Capítulo 9
Gretta
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— Temos que escolher uma peça em específico — Ryan corta o silêncio, após empurrar seus óculos redondos para trás.
Estamos aqui sem dizer nada há um bom tempo e o professor sentado em uma das cadeiras onde os ouvintes ficam para escutarem as aulas, está com uma breve careta nos encarando. Mantenho meus braços cruzado e passo olhar do professor para Ane, que está enrolando uma mecha de cabelo no seu dedo. Não gosto da energia negativa que paira sobre nós duas. A ruiva deixou claro que só está assim por conta daquela festa, onde sai com Gregory e infelizmente esqueci completamente dela, não tenho desculpas para o que fiz... Insisto em dizer que por mais a mais, aquela noite foi divertida e mesmo se eu tivesse a opção de apaga-la da minha memória; recusaria. Principalmente porque foi nela que eu quase acreditei que Gregory Gibson era mais que um físico bonitinho, repetindo quase. Porém ainda assim fico extremamente chateada por perder uma amizade com isso. Olho brevemente para Gregory, logo em seguida para Ane e uma ideia me vem à mente.
— Por que não fazemos mesmo; Romeu e Julieta? — pergunto erguendo de leve uma de minhas sobrancelhas e ganho a atenção de todos.
— Shakespeare? — para minha surpresa o primeiro a questionar minha ideia é nada mais, nada menos que Gregory, que neste exato momento também está de braços cruzados, o que me dá a impressão que o mesmo está me imitando.
— É... Acho que todos irão reconhecer essa peça e até mesmo se identificar — desvio olhar dos olhos verdes de Gregory, revezando em todos por volta do círculo.
— Acho brega demais — a amiga de Ane revira os olhos falando e continua a mastigar seu chiclete com a boca aberta.
— Não diria brega, porém sim, repetitivo — Ryan também não aprova — Poderíamos tentar encenar; The Miracle Worker... — após sugerir, Ryan corre olhar entre nós e eu faço o mesmo, ficando aliviada em saber que não sou a única que não faz ideia do que ele esteja falando — Do dramaturgo William Gibson? Nunca ouviram falar? — meu parceiro de debate ergue as sobrancelhas expressando estar claramente surpreso com nossa falta de interesse teatral.
— Ei acorda — Ane solta sua mecha e estrala os dedos na frente de Ryan — Somos jovens e não velhos — a ruiva revira os olhos novamente e passa olhar para mim, me revelando sua careta de desgosto — Estou ficando cansada, então vamos de Romeu e Julieta mesmo, eu serei Julieta — Ane volta a enrolar sua mecha de cabelo no dedo e sorri passando olhar para Gregory, que está encarando um ponto fixo.
— Por mim tudo bem — declaro e levo as mãos para os bolsos de trás da minha jeans sorrindo brevemente por ter sido exatamente isso que pensei quando sugeri para que fizéssemos mesmo essa peça, uma forma de me redimir daquela noite com Ane.
— Sabem que temos que conectar essa peça com as ideias dos filósofos, certo? — Ryan questiona lentamente como se selecionasse suas falas.
— Óbvio que sim — Ane o envia um olhar matadouro e logo em seguida olha para mim novamente — Quem você escolheria para ser o Romeu, Gretta? — a ruiva faz um sinal breve com a cabeça para na direção em que Gregory se encontra.
Opa espera, olho para Gregory que agora sua atenção está focada em mim, logo em seguida meus olhos voltam para Ane, que está sorrindo de lado. Entendi a mensagem Ane, não precisa fazer sinal com a cabeça para ele novamente, até porquê era assim mesmo que deveria seguir a ideia, só que... Grr, não acredito que logo eu terei que escolher ele! Entre todos aqui, por que eu? Sério? Por que o bonzão não se prontifica? Afinal, todos aqui neste círculo sabemos que o único que se encaixa nesse personagem é ele. Puxo o ar e movo meus dedos por baixo do bolso do jeans.
— Eu acho que o... — grrr, não acredito que estou fazendo isso — Que o Gregory ficaria legal no papel do Romeu — legal está bom, não eleva demais seu ego, nem o fere para que o mesmo não recuse o papel.
— Super concordo! Então, vamos começar a montar o breve roteirinho? — Ane declara em uma animação falsa e mesmo assim seu sorriso é de dar inveja.
— Não me leve a mal, porém acho que a Gretta ficaria melhor nesse papel — assim como os meus, todos os pares de olhos aqui presentes, voam para Gregory assim que ele solta a leve bombinha sobre nossas cabeças.
Engulo no seco. Porque 1) Gregory Gibson tem opinião e não é só mais uma cabeça oca e 2) Ele realmente acabou de dizer que eu seria melhor que Ane para este papel? Rapidamente meus olhos se voltam para Ane, que está encarando Gregory com os lábios levemente entreabertos.
— Não... Ane seria mil vezes melhor, aposto que sua atuação seria impecável — consigo me pronunciar entre os risos nervosos que me escapam e novamente todos me encaram.
— Discordo, pela descrição de Shakespeare... — Ryan começa — Julieta é uma jovem atraente, loira e de olhos azuis — meu parceiro de debate da de ombros — Você se encaixaria perfeitamente, Gretta — Ryan sorri no fim do incentivo e eu apenas respiro fundo enterrando minhas mãos ainda mais fundo em meus bolsos ao ponto de jurar que eles irão se rasgar a qualquer momento.
— Não ligo para o que um escritor que nem existe mais diz, se eu quiser minha Julieta pode ser roxa com cabelos azuis e olhos vermelhos — não escondo minha leve raiva repentina ao responder Ryan.
— É agora que eu digo que vamos todos tomar no cu? — a voz de Chuck surge quando todos do grupo permaneciam em silêncio, conforme o cara esticava seu pescoço e assim como eu; todos envolta do círculo reviram os olhos.
***
Depois de muita conversa e mais uma discussão entre mim e Chuck, estamos aqui esperando o professor terminar de pedir silêncio as turmas, para darmos início à peça. Quando todos passam sua atenção para o palco respiro fundo tentando afastar meus pensamentos negativos. Sem dúvida nenhuma, encenar uma peça totalmente improvisada não é algo fácil, mas iremos conseguir, somos jovens cheios de energias e... A quem quero enganar? Uma breve olhada em Ryan e tenho a certeza da minha dúvida; o mais esperto de todos da minha aula de filosofia, está limpando suas mãos suadas na calça. Até ele está nervoso, droga. Pego na sua mão e Ryan passa seu olhar para mim, o envio um sorriso sem mostrar os dentes e o dou um leve aperto.
— Não se preocupe, vai sair tudo bem — sussurro para Ryan que sorri nervoso e nega de leve com a cabeça.
— Não temos certeza disto, as probabilidades de isto dar errado são incrivelmente altas — Ryan ri sem humor conforme se pronunciava e solta sua mão da minha, para ajeitar o óculos em seu rosto.
O observo só mais alguns instantes, até Ane dar início a apresentação. Assisto com atenção cada gesto dos dois no meio do palco. Gregory e Ane sem dúvidas tem uma compatibilidade, estilo rei e rainha do baile, mesmo ele sendo um idiota. Os cachos de Ane que muito provavelmente foram feitos pelos seus próprios dedos dançam no ar, assim como ela quando "Romeu" pede uma dança. Longos 46 minutos mais tarde Julieta percebe que Romeu não estava mais ali e se suicida. A peça termina e finalmente, repetindo, finalmente toda essa encenação termina. Não que eles dois haviam encenado mal, longe disso, eu apenas não suporto ver e rever algo que já sei de cor. Assim como o restante do pessoal; bato palmas enquanto Ane e Gregory caminham até a ponta do palco se inclinando para frente. Percebo quando o Principezinho desta universidade pega na mão de Ane e a deposita um beijo. Na encenação não houve beijo como na peça original, porém a tensão entre eles era nitidamente visível, o que me faz desviar o olhar por alguma razão.
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Talvez Namorados
Roman d'amourGretta Daytes, uma líder de torcida, está cansada de sempre ter a mesma coreografia em todas as apresentações, então decide mudá-la por conta própria sem a permissão da treinadora responsável por todo o grupo de líderes de torcida. Entretanto para c...