Escolhido

260 26 77
                                    

Hori, das Cinco Ilhas.
13 anos depois.


— Ai, dá para você chegar para lá? — Jongho perguntou irritado, virando-se para encarar o amigo escorado em seus ombros.

— Não, não dá! — respondeu San, também irritado, olhando-o como se fosse óbvio.

— Calem a boca um pouco, os dois! — Agora era Hongjoong que estava irritado, fazendo o máximo para sussurrar sem perder a autoridade. Os dois atrás de si ficaram quietos a contragosto.

Os três se apertavam um contra o outro, escondidos atrás de um dos pilares que sustentavam o grande píer acima deles, pelo qual um grupo pequeno de homens estava prestes a desembarcar. Eram todos jovens que aparentavam ter entre 19 e 25 anos, como Hongjoong esperava.

Depois de anos observando o porto de longe, a atividade da tripulação do Usurpador e tudo que envolvia seu ir e vir de Hori, Hongjoong sabia exatamente que naquele dia, 29 de fevereiro, dia dos lucros, um navio não tão grande chegaria na ilha por um lado diferente do costumeiro. Ele sabia que não desembarcariam pelo porto, pois por lá estavam chegando os navios mercantes com novas mercadorias para a ilha e saindo outras para as demais ilhas tomadas.

Portanto, os piratas viriam por aquele píer para pegar e levar até as mãos do Usurpador o dinheiro dos lucros. Ficava próximo do porto, mas não tanto, e do lado oposto à gruta, a casa deles. Logo, não era arriscado para eles. Não tanto.

— Se vocês ficarem quietinhos e colaborarem, o plano vai dar certo sem muito esforço. — Hongjoong virou-se novamente para os amigos após ouvir os barulhinhos de agressão mútua que eles tentavam abafar, e pegou no flagra Jongho com o pescoço do San preso por baixo do braço enquanto o mais velho dava socos desajeitados na barriga dele para tentar se soltar. — Pelos mares, parem de brigar! 

— Foi ele que começou! — Jongho acusou, soltando o mais velho e o atirando na direção de Hongjoong, que o segurou sem muita paciência.

— Mentira! Você sabe que nunca sou eu que começo. — San fez uma carinha tão adorável ao olhar para Hongjoong em busca de aprovação, que o mais velho quase se derreteu por ele. E teria mesmo, se não o conhecesse o suficiente para saber que ele, além de malandro, era implicante.

— É sempre você que começa, Choi San, dá um tempo! — Hongjoong apertou os pequenos olhos para ele e o empurrou de leve para longe de si. San sabia que não ia colar, mas gostava de atentar a paciência dos amigos mesmo assim, dava para enxergar perfeitamente isso no sorriso arteiro dele. — Agora, quietinhos, eles estão vindo!

Os três ficaram em silêncio à medida que os passos na madeira úmida se tornaram mais altos. Os homens estavam em dez, um número bem pequeno levando em conta as outras vezes que desembarcaram e estavam sempre em grupos grandes. Mas Hongjoong apenas agradeceu internamente, afinal, menos homens significava menos dificuldade.

Ele reparou que todos estavam vestindo a mesma roupa, como se fosse algum uniforme ou coisa do tipo. Todos de sobretudo de camurça preto, com enfeites metálicos alaranjados que ligavam o lado direito ao esquerdo. Por baixo, camisas de um laranja escuro, parecendo sujas e desgastadas, largas e com cadarços na frente. Bandanas de um laranja quente cobriam os cabelos de alguns. E, como de costume, as calças grossas enfiadas para dentro das botas pesadas, tudo em preto.

Essa coisa de roupas bonitas e iguais era novidade para Hongjoong, já que no mês passado as únicas coisas que informavam que eram homens do Usurpador eram as espadas presas ao corpo e o fato de caminharem com elas pela ilha tranquilamente sem medo dos piratas de plantão os pegarem — porque eles também eram os piratas. Um ponto de vantagem nesses "uniformes" é que facilitariam o plano de Hongjoong, pois seria muito mais fácil se infiltrar no meio deles se parecendo com um deles. O que deixou o garoto preocupado foram os cinturões rodeando as cinturas, carregados de armas... Não só espadas, pistolas também. Eles não estavam tão bem armados assim na última vez, estavam? Se estavam, Hongjoong não lembrava e ele quis muito se socar por isso.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora