rua, apesar de me ter feito bem - que a conheci.

Domingo, 7 de Dezembro de 2014

Como é Domingo, a consulta é mais tarde do que o normal, ou seja, é às 18h, coisa que em dias de semana é às 16h, mas mesmo assim hoje é um caso diferente. A minha psicóloga decidiu que hoje tinha que ser às 19h porque não tinha conseguido avisar a pessoa com quem vamos estar. Quem é essa pessoa? Não faço puto. Se é macho ou fêmea? Não faço puto.
Graças a isso tive 1 hora na sala de espera a ver televisão.
A psicóloga mandou-me - finalmente - entrar e sentar-me na cadeira em frente à sua secretária como sempre fizera.

— Então é o seguinte, hoje vais conhecer alguém com a mesma doença que tu para poderem tentar fazer amizade e acalmarem-se um ao outro. Vão deixar de ter consulta comigo, mas têm que passar o tempo da consulta juntos.
— Mas eu não quero.
— Eu falei com o teu pai e ele concordou. Não há volta a dar.
— Até parece que sou uma criança. Esse palerma nunca quis saber de mim. Agora é que tenta? Agora já vai tarde.
— Acalma-te. Vamos esperar só mais um pouco, ela deve de estar a chegar. Ela costuma ser bem pontual.

Ainda tenho que esperar mais? Tão mas esta está a gozar comigo só pode. O que lhe vale é que eu fiz-me prometer a mim mesmo - ou melhor, a minha mãe fez-me prometer - nunca bater em mulheres porque se não fosse isso, ela já estava debaixo do chão à muito tempo. Ao menos já sei que estou à espera de uma fêmea e que não a vou poder partir em bocados por me fazer esperar este tempo todo.
Do nada e sem nada dizer, a psicóloga sai do gabinete apesar de voltar pouco tempo depois, ela foi mal educada.
Dei conta que já estava acompanhada e por isso mesmo fiquei de boca calada. Dei conta de que alguém se sentou na cadeira ao meu lado, mas nem me esforcei a olhar para essa mesma pessoa.

— Chloe, a partir de agora na hora da nossa sessão não terás que vir cá. Terás que estar essa hora com este rapaz, onde vocês quiserem. Mas ao sábado encontramo-nos aqui à mesma hora.
— Quem disse que eu queria fazer assim?
— Já te disse que não é como tu queres, é como eu acho que é melhor para vocês.
— Mas quem paga são os meus pais.
— E eu falei com os teus pais antes de tomar a decisão e eles acharam que te faria bem, visto que não te dás com rapazes.
— Então eu irei falar com os meus pais para que isto não seja assim.
— Finalmente alguém que acha o mesmo que eu!

Finalmente tenho alguém a apoiar-me mesmo sem saber. Alguém que partilha a mesma opinião que eu. Ao responder olhei diretamente para a cara dela e foi aí que vi o quanto ela é linda. Os nossos olhares cruzaram-se, e se querem que vos diga, só ódio mais nada.

— O que vale é que não me falta muito para fazer os 18 e depois disso...
— Não é por fazeres 18 que isso irá mudar. Eu tenho 20 e ainda aqui ando porque o meu pai me obriga.
— Porque é que não fazes aquilo que queres visto já seres maior de idade?
— Porque o meu problema não irá mudar com o facto de ser maior de idade ou não.
— Então como é que irá mudar?
— Não faço ideia.
— Estou a gostar. Estão a comunicar. Agora podem continuar, mas noutro sítio.

E assim nos despachou mais uma vez. A Chloe levantou-se num instante e saiu do estabelecimento. Pouco depois saí eu também indo atrás dela. Eu tenho que falar com ela novamente. Toco nas suas costas para que esta se vira-se para mim.

— Desculpa incomodar, mas era só para dizer que o meu nome é Harry. Visto que já sabia o teu, achei que deverias saber o meu. Assim podemos dizer à psicóloga que estamos juntos sem termos que estar, visto que eu odeio ter que aturar pessoas que não conheço de lado nenhum e tu pelos vistos achas o mesmo. Por isso já sabemos idade e nome um do outro, o resto é só inventar caso ela pergunte alguma coisa. Quando ela nos perguntar se nos encontramos diz que sim e que é no parque.
— Está bem. Pensei que querias mesmo fazer isto.
— Não. Tenho mais que fazer do que aturar-te.
— Boa, porque eu também não tenho paciência para putos que se acham grandes.
Puto? Estás-me a chamar de puto? Eu sou mais velho que tu, não te atrevas a chamar-me isso outra vez. - sinto o sangue nas minhas veias a correr lentamente, ou seja, estou a ficar irritado.
— Não é por seres mais velho que eu que me podes faltar ao respeito e não levar resposta.
— E tu não é por seres rapariga que não apanhas um par de estalos.
— E tu não é por seres rapaz que eu tenho medo de ti.

Virou-me as costas e continuou o seu caminho. Eu não sei, mas até gosto o facto de não gostar nada dela e ela nutrir o mesmo sentimento por mim, pois não é normal. Gosto do facto de ela ser bruta tal como eu. E aquele rabo? Ai mãe.

Segunda Feira, 9 de Maio de 2016

Como eu gosto daquela garota desde o primeiro dia em que a vi. Foi tão bruta, tão sexy. Agora é tudo para mim. Por ela deixo tudo e faço tudo. Só quero o melhor para ela e o resto que se foda como sempre me foderam.
Sinto duas mãos taparem a minha vista e o meu instinto é deitar essa pessoa ao chão, mas respiro fundo conseguindo reconhecer o cheiro do seu perfume.

INSANE: The Murderer [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora