Movimento arriscado Pt.2

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King Island, das Cinco Ilhas.

O quarto era ridiculamente sombrio e fúnebre. Hang devia ser idiota o suficiente para achar que, só por ser feiticeira, Minnie era praticante de magia hostil, ou adorava a morte e coisas macabras. O preto era predominante no cômodo, junto com cinza escuro e marrom; os tecidos de cortinas e colchas eram escuros também, num tom de roxo-berinjela. Feio e desagradável. Minnie gostava de cores alegres e chamativas, apesar de usar roupas neutras. Contudo, a intenção do crápula talvez nem fosse agradar mesmo. 

A mesa de madeira bem escura à qual sentada estava repleta de utensílios que ela deveria saber usar — segundo Hang — e um livro grosso e pesado, o qual ela já tinha folheado um pouco. Continha feitiços, muitos feitiços; mais do que a cabeça dela era capaz de armazenar. Porém, talvez ele nem pedisse por tantos. Ela nem sabia o quê, especificamente, ele queria.

Som de passos se tornava mais alto. Alguém estava chegando, e ela sabia quem. Endireitou a postura e endureceu as feições. Hang entrou sem bater na porta.

— Olá, bruxa — Sorriu com escárnio.

Minnie controlou a vontade de repuxar o canto do lábio para cima. 

— Eu estou nesse lixão há dias e você ainda não disse o que quer de mim. 

O velho continuou a se aproximar da mesa com aquele sorriso detestável. Uma bengala sob sua mão direita o ajudava a sustentar o peso de seu corpo, pois suas pernas não davam mais conta sozinhas. Ele não a usava antes, o que significava que estava piorando, e aquilo não poderia deixar Minnie mais feliz.
Ela disfarçou bem.

— Estou à espera do meu filho, e você também. Ele foi resolver alguns contratempos, mas, quando chegar, você será mais útil. Enquanto isso, quero que faça algo simples para mim. 

A menina ergueu uma sobrancelha, esperando que ele dissesse — em vão— o pedido, para que ela pudesse negar. 

— Creio que seja fácil para você, bruxa. Já ouvi relatos que outras do seu tipo podem fazer.

— Os poderes não são iguais — falou ríspida — e não posso fazer milagres, já aviso. Há coisas que estão fora do meu alcance. 

— Então, bruxa, acho bom que esteja dentro porque, se não, estará só ocupando espaço aqui e eu vou me livrar de você com a mesma facilidade que se livra de uma formiga. 

— Diga logo. 

— Quero que faça algo que possa me curar definitivamente. 

Minnie conseguiu conter a risada, mas não o sorriso, tão viperino que ela parecia má.

— De jeito nenhum.

O sorriso amarelo do velho se fechou devagar. 

— Não foi um pedido, feiticeira, nem uma pergunta. Você fará. 

— Nem se eu quisesse, conseguiria. Não sou curandeira, não sei curar, apenas matar. Aprendemos por questões de sobrevivência. 

— Pensei que você poderia usar sua ignorância como desculpa, por isso providenciei isso — apontou para o livro entre os dois. — Pertenceu a Anya, veio de Hori. Parece que seus amiguinhos esqueceram algo valioso durante a fuga — o velho gargalhou, orgulhoso como se tivesse vencido uma batalha. 

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora