A Tempestade chegou

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King Island, das Cinco Ilhas. 

Uma bandeja de comida desceu por cordas pelo buraco no teto da gruta. Yeosang estava deitado, semiconsciente, quando a luz da lua falhou sobre seus olhos quase fechados. Se tratava da bandeja que atravessou o buraco e cobriu brevemente a luz. 

Yeosang se esforçou para levantar. Suas pernas pareciam chumbo de tão pesadas, mesmo que ele se sentisse mais magro. Seu corpo estava pesado para carregar. Ele praticamente se arrastou pela água até chegar aonde a bandeja fora arreada, no mesmo lugar onde ele caiu quando foi jogado naquela gruta. 

Um jantar completo, com carne e tudo. Ele olhou para cima e viu as silhuetas de cabecinhas observando. Uma delas se ajeitou para arremessar algo no montinho de terra que vinha sendo a moradia de Yeosang. O príncipe se arrastou de volta para lá com a bandeja e viu que era um cantil. Água

Ele caiu de joelhos na areia e começou a comer. Nunca imaginou que um dia engoliria comida tão sem modos daquele jeito. Se sua mãe o visse, beliscaria sua orelha. Mas era sua primeira refeição em três dias — ele achava. Ele estava terrivelmente faminto. Sentia que estava vivo apenas pela água que o soldado lhe dera escondido no dia que fora jogado ali. Ele precisou ter muita disciplina para não beber tudo de uma vez logo no segundo dia. 

Outro cantil foi jogado atrás dele. Mas quando ele olhou, as cabecinhas já tinham sumido. 

Certo, com mais dois cantis de água, ele podia aguentar mais uns seis dias. 

Mas... se ele estava comendo agora, devia ser porque Minnie cedeu a Seonghwa... 

Yeosang fechou os olhos, soltando o ar com remorso. Seu ritmo com a comida até diminuiu com o pensamento de que Seonghwa estava avançando em seu esquema. Mas ele não podia ficar ressentido com Minnie por ter cedido. Provavelmente, ela teve que ser muito forte para tomar essa decisão. Ele só esperava que ela estivesse bem, e que, independentemente de ter sido uma escolha certa ou errada, seus amigos conseguissem contornar a situação. 

Seus amigos... Yunho...

Yunho devia ter tomado à frente de tudo àquela altura. Deve ter sido ele o primeiro a dizer que precisavam resgatá-lo; o primeiro a ter corrido para salvá-lo; o primeiro a ter argumentado em seu favor. Yunho sempre ia na frente por ele, afastava os espinhos pelo caminho com as próprias mãos por ele e abria passagem por qualquer mar para que Yeosang atravessasse em segurança. 

Ele sentia tanta falta dele. Talvez não tivesse se dado conta do quanto Yunho era valioso até aquele momento. Ele merecia muito mais do que ficar correndo atrás de um garotinho rico e mimado que não tem força para travar as próprias batalhas sozinhos, para se reerguer sozinho. Yeosang ficava ali sentado, esperando ser salvo, enquanto o general percorria os mares por ele. Patético, Kang Yeosang

Ele falava tanto sobre a Profecia, sobre as Histórias, acreditava fielmente no propósito dos escolhidos, e ali estava ele, a Coroa, comendo como um animal após três dias, depois de ter largado a responsabilidade da situação nas costas de uma menina que já vinha sofrendo meses antes dele. Patético. Do que servia sua coroa, afinal?

Ele terminou de comer mais rápido do que havia planejado. Não sabia quando teria a oportunidade de comer de novo, deveria ter racionado. Ele se xingou mentalmente pelo erro, se questionando por que motivo não conseguia fazer nada certo. 

Yeosang passara os últimos dois dias inteiros se culpando por tudo que tinha e ainda ia acontecer. Como por exemplo: a morte de Hongjoong. Ele se culpava por isso porque, segundo as vozes da sua cabeça, Hongjoong só morria porque Minnie colaborava com Seonghwa para mantê-lo alimentado e vivo. Ou seja, Hongjoong morreu por sua causa. Ou morreria... sei , ele nem sabia mais o que estava pensando. 

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora