Capítulo 81

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                               Capítulo 81

                                   Gregory

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       Mesmo a porta estando aberta, seja lá quem entra no quarto a faz bater contra a parede em um estalo alto. Dois corpos me empurram, falando algo que não compreendo. Meus olhos ainda estão fixos no homem praticamente azul sem oxigênio, que a poucos minutos atrás era o único à minha frente. Tenho para mim que tudo que aqui se faz, aqui se paga. Não duvido que se estivéssemos em lugares opostos, ele teria feito a mesma coisa, se não pior. Provavelmente me encheria com suas merdas de palavras como sempre fez... Até me ver partir dessa para melhor. Um grito me faz sair de seja lá aonde meu corpo vagava. Minha atenção se fixa em Grover com o semblante mais sério que já vi em seu rosto até hoje. Demoro poucos segundos para perceber que meu irmão está fazendo massagem cardíaca em nosso... No cara que nos doou esperma e Gabriel clica desesperado em diversos botões na máquina ao outro lado da cama.

— GREGORY! CHAME A EMERGÊNCIA, AGORA! — Grover volta a gritar, me tirando de vez do torpor que eu estava.

      Seu semblante me lembra o dia em que sai de casa e fui morar com ele e sua família. Foi logo depois que acertei meu primeiro e glorioso soco na cara do homem que ele está tentando reanimar. Meu irmão me acolheu de braços abertos naquela tarde, mesmo não tendo gostado da minha atitude e mais pra frente me ajudou com a escolha da minha faculdade. No entanto agora, no seu rosto há uma mistura de medo, fúria e nervosismo. Não o culpo, ele gosta do bastardo que temos que chamar de pai.

— Tá — procuro meu celular e quando não o encontro em meus bolsos xingo olhando ao redor do quarto.

      Por algum lugar, nesse enorme cômodo sei que há algum tipo de botão vermelho. Aquele tipo de botão que só há em casas com pessoas entre a vida e a morte. Quando o encontro, caminho até ele e o aperto, a luz em cima dele pisca e deduzo que a emergência já foi acionada. Olho para meus irmãos e Gabriel rosna um; "Qual é?" dando um tapa forte na máquina que está o respondendo com repetidos bipes chatos.

— GABRIEL, ANDA COM ISSO PORRA! — Grover rosna agora para nosso irmão e Gabriel o responde com um; "Vai se foder" tão nervoso quanto Grover, enquanto continuava a tentar fazer a máquina voltar a funcionar.

      Os próximos segundos são passados em um up rápido. Mal 5 minutos haviam se passado, após eu ter apertado o botão e um pilotão de paramédicos já haviam chego no quarto. Eles tomaram a rédea da situação e nos afastaram de perto do homem, que estava em um estado de não-morto e vivo. Mesmo com a equipe ali, nenhum de nós saímos, pelo contrário, Mary, Alise, Gail e Gretta aparecem no quarto também e minha mãe cai no choro tendo que ser acalmada por Gretta, pois era a única entre nós que não estava a par das emoções de família. Não que eu esteja. Porque não estava. Na verdade não estou sentindo nada... Uma rápida olhada no rosto de cada um aqui presente é o suficiente para comprovar o que pensava; sou o único que não está se deixando levar por emoções, sou o único que está sem qualquer expressão. Quando os paramédicos conseguem regular os batimentos cardíacos e a quantidade adequada de oxigênio para o homem desacordado sobre o colchão, percebo o olhar de Grover em mim e viro meu rosto para encara-lo igualmente.

— Por que estava tão calmo quando entramos? Por que ainda está tão calmo? Por que não nos chamou assim que o viu sufocar? — Grover se vira e sua raiva era nítida tanto em sua voz, quanto em seu semblante — Por que caralhos você não fez nada? — meu irmão mais velho para poucos centímetros à minha frente e tenho certeza que se nossa mãe já não estivesse no estado que está, nós dois já teríamos caído nesse chão rolando em socos.

— Porque pensei que era algo passageiro — minto mantendo a calma, não quero lhe dizer a verdade, porque ela me faz ter vergonha de mim mesmo por algum motivo.

— Mentiroso — Grover cospe as palavras e se vira saindo do quarto.

     Respiro fundo resolvendo deixar por isso mesmo. As palavras do homem desacordado na cama ainda são vividas na minha mente e não quero me deixar agir na emoção com Grover. Ele mesmo não quer fazer o que está fazendo, porquê Grover sabe bem a resposta para sua pergunta. Só queria ter certeza. Ele sabe o quanto odeio o bastardo e o quanto o bastando me odeia. No entanto, assim como ele, agora, sinto raiva de mim mesmo por não ter feito absolutamente nada em relação ao vê-lo sufocar. Eu poderia ter feito algo, ter sido superior. Meus olhos vão em direção a minha mãe e Gretta. A loira abraça minha mãe tentando acalma-la, mas seus olhos azuis estão presos em mim, como se me dissesse que teríamos que conservar sobre aquilo. Essa ideia me faz desejar que essa merda de cena continue, só para não ter que tentar explicar à garota que amo que; simplesmente parei de agir e pensar, enquanto aquelas malditas palavras rodavam minha cabeça.

— Quase que ele se foi — Gabriel lança uma brincadeira rindo sem humor, claramente tentando animar o ânimo de todos ali.

Tanto eu, quanto Gail encaramos ele antes de eu me virar e sair dali. Não sei o que cada um fará agora, mas ficar ali paparicando ele, é o que eu não farei. Entro no meu antigo quarto e bato a porta com força. Minhas mãos se abrem e fecham, enquanto caminho de um lado para o outro, no curto espaço sobrando naquele maldito quarto. As palavras dele começam a se repetir, dezenas de vezes na minha cabeça e em um certo momento chego a considerar beber até não me lembrar do meu próprio nome, para não ter que lembrar dessas merdas que ele havia dito também. Porra. Ótimo. Gretta chorando pela bastarda da sua mãe, eu enlouquecendo porque a porra do meu "pai" quis ser um... Pai? Isso não poderia ficar melhor. Encaro a porta do banheiro entreaberta e não penso duas vezes antes de ir até o cômodo. Adentro o box e logo o chuveiro, que manda um jato de água gela direto em meu rosto. Não me importo em tirar as roupas... Eu só quero esfriar a cabeça. Esquecer que a minutos atrás provavelmente eu teria sido o responsável pela morte do cara que meus irmãos e minha mãe gostam. Meus pulsos se cerram quando a palavra "filho" vindo da boca dele se faz presente em meus ouvidos e sem me avisar, meu corpo acerta um soco na parede que não era vidro do box. Sinto uma ardência e uma imensa vontade de voltar a socar. Ótimo.

    ***        

Por algum motivo ninguém apareceu. Nem mesmo Gretta. Depois de respirar fundo diversas vezes como o treinador havia instruído para todo o time, quando estávamos a ponto de perder a cabeça, me despi e tomei um banho descente. Só após me vestir e me jogar na cama, que percebi os nós da minha mão em um tom de roxo magoado por ter socado a parede com força. Droga. Encaro o teto e repasso algumas passadas de bola que exigia mais força e concentração. Quando nem aquilo estava me ajudando a esquecer aquelas malditas palavras; liguei a tv tentando prestar atenção nos documentários esportivos. No fim nada adiantava muito. Quando peguei no sono que pude me aliviar um pouco. No entanto, acordei uma hora e meia depois e tudo ainda estava lá. Aquela merda de sensação. As palavras dele, as de Grover, tudo. Procurei por Gretta no quarto, mas a loira não tinha vindo me ver. Ninguém veio. Respirando fundo para não perder a cabeça resolvo colocar uma bermuda de praia e desço para mergulhar. A brisa da praia vai ajudar. Ela sempre ajudou.

                                             ***      

Quando meus dedos dos pés afundam na areia da praia, solto o ar. Todo o lugar está levemente lotado nesse horário. O sol não está de queimar hoje, mas permanece lá no topo. Minha atenção para em um cara barbudo rindo e brincando de bola, com um garoto que aparenta ter uns 12 anos de idade. Ótimo tudo vai me lembrar aquela merda de conversa. Observo outras pessoas, antes de sentir um par de braços rodear meu corpo por trás. Meus olhos se fecham e solto o ar aliviado. Finalmente quem eu estava precisando; apareceu. Sem contar tempo, me viro e seguro seu rosto unindo seus lábios aos meus, porém o beijo decorre diferente. A forma como seus lábios se movem com agilidade demais... O gosto estranho, suas mãos descendo para meu quadril e começando a invadirem meu calção de banho. Acabo rindo contra seus lábios e quando afasto o rosto, abrindo os olhos; meu coração para de bater por um segundo.

— Sentiu saudade, Docinho? — Jasmine pergunta sorrindo e seus cabelos lisos e negros balançam com o vento, batendo em seu rosto algumas vezes.

Não. Não. Não. Droga. Em um movimento rápido afasto suas mãos de mim e olho ao redor a procura de um certo furacão loiro, pedindo a todos os céus que ele esteja preso dentro de casa e que não tenha visto essa cena.

Talvez NamoradosOnde histórias criam vida. Descubra agora