Eu e Você

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Choi Jongho, 7 anos. Hori, das Cinco Ilhas.

Os cabelos negros grudados na testa suada roçavam sutilmente os cílios que ornavam os olhos curiosos. As mãos, não tão pequenas para uma criança de sete anos, estavam amarradas atrás das costas, e Jongho caminhava em silêncio para onde os homens de preto e laranja atrás de si o guiavam. Os olhos eram como duas pequenas safiras brilhantes, analisando todo o ambiente amadeirado e úmido pelo qual passava, prestando atenção em todo o percurso que o obrigavam a fazer. Sentia o chão de madeira sob seus pés balançar suavemente, o mar estava calmo naquele dia, embora ele quisesse muito que estivesse em uma fúria incessante e engolisse de vez aquele navio com todos aqueles crápulas dentro. Não importava se ele mesmo também estivesse lá, não tinha mesmo mais motivos para viver. Seria lucro ser absorvido pelo mar. Mas a realidade era outra.

Ele acordou de seus pensamentos suicidas quando um de seus sequestradores abriu pujantemente uma porta larga de madeira apodrecida à sua frente.

— Vai, garoto! — sem uma gota de paciência, o homem empurrou Jongho porta adentro. O outro pirata de Hang, que já estava lá dentro do cômodo, olhou imediatamente para o comparsa e para o menino que jogara lá. O cenho franziu.

— Por que esse moleque está amarrado com tantas cordas? — O homem de sobretudo preto deu alguns passos na direção de Jongho. Após cambalear um pouco, o menino ergueu o olhar para o velho, reparando sua barba e cabelos compridos e grisalhos. Parecia que não eram lavados há anos, Jongho queria apresentar um shampoo ao homem. — O que está olhando, ratinho? 

Ele não respondeu e, mesmo se quisesse, não teve tempo, pois o homem atrás de si voltou a falar.

— Essa criança é uma peste, não o desamarre! — Rosnou, apontando seu enorme indicador na direção de Jongho. — Ele parece pequeno e inofensivo, mas na verdade é um filhote de javali selvagem em potencial!

Jongho quis rir, porém não daria o prazer de se sentir engraçado ao homem que o maltratou. 

— Ele não parece isso tudo. — O velhote pôs as mãos na cintura e se inclinou um pouco para frente, analisando-o. O menino o encarava de volta com a expressão fechada. O homem, além de velho, era pequeno e magricelo, Jongho podia derrubá-lo facilmente, se não estivesse amarrado. — Mas que criança carrancuda. 

De fato, o semblante de Jongho era algo a se pensar. Não tinha o olhar assustado que os homens estavam acostumados a ver no rosto de outras crianças. Não tinha marcas de lágrimas, nariz vermelho e também não chamava por seus pais o tempo todo. Nem sequer abria a boca. 

— Ele sabe falar? quantos anos ele tem? — o velho ergueu uma sobrancelha ao endireitar a postura. 

— Ah, por favor, sei lá quantos anos ele tem! — fez um gesto desdenhoso com a mão. — Deve ter uns 9 ou 10. E acredite, é melhor quando ele não fala. 

O velho voltou a encarar Jongho um tanto curioso e desconfiado, recebendo de volta o olhar gélido da criança. Talvez ele estivesse vendo coisas, mas jurou que tinha visto o canto dos lábios do garoto se curvar num sorriso quase imperceptível.

— Enfim, estou indo. Mantenha-o preso, não se esqueça. Ele deu trabalho para pegar e será de grande valor para o Capitão. — Após o velho barbudo assentir, o homem saiu e fechou a porta com força. Toda a estrutura pareceu tremer. 

— Bom... — novamente voltou a atenção às safiras brilhantes que não paravam de o encarar. — Vá sentar ali e pare de me olhar assim, que droga! parece um oceano me engolindo.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora