Capítulo 62

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Capítulo 62

Gretta

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Grrrr, não sei onde raios eu estava com a cabeça, quando deixei minhas emoções me levarem e revelei que; "minha mãe me odeia", para Gregory. Logo quando pensei que o restante da manhã seria perfeito, como foi no início, Gregory não para de perguntar sobre ela e o porquê dela me odiar, o que está me tirando do sério, pois além de não querer tocar no assunto do meu pai, sou — literalmente — proibida de falar que sou filha da treinadora, então não teria como explicar para ele nada. Fora que duvido muito que o cara vai aceitar a teoria da abdução. Grr não sei nem porque estou me regrando tanto, não estou mais no grupo de líderes de torcida... Lembrar desse detalhe faz meu coração doer. Quando entrei para a equipe, os treinos ajudavam a deixar minha cabeça menos cheia, como se fosse uma forma de escape de todo esse mundo acadêmico envolvendo provas, redações, palestras, leitura de textos... Os treinos eram o momento do dia em que eu fazia algo que gostava, junto com algo que me fazia desestressar.

— Esse barulho foi sua barriga? — Gregory pergunta do outro lado do seu quarto, onde estava terminando de se vestir.

Ao mesmo tempo que fico nervosa, quero suspirar aliviada, já que; 1) Ele finalmente abandonou o assunto de Fiona, e 2) Talvez, só talvez mesmo eu prefira falar sobre Fiona, do que minha barriga roncando.

— O que? Óbvio que não — o respondo brevemente nervosa, pois sei que sou uma péssima mentirosa e também que o som que minha barriga emitiu é inconfundível, ela está definitivamente implorando por comida.

Estou ignorando a dor que meu estômago vazio está emanando desde de ontem, mas hoje como se ele percebesse que estou o ignorando por completo, o mesmo começou a protestar. Estou sem comer desde segunda. Engula essa Fiona! Eu consigo ficar longe do meu pote de Nutella e de qualquer outro carboidrato. Mas com tudo o que aconteceu ontem, me sinto fraca, esgotada e tenho certeza que as engrenagens do meu corpo só estão funcionando ainda graças aos goles de água que de vez em quando eu bebia e — claro — aos orgasmos que Gregory me proporcionou anteontem, ontem e agora de manhã. Ahh só de lembrar a forma como o dia se abriu para mim hoje, tenho que unir minhas coxas, enquanto meus olhos percorrem o corpo do moreno alguns centímetros à minha frente. O que são cantos de pássaros, perto de acordar sendo chupada? Princesas, vocês não fazem ideia do que estão perdendo. Gregory passa a blusa sobre sua cabeça cobrindo seus gominhos e Grrr, como ele é incrivelmente gostoso.

         ***
              
Deixo o prédio de exatas e olho para a direção do estádio. Respiro fundo abraçando o uniforme das líderes de torcida contra o peito. Por mais que eu tenha garantido à Julie que estava tudo bem, as coisas não vão de vento em poupa. Longe disso na verdade, toda vez que a ideia de que tenho que entregar de vez o uniforme para Fiona, me vem a mente, faz com que meu peito se aperte. Chega a ser engraçado o rumo que tudo levou... Já que quando parei para pegar o jornal universitário, antes da primeira aula hoje, havia milhares e milhares de elogios à nossa nova coreografia. Os jurados apenas não tinham gostado dos uniformes por serem — segundo eles; — pequenos demais para um evento familiar, porém tirando isso, foi incrível. Confesso que sorri feito boba quando não pouparam elogios à "inovação" de trazer um jogador para a coreografia, por mais que tenha sido algo totalmente improvisado e só deixei de sorrir quando uma parte de mim mesma se lembrou do que Fiona havia dito no estacionamento, sobre não ter modificado a coreografia esse tempo todo porquê queria deixar a última coreografia que meu pai conseguiu ver.

    'APENAS SAIAS É PASSADO'

Não foi lá o melhor título que poderiam ter colocado, mas não foi tão ruim. Logo abaixo do breve texto elogiando a criatividade da equipe de Uepplen e da sua treinadora, havia uma foto nossa. Sim, minha e de Greg. O cara me erguia no ar e eu erguia os pompons... Era extremamente linda. Seja quem for que conseguiu fotografar o momento exato, tem um lugar especial dentro do meu coração. A foto ficou tão perfeita que de alguma forma conseguiu registrar toda a beleza, confusão e preenchimento que somos eu e Gregory, conseguiu congelar a forma completa que me sinto quando estou com ele e também conseguiu enquadrar o dia em que me rendi por completo ao cara que apesar de fazer de tudo para que a sua imagem diante todos seja a mais perfeita; não se importou de revelar ao mundo a sua forma horrível de mexer o quadril, dançando ao meu lado a coreografia que montamos juntos. Fiquei a admirando como uma boba, durante toda as primeiras aulas do dia. E agora ter que trilhar o mesmo caminho que sempre trilhava no fim do dia para o estádio, se tornou algo tão torturante, quanto guardar a relação de sangue entre mim e Fiona em segredo. Vamos lá, Gretta. Tento me lembrar de que no fim conseguimos o que era o desejado; não ter uma crítica negativa do comitê de júris, para que Fiona ficasse com o emprego. Esse mínimo detalhe me deixa um pouco menos tensa. Meus pés voltam a trabalharem juntos com meu cérebro e dentro de instantes estou adentrando o ginásio com os caras do time e as garotas da equipe de líderes.

Meu coração para por uma fração de segundo, quando meus olhos encontram os uniformes vermelhos nas garotas e não os brancos. Pisco algumas vezes para ter certeza que não estou sonhando e quando nada daquilo se desfaz e nem cavalos alados aparecem saídos de trás dos bancos, tenho plena consciência de que; S-I-M, as garotas estão mesmo ainda usando os novos uniformes... E não, isso não é um sonho. No entanto, não entendo, Fiona disse que não queria mudar os uniformes, sequer a coreografia, então por que elas continuam usando os novos uniformes? Procuro e encontro Fiona um pouco afastada das demais garotas da equipe, instruindo Ane, que a observa com pura atenção. Ane é mesmo merecedora do posto de líder. Aproveito o afastamento da treinadora, para me apressar em ir até o banco onde a mesma deixava suas coisas, como por exemplo; a caixa de som, fitas de cetim, fichário e o apito. Assim que coloco meu — ou melhor; não meu mais — uniforme sobre o banco, percebo alguém se aproximar.

Minha atenção sobe para Julie, que para ao meu lado com a feição que mais odeio em todo o mundo; a de pena. No entanto, não posso culpa-la por absolutamente nada, forço um sorriso que sei que ela entende que de verdadeiro não tem nada e me abraço, passando atenção para as demais garotas da equipe, que assim como Julie, me observam com sorrisos em condolência.

— Oi... — sorriu para Julie — Vocês continuam com o uniforme novo, que legal — olho novamente para as demais garotas perfeitas no novo uniforme, com os recortes e desenhos que eu havia moldado.

— A treinadora não nos mandou tirá-los, então decidimos ficar com eles — Julie me informa e eu volto a olhá-la nos olhos sorrindo.

— Faz sentido, todas ficaram lindas nele — falo com sinceridade e percebo as demais garotas parando de uma vez por todas de se mexerem no canto do gramado onde estavam, essa súbita parada me faz olhá-las e quando percebo o que estão fazendo sou rápida em negar com a cabeça — Vocês... Não podem parar — pronuncio passando atenção novamente para Julie, que tenho quase certeza que é a mandante desse crime.

— Não faz sentido continuarmos com o uniforme, sendo que quem o fez não está com a gente — minha amiga segura na minha mão e sinto lágrimas começarem a vir com toda a força em meus olhos.

— Não Juh — nego de leve com a cabeça, sorrindo desta vez de verdade — Não quero que ela desconte em vocês — aperto sua mão e sorriu fraco.

— O que? Acha que aquela Dracula é páreo para um bando de lobas? — sua pergunta boba me faz rir, mesmo que as lágrimas já estejam trilhando minhas bochechas.

— The Originals está aí para comprovar isso, Juh — brinco com sua série favorita e minha amiga revira os olhos sorrindo.

— É sério Gre, se você não estiver com a gente, a gente não vai estar com ela — Julie assegura ficando séria de repente, o que me faz rir.

— Não fale bobeira! Quero ver vocês... — olho para as demais garotas da equipe — Gostosas, lindas e perfeitas na abertura do jogo dessa semana — as garotas sorriem e volto a olhar para Julie.

Minha amiga solta um; "Que droga!" manhoso e me puxa para um abraço apertado. Não minto quando quero mesmo vê-las dando o melhor de cada uma na abertura do jogo dessa semana. Não é como se só porque agora não faço mais parte da equipe, que não vou continuar incentivando e aplaudindo as garotas... Elas são fodas demais para isso e mesmo se eu quisesse, não sou capaz de esquecer os melhores momentos que tivemos juntas. Fecho os olhos sorrindo e abraço Julie igualmente.

— Ei não é como se nunca mais fossemos nos ver, de noite estarei no nosso quarto para te encher o saco — brinco com minha melhor amiga, que ri levemente rouca por conta do choro.

— Cale a boca Gre e me deixe fazer drama — Julie pronúncia e logo sinto milhares de braços me envolverem.

  Todas as garotas da equipe envolvem eu e Julie em um abraço grupal cheio de carinho o que claro, faz com que minha eu sensível acorde e comece a chorar rios. Grrr, como não sentir falta delas?

Talvez NamoradosOnde histórias criam vida. Descubra agora