Capítulo 85

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Capítulo 85

Gretta

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      Desde sempre, me considero uma pessoa compreensiva, muito raramente julgo outras pessoas pelo que fazem e sempre, sempre mesmo, penso que se um dia ela errou, no outro ela pode desfazer seu erro. Resumidamente; sempre dou o poder da dúvida para qualquer um. No entanto, não hoje. Não nessa situação. Seria extremamente sem sentido, aceitar o que Gregory propôs como "vingança" e fingir sorrir para o mesmo. Reviro os olhos para como realmente cheguei a pensar que só pelo fato de me afastar dos problemas; eles desapareceriam... Como se quando voltássemos todas as minhas dores de cabeça sumiriam magicamente. A realidade é que todas estão onde as deixei e quando chego ao campus, abro mão da boa parte do dinheiro que tinha para pagar o primeiro táxi que peguei quando sai da mansão Gibson. Confesso que me senti brevemente culpada por sair antes dos parabéns para Gail e o pai de Gregory, que sequer cheguei a conhecer... Se eu tivesse pensado com mais calma, tenho certeza que Mary entenderia tudo e me traria de volta para cá... Até mesmo Grover se disponibilizaria em me trazer, mas a verdade é que eu parecia um touro e todo e qualquer outro com o sobrenome Gibson, era a bandeira vermelha na minha frente.

       Quando entro no prédio de alojamentos suspiro aliviada, essa mala está pesada pra caramba. Chego a frente da porta do nosso quarto e peço aos céus para que a porta esteja aberta e eu não tenha que abrir essa maldita mala que a arrumei de qualquer jeito, apenas jogando as coisas ali dentro, para pegar a minha chave. Minha mão abaixa a maçaneta e outro alívio percorre minha espinha. Entro no quarto e a tão familiar voz de Julie diz um; "Gretta!", fecho a porta estranhando por um momento o tom que minha melhor amiga havia pronunciado meu nome. Não foi um "GRETTA!" animado, foi mais para um "Gretta" descrente. Me viro e entendendo então o porquê.

— Ahh céus, desculpa — me apresso em desviar olhar da bunda de Julie e subir uma das minhas mãos até os olhos, para não ter a visão periférica delas de qualquer forma.

      Se esse chão fosse areia, neste momento eu estaria enterrando minha cabeça nele. Escuto as duas se vestindo com pressa e me condeno mentalmente. Estragar uma coreografia é uma coisa, agora estragar a foda da sua melhor amiga é outra, bem, bem, bem mais grave.

— Pronto — depois de uns instantes minha amiga resmunga e pela sua voz sei que estraguei mesmo uma transa legal.

     Cheia de vergonha volto minha atenção para minha amiga e Emily, sentadas na cama de Julie, agora de calcinha e blusa as duas. Minhas bochechas coram e consigo enviá-las um sorriso, no estilo; "me desculpem, não foi por querer". Emily me devolve o sorriso, como se assegurasse que estava tudo bem e Julie delicada como é sempre, cruza seus braços.

— Por que já está de volta? — sua pergunta vem acompanhada de um juntar de sobrancelhas, o que me deixa em dúvida; ela está brava por eu ter retornado cedo? Ou por ter estragado o seu momento?

— Houve... — me impeço por um segundo, me lembrando que minha vida não é espelhada em um jornal para que todo o restante do campus soubesse das merdas que acontecem nela; principalmente Emily, mas logo penso "que se foda" — Um desentendimento com Gregory e resolvi terminar tudo — respiro fundo dizendo a mim mesma que não irei chorar por um babaca.

       Um babaca que se acha no direito de sair por aí beijando toda e qualquer garota, só pelo fato de eu ter elogiado seus irmãos. Grr, uma raiva levemente adormecida, volta a dar as caras por cada célula do meu corpo.

— Sinto muito — no segundo em que Emily faz uma carinha de pena, a única carinha que eu não precisava agora; minha melhor amiga revira os olhos.

— Já disse para você desistir desses babacas e vim para o nosso jogo — Julie deita sua cabeça no ombro de Emily e esse movimento a deixa um pouco menos ogra do que ela realmente é.

     Eu sabia que estava certa em dizer que ela e Emily iriam formar um par incrível.

— Eu até queria, mas sou idiota o suficiente por ainda me sentir atraída só e apenas por homens — a respondo com sinceridade e nós três; até mesmo Emily, suspiramos.

      Em outras palavras? Talvez eu não passasse por nada dessas merdas se gostasse de mulheres. Ou talvez sim, não sei. O mundo é paralelo no quesito amor. No mesmo minuto em que alguém pode te dar seu coração, ele pode o querer de volta independente do sexo... E a única coisa que você tem que fazer é seguir em frente. Pensar que algum dia, ou até mesmo em alguma hora chegará o momento certo. Entretanto um conselho; não mude nunca sua razão para poder ficar com o coração daquela pessoa, porque corações só são doados para pessoas que amamos e não as que pensamos que amamos. Há uma enorme diferença entre pensar e amar de verdade alguém. E aí que mora o perigo, o bicho de 7 cabeças... Porque a linha tênue que divide esses dois mundos é tão transparente que quando você se vê, pode estar do outro lado sem ao menos perceber.

— Eu te abraçaria, mas estou suada por causa do sexo — Julie mostra sua compaixão que estava escondida em algum lugar antes e eu a envio um breve sorriso.

— Tudo bem, preciso de um banho para refrescar a cabeça — as informo e caminho em direção à minha cama, que confesso ter sentido falta dela.

      O colchão é pequeno? É. As molas dela estão enviesadas? Estão. A madeira range quando subo em cima? Sim. No entanto, é a minha cama, sei que posso babar nela sem medo ou algo parecido. Sabe, camas deveriam estar dentro de opções para relacionamentos... Estilo; "Ah estou namorando o colchão novo da marca tal". Porque camas são extremamente nossas parceiras, elas estão aqui quando estamos alegres, quando estamos chorando, quando estamos ocupados escrevendo teses, quando estamos estudando que nem loucos lendo milhares de livros e também está aqui quando nos satisfazemos em uma massagem sexual. Céus, a que ponto cheguei!? Camas sério, Gretta!?

                                           ***              
  
        Assim que retorno ao nosso quarto, confesso que parte de mim esperava encontrar alguém com mais de um metro e noventa, parado à frente da nossa porta. Nem que seja só para eu o ignorar. Se ele estivesse realmente aqui seria um lembrete de que nada que vivemos precisaria ser de fato mesmo jogado fora. No entanto, a porta vazia ganha um suspiro de derrota e bato três vezes na madeira, para avisar que estou entrando. Abaixo a maçaneta e cubro meus olhos com a outra mão, adentrando nosso quarto.

— Estou entrando! — anúncio alto e identifico a risada de Emily.

— Deixe de ser boba, Gre — a voz de Julie acompanhada de um breve riso, me faz abaixar a mão.

     As observo e percebo então que aparentemente, as duas conseguiram se resolver com o problema de comunicação.

— Ah fico feliz que vocês duas tenham se resolvido — falo com sinceramente, pois uma das coisas que mais quero é que Julie seja feliz e se ela estando ao lado de Emily a deixa feliz, então será isso que quero.

— É — minha melhor amiga balança a cabeça e seus mini cachinhos balançam com ela — O concelho de Gregory não foi lá tão louco — os ombros de Julie sobem e descem, enquanto as minhas sobrancelhas se erguem.

       É surpreendentemente para mim, escutar que — apesar de eu ter o apoiado no dia — Julie seguiu mesmo o conselho de Gregory. Podia jurar que após nós sairmos do quarto ela desligaria o celular e fingiria que nada havia acontecido. Geralmente minha amiga segue apenas os seus próprios conselhos e pronto. No entanto, estou feliz, se ela está feliz eu também estou. Ou quase feliz. Um meio termo... E quanto ao Gregory? Acha que Julie não quer te ver feliz junto com ele? Minha mente prega sua pegadinha e tenho que respirar fundo antes de me dirigir até minha cama.

       Deixaremos os demônios do dia seguinte, para serem mortos no dia seguinte, certo?

Talvez NamoradosOnde histórias criam vida. Descubra agora