O mar estava surpreendentemente calmo quando Jongho e Yunho empurraram sobre as águas um pequeno veleiro para longe deles, em direção ao mar aberto. Despido de suas velas, o pequeno aglomerado de madeira apenas flutuava sutilmente, carregando pétalas e mais pétalas de azaleias brancas, postas em contraste com as ondas vermelhas de seda do vestido de Minnie, emoldurando o corpo dela.
Yunho e Jongho se afastaram para que San fosse à frente. De mãos dadas com Hongjoong, o mais novo pediu permissão a ele com o olhar para prosseguir, e o mais velho olhou uma última vez para a menina envolta das pétalas no veleiro, para seu rosto tranquilo, para as mãos delicadas postas uma sobre a outra na frente do corpo.
Hongjoong esperava que Minnie estivesse em paz sabendo que todos estavam vivos graças a ela. Ele esperava que ela soubesse.
Uma vez, Minnie dissera pertencer à natureza, aos seus espíritos e elementos, e eles achavam justo entregá-la de volta a tudo aquilo.
Hongjoong olhou para San e assentiu, ambos com narizes vermelhos e cílios úmidos. San se abaixou e levou a mão de Hongjoong junto com a dele até a superfície da água, onde tocou com a palma do mais velho.
San queria que Hongjoong participasse do processo não só como espectador, queria que ele visse mais do que apenas o que os olhos podiam ver, queria que a alma de Hongjoong sentisse.
O feiticeiro fechou os olhos ao pronunciar:
Da terra vieste, à terra voltará. Do ar foste moldada, pelo ar será levada. Da água se formaste, por água será desfeita. Pelo fogo não será consumida, pois convido tua alma a dançar pelo fio da eternidade, nas manifestações da Mãe-Terra. Seja o ar, seja a terra, seja as águas, seja o fogo. Seja tudo e seja livre.
E assim, as pétalas brancas sopraram para a infinidade do céu azul acima deles, e o mar cresceu delicadamente sobre o corpo de Minnie com uma pequena e branda onda, como um cobertor a envolvê-la. Como se fosse pó, a madeira do veleiro se desfez, tornando-se parte das pequenas composições da água, e o corpo de Minnie afundou no singelo abraço das profundezas.
O mar começou a se movimentar com mais ânimo, emitindo o canto das ondas. O vento soprou mais fresco, com uma força agradável que bagunçou os cabelos deles. Hongjoong inspirou profundamente, sentindo a ousadia que Minnie carregava com ela invadindo suas narinas. Ela fazia parte daquilo agora.
Eles não podiam ver, mas nas terras mais próximas das redondezas, a grama e as árvores farfalharam, e os pássaros cantarejaram.
San abriu os olhos.
— A Protetora a recebeu e colheu de volta os dons que havia plantado nela.
Hongjoong olhou para o mais novo, o verde das íris dele brilhando como nunca contra o sol, e os fios mesclados dançando.
— Agora eles são meus.
Hongjoong sorriu.
— Você vai ser o maior ato que esse mundo já viu.
Na borda dos navios, os tripulantes contemplavam o triste funeral da feiticeira e a beleza sutil do significado dele, recebendo os quatro de volta ao convés do Black assim que eles terminaram e se despediram de Minnie.
O clima não era dos melhores em nenhum dos três navios, todos estavam compadecidos da perda deles, cabisbaixos e tentando não interagir muito com Hongjoong, pois desde que parara de chorar, o Kim estava monossilábico e sua feição não era das mais amigáveis.
Hongjoong andou em direção ao centro do convés, onde Mingi, Wooyoung e alguns de seus imediatos estavam, seguido de San, Jongho e Yunho.
Mingi, até então, estava prestando atenção em Wooyoung e no arco que ele já tensionava há segundos demais, sem atirar a flecha. Quando notou Hongjoong, ele se virou para o capitão, descruzando os braços e arrumando a postura.
— Joong, não é melhor descansar um pouco? — perguntou o naxiano.
— Não há tempo. — Não havia resquícios da voz doce e sutil que Hongjoong costumava ter, apenas a firmeza e aspereza de uma alma quebrantada.
Mingi suspirou. Ele sabia que não podia contrariá-lo naquele momento, mesmo que fosse pelo bem dele próprio. Seonghwa fizera algo com ele quando tirou a vida daquela menina, arrancou algum pedaço dele junto, e agora eles precisavam lidar com aquele Hongjoong despedaçado.
Yeosang também se aproximou do grupo, auxiliado por Jimin, que se recusava a deixar o príncipe andar por aí sozinho, alegando que ele ainda estava em observação devido ao estado em que foi encontrado.
— Bem vindo de volta — disse Hongjoong, recebendo um assentir do Kang. — Sinto muito, mas seu repouso vai ter que ficar para depois.
— Estou bem, farei como for decidido.
— Se me permitem opinar — Mingi se pronunciou —, acho que as coisas saíram um pouco do planejado.
— Talvez devêssemos recalcular alguns passos — Yunho sugeriu.
— Não há tempo — Hongjoong repetiu pausadamente, fechando aberturas para réplicas. — Seonghwa está vivo, eu tenho certeza. E Hang também pode estar. Minha mãe ficou lá, Minnie se foi, ele continua à frente... Eu não quero uma meia vitória. A última chance dele de acabar com a gente é com as frotas intactas que ele mandou às ilhas, e ele vai mandar todas de uma vez para Myne, porque sabe que é para lá que nós vamos agora. Ele vai querer manter Myne sob sua posse, e precisamos recuperá-la de vez. Não há tempo.
Todos se mantiveram calados, uma concordância silenciosa.
— Já enviei um pássaro para Shownu — disse Mingi. — Ele vai nos adiantar.
— Seonghwa não vai arriscar ir para Naxx só para ameaçar o Mingi e usar isso contra nós — Hongjoong prosseguiu. — Ele não é idiota, sabe bem que os naxianos darão conta. E, se ele for para Naxx, ele perde Myne. Entre a ilha principal de um arquipélago rico e uma ilha independente "fora do mapa" onde ele não é bem vindo nem na beira, sabemos à qual ele dá mais importância.
Todos eles sabiam do tamanho da ganância de Seonghwa e de como ele jamais aceitaria perder o topo. O topo era Myne. Hongjoong estava certo em cada palavra. Praticamente sem sua casa em King Island, Seonghwa almejaria Myne mais ainda.
— Então diga... — Wooyoung finalmente falou, e todos viraram a cabeça em sua direção. A ponta traseira da flecha grudada na bochecha dele enquanto ele mirava com um olho aberto o alvo no mastro. — Quais são suas ordens, capitão?
O capitão dos capitães está pedindo as ordens.
Hongjoong repuxou um discreto sorriso enquanto tirava a bandana preta da fivela dourada em seu cinturão. Após amarrá-la na cabeça, ele foi até o tripulante que segurava o chapéu de Wooyoung, pegou-o da mão dele e colocou na cabeça do haliano.
Ele se aproximou do ouvido de Wooyoung por trás.
— Acerte o alvo. Bem no centro.
— Sim, capitão — cantarolou o haliano, o sorriso venenoso no rosto.
Wooyoung alinhou um pouco mais o arco.
O alvo não era aquele desenhado no mastro. Nunca foi.
Todas as partes do desenho estavam perfuradas, pois Wooyoung estava atirando havia horas, desde que deixaram King Island para trás. Quando ele soltou a corda pela última vez, o único espaço que faltava foi certeiramente preenchido pela flecha, o centro.
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Ele é o Rei
AdventureToda a infância de Kim Hongjoong fora destruída num piscar de olhos quando a denominada Invasão aconteceu na ilha em que morava. Um velho pirata ganancioso e com sede de poder deseja executar um plano insano de usurpar o governo das chamadas Cinco...