A Invasão

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Kim Hongjoong, 8 anos.
Sunn, das Cinco Ilhas.

O garotinho era como um pequeno gafanhoto no meio de uma manada incontrolável de gente que corria ao redor dele. O rosto molhado de lágrimas salgadas, os olhinhos pequenos exalando horror e medo, as miúdas mãos agarravam firme uma pelúcia de golfinho. Hongjoong estava no meio de um caos fervoroso, vendo homens batendo suas espadas umas contra as outras e se matando, mulheres desesperadas tentando fugir de brutamontes que arrancavam seus filhos de seus colos, lojas sendo invadidas e os comerciantes, levados a força. Tudo estava revirado e ele não entendia o porquê daquilo estar acontecendo. Poucos minutos atrás, ele estava comprando morangos com sua mãe na feirinha. 

A mãe dele, em agonia, corria no meio da multidão, gritando seu nome. O suor na testa escorrendo e se misturando às lágrimas.

— Hongjoong! — o menino conseguiu ouvir ao longe e parou de chorar gradativamente. Olhou em volta com os olhinhos inchados, procurando de onde vinha a voz que sabia ser de sua mãe — Hongjoong!!!

— Mamãe? — ele conseguiu avistá-la correndo entre as pessoas, e as pequenas perninhas começaram a se mover na direção dela.

O rosto de Sujin foi do desespero ao alívio no momento em que localizou o filho no meio daquela confusão interminável. O pequenino vinha correndo em sua direção, e ela sentia como se uma tonelada fosse retirada de suas costas ao vê-lo. Quando estava próxima de tê-lo nos braços, um homem grande esbarrou no menino e o derrubou. O homem, que também caiu, tinha uma perna muito machucada e ensanguentada, era um corte profundo. Atrás dele vinha outro homem, de roupas pretas pesadas, com um facão cheio de sangue, provavelmente da perna do homem e de mais gente da qual ele tirou a vida.

Senhora? — o homem reconheceu Sujin, e olhou dela para o menino caído no chão, para então se dar conta de quem era. — pequeno Hongjoong, levante, corra para sua mãe! — Ele ajudou o garoto a ficar de pé enquanto secava as lágrimas dele com urgência. Os joelhos, agora ralados, tremiam e o menino mal conseguia andar sem quase desabar. O homem o empurrou levemente na direção de sua mãe e ela o alcançou. Tomou-o nos braços e o abraçou firme como se nunca mais fosse soltá-lo. — Senhora, pegue-o e corra para os navios. O capitão mandou tirar vocês dois daqui!

— Certo! — ela assentiu e pegou do chão a pelúcia que o menino havia deixado cair, partindo em direção ao porto.

Enquanto se afastava, ela pôde ouvir o grito de dor do homem com quem acabara de falar. Já imaginando o que havia acontecido, ela olhou rapidamente por cima do ombro para confirmar: o homem de preto o matou com o facão.

— Descanse em paz — pronunciou com dificuldade enquanto corria e segurava suas lágrimas.

Arfando muito e quase sem forças, ela conseguiu avistar o porto onde estavam os navios, porém deparou-se com os homens de seu marido fazendo gestos para que ela voltasse e não se aproximasse. Ela parou, confusa, e olhou ao redor. Havia muitos homens de preto e laranja, os inimigos.

— Senhora, volte! — Um homem gritou.

Ela não perderia tempo perguntando o porquê, apenas virou-se para obedecer, mas foi impedida. Homens robustos e fortes a cercaram, todos com espadas nas mãos, sujos de sangue, poeira e areia.

— É ela! É a Senhora de Sunn, esposa de Sihtrik. E ele é o herdeiro deles — um dos homens gritou, apontando a espada na direção do menino no colo dela. Os homens deram uma risada orgulhosa, como se tivessem acabado de encontrar um baú de tesouro.

— Por favor, não o machuquem... — ela pediu enquanto abraçava o filho, a voz estava falha e trêmula.

As risadas foram cessando à medida que os homens no círculo em volta dela se remexiam para abrir uma passagem, pela qual um pesado e imundo par de botas pretas caminhou até entrar no campo de visão de Sujin. Os olhos castanho-mel se arregalaram ao encarar o sujeito que se colocou em sua frente. A barba comprida e espessa moldava um sorriso amarelo soberbo, transbordando arrogância e confiança. A mulher não conseguiu conter a repulsa ao repuxar o canto da boca.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora