Veneno não se disfarça

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Mar aberto.

O Black Fedora era ainda mais assustador de perto. Hongjoong e toda a sua tripulação ficaram boquiabertos quando o navio, notavelmente maior que o Wonderland, ficou lado a lado com eles. Como se não bastasse toda a tensão que apenas o Black Fedora causou, outras embarcações subitamente começaram a sair da névoa densa, como se acabassem de se teletransportar para lá. Eram navios no mesmo padrão do Black Fedora, porém não tão... intimidadores. Mas eram muitos.

— Hongjoong, o que isso é isso? — San olhou em volta, assustado. A névoa liberando mais e mais navios. — O que está acontecendo?

— Tudo isso pertence a ele — Yunho analisou.

Os navios rodearam o Wonderland, mantendo-o no meio deles, encurralado e sem escapatória.

Cordas começaram a se movimentar no Black Fedora. A tripulação as movimentava, puxando-as como se para checar que estavam firmes. E, abruptamente, todas se balançaram na direção do Wonderland. Rápidos e orquestrados, os halianos aterrissaram firmemente por toda a extensão do Wonderland. A tripulação mynesa puxou as espadas, Yunho e San colocaram Hongjoong para trás deles e puxaram suas lâminas também. Os invasores receberam mais cordas dos halianos no outro navio, essas com ganchos nas pontas, e os ataram nas bordas. Aquilo, Hongjoong reparou na hora, era para que os navios não saíssem um do lado do outro, para que ficassem presos um ao outro. Outra corda foi balançada na direção do castelo da proa do Wonderland, onde botas pretas pesadas aterrissaram ferozes, lançando respingos de umidade para todos os lados. A atenção do grupo se voltou para o recém chegado, e Hongjoong se colocou numa posição defensiva sem perceber.

Diferentemente da tripulação haliana invasora, aquele rapaz não estava de máscara. O seu erguer de cabeça revelou o sorriso ameaçadoramente comprido e assustadoramente atraente. Os olhos permaneciam nas sombras do chapéu preto. Tudo muito preto.

— Olá, Kim-Hong-joong — ele pronunciou cada sílaba com veneno, e Hongjoong se sentiu estranhamente pequeno, enclausurado. Wooyoung ergueu o braço e de seu punho, antes fechado, a correntinha desenrolou entre os dedos. — Você me queria, eu te encontrei.

Estranho. Era estranho como o rosto dele combinava com aquele sorriso perigoso que não lhe deixava a face; como a voz dele soava igual a um sussurro gritante, uma canção mortal de sereia. Era estranho como parecia que qualquer movimento dele seria letal. Ele pesava a atmosfera, como se até mesmo o ar devesse se ajoelhar para ele.

Todos estavam em silêncio, observando o haliano com atenção redobrada, como se o mero fato dele respirar precisasse de vigilância, pois poderia ser perigoso. Ele deu um passo, e Yunho, San e Jongho tiveram espasmos que os fizeram erguer mais as espadas. Wooyoung parou, bufou uma risadinha e voltou a andar. Em direção a Hongjoong.

Ele fingiu que sua pulsação não aumentou com a proximidade do Haliano. Fingiu que o suor não escorreu pela coluna. Fingiu que conseguia encará-lo nos olhos.

— Kim Hongjoong — pronunciou novamente. Doce, venenoso, prazeroso. Ele estava tão perto do Kim agora, rodeando o rosto dele como se pudesse farejá-lo e descobrir qualquer coisa sobre ele daquela forma. — O escolhido. O que você tem para mim? — Hongjoong não ousou se afastar enquanto Wooyoung analisava cada detalhe de seu rosto. Tão, tão perto, que a respiração dele fazia cócegas contra a pele. Wooyoung lentamente desamarrou a bandana preta na cabeça de Hongjoong. — Que cabelo bonito, você nasceu assim? — Hongjoong conseguia ouvir o sorriso na voz ao mesmo tempo açucarada e venenosa. Conseguia sentir o sorriso contra a pele arrepiada do pescoço.

Por que ele não fecha esse maldito sorriso?

— Você é especial, não é? — Wooyoung se afastou o suficiente para encará-lo nos olhos e tirou o próprio chapéu. — Eu também sou.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora