Ele é o Rei

Porque veneno tem gosto doce

Todo aquele nevoeiro devia ser característico só daquela região, pois ele se desfez conforme os navios avançavam para Myne. No entanto, ele ainda era visível de longe, e parecia uma entrada para um outro mundo.

Wooyoung não tinha dificuldade nenhuma de ir e vir pelas cordas como um animal treinado pela selva, porém ele preferiu ficar no Wonderland durante a noite. Hongjoong ainda não havia engolido totalmente o "lembre-se, eu sou o capitão" que Wooyoung lhe dissera depois que aceitou ir até Myne, ele sentia que o haliano queria vigiá-lo, como se Hongjoong fosse uma criança que precisasse de tutela. Ou ele estava ali apenas por causa de San, visto que o devorava com os olhos toda vez que o Choi estava perto. Hongjoong não sabia dizer qual das alternativas era a certa, mas o fato era que ficou irritado pensando que poderia ser a primeira. E daí que Wooyoung já tinha viajado mais, matado mais, aprendido mais, lutado mais e feito mais coisas de capitão do que Hongjoong?

— Jung, por que não conversamos um pouco?

Yunho estava parado de braços cruzados — numa distância segura— quando Wooyoung virou para olhá-lo. Hongjoong, Jongho, San e Jungkook acabavam de subir as escadas para se juntar a eles no castelo da proa.

— Ou seja, vocês querem fofocar — Wooyoung adivinhou. Ele não ficou surpreso quando San sorriu como se dissesse "sim, isso mesmo".

— Queremos esclarecer algumas coisas — Hongjoong corrigiu. Mas a verdade era que eles queriam confirmar as fofocas.

Wooyoung passara o dia inteiro depois do ataque navegando em silêncio, como se nem estivesse no navio ao lado. E, depois que chegara no Wonderland, ao anoitecer, ele se isolou no limite da proa e não saiu de lá.

Horas se passaram numa discussão interminável sobre quem iria falar com ele. San definitivamente não queria, alegando que Wooyoung o intimidava. Automaticamente, Hongjoong lembrou de Seonghwa, que o fazia suar de nervoso só por estar perto. Ele entendeu o sentimento do amigo e liberou San da missão. Jongho não queria porque simplesmente não queria; a desculpa era que ele não foi com a cara de Wooyoung. E a verdade era que ele estava com medo de ser esnobado por não parecer tão interessante quanto San ou Hongjoong; Jongho definitivamente não queria ser diminuído por um desconhecido psicótico. Jungkook fora direto e sincero: estou com medo dele. Mas a questão era que todos estavam com um pouco de medo dele. O Jeon foi levemente oprimido pelos amigos por ter amarelado sem um motivo melhor. Yunho tinha um atrito óbvio com Wooyoung, o que levava o resto do grupo a desconsiderá-lo como uma boa opção. Só restava Hongjoong, que além de ser o mais sensato de todos, era o capitão. Porém, para a surpresa alheia, Hongjoong também se negou. Por medo. Ele fora mais mirabolante na desculpa: eu não consigo encará-lo por muito tempo, ele está sempre sorrindo um sorriso malvado, e eu estou com medo dele me engolir. Todos piscaram sem fala para aquela declaração pouco antes de caírem na gargalhada. Hongjoong cruzou os braços indignado. No fim das contas, eles decidiram que falariam com Wooyoung juntos.

A vantagem numérica os tranquilizava, mesmo que todos soubessem que, se Wooyoung quisesse, enfiaria uma bala na testa de cada um e a espada em seus estômagos para se certificar de que estavam mortos. Hongjoong queria apenas confiar que não havia motivo nenhum para Wooyoung estar mentindo e traí-los. Quando chegaram ao consenso, já devia ser madrugada, ou quase isso. E Wooyoung ainda estava agarrado à balaustrada da proa.

— O que vocês querem saber? — o haliano apoiou os cotovelos na madeira atrás de si.

— É verdade que você matou um tubarão? — Jongho disparou apressado.

O grupo o olhou descrente. De tudo que você podia perguntar, tinha que ser isso? Mas depois todos fitaram Wooyoung, ansiosos pela resposta. 

Wooyoung gargalhou antes de responder: