A tempestade está vindo

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King Island, das Cinco Ilhas.

Cada passo de Kyum em direção a sua cela fazia suas costas latejarem. Ele nem queria imaginar quão feios estavam os cortes, ele apenas sentia a queimação e o ar gélido tocando-o profundamente como se seu interior estivesse exposto. Ele estava rezando para que aquilo não infeccionasse e o matasse. Não podia morrer ainda, ele precisava reencontrar San e Hyuk, vê-los nem que fosse só mais uma vez.

O carrasco que o chicoteara caminhava atrás dele a uma distância agradável. Kyum sabia o caminho, então não precisou ser guiado — ou empurrado — pelo trajeto.

Os corredores estavam como sempre, silenciosos e vazios. Mas som de passos começou a preencher o ambiente gradativamente, e eles souberam que tinha alguém se aproximando com urgência. O carrasco parou para olhar para trás, e Kyum fez o mesmo em seguida.

No fim do corredor, uma mulher se apressava até eles. Seus longos cabelos escuros e a barra do vestido nude comprido se agitavam com seu andar rápido.

— Com licença — disse ela, bruscamente, ao se aproximar deles. — Você não vai jogar esse homem em uma cela nesse estado. — Ela informou, indignada, ao carrasco, e pegou Kyum pelo braço para levá-lo com ela.

Ele não fazia ideia de quem ela era, mas não contestou.

Já o carrasco...

— A senhora não tem permissão para fazer isso. Eu tenho que levá-lo de volta. — Ele se colocou na frente dela, mas o rosto dela continuou determinado.

— Você pode levá-lo depois que eu cuidar das feridas dele.

— A senhora não pode...

— Eu posso, sim! — disse ela, firmemente, interrompendo-o. — Tenho a permissão de Seonghwa para fazer qualquer coisa aqui dentro desde que não machuque ninguém. E vou fazer o oposto de machucar. Se não está gostando, pode ir lá reclamar com ele.

O carrasco coçou a nuca, hesitante e irritado. Ele sabia que ela não estava mentindo, ele a conhecia e sabia que ela tinha certa liberdade. E ele não estava nem um pouco afim de confrontar Seonghwa. Deixá-la limpar uma ferida não causaria problemas a ele. Ele nem havia recebido ordens mesmo.

— Tudo bem — disse o carrasco, desistente. — Mas você vai só limpar a ferida e fim! E eu vou ficar perto para esperar.

Ela assentiu, vitoriosa, e foi na frente, guiando-os pelos corredores até chegarem ao que devia ser os aposentos dela. Abrindo a porta, ela entrou e deixou que Kyum entrasse também. O carrasco deu um passo para frente, mas a última coisa que viu antes da porta ser fechada na sua cara foi a expressão nada amigável da mulher para ele. Ele claramente não era bem-vindo. Mas também não sairia dali. E se demorasse mais do que julgava necessário, ele entraria. Enquanto isso, ele ficou como uma criança emburrada de braços cruzados na frente das portas.


O quarto era bem simples, parecido com o de Minnie. Cama, cômoda, escrivaninha, cortinas. Só o básico. Kyum imaginou que, quem quer que ela fosse, não devia ser muito mais que Minnie ou ele próprio. Talvez uma prisioneira também.

Ela vasculhou as gavetas da mesinha de cabeceira ao lado da cama e tirou algumas coisas de lá. Depois correu para uma pequena estante do lado da escrivaninha. Ela olhou brevemente para ele por cima do ombro enquanto revirara os livros, objetos e bugigangas aleatórias da estante. Talvez pelo silêncio, ela queria se certificar de que ele ainda estava ali.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora