Liberta-te da tua condenação

43 3 60
                                    

Você entrou onde não devia. Viu o que não podia. E deixou a porta aberta ao sair.

Por isso estamos aqui.

Por isso estamos com você.

Por isso aguardamos

                  o momento em que te levaremos

para a ardência do inferno.

Por ter se intrometido
no fluxo do mundo. 

Por ter espreitado a divina construção do futuro e desrespeitado a ordem natural, querendo brincar de deus e mover as peças com suas próprias mãos humanas.

Foi por ter zombado da linha temporal que estamos atrás de você.

Você nunca devia ter nos invocado. Nunca devia ter ido atrás do futuro, tampouco do passado. Nunca devia ter tentado espionar as almas daqueles que foram chamados e escolhidos.

Você deu um passo maior que a perna.

E é por isso que estamos aqui. É por isso que você está em tormento eterno.

Foi condenada a enxergar a verdade vazada da porta que você mesma deixou aberta, e é por isso que você enxerga a podridão na face do homem com quem se casou. É por isso que você vê um monstro no rosto do seu filho.

E é por isso que você o amaldiçoou. Você o abominou. Descartou. Maltratou. Machucou. 

E o quebrou.

Agora que ele interrompeu o destino

você se lembra?

Sooyoung abriu os olhos tão rápido que achou que eles saltariam para fora de seu rosto. E embora ela estivesse deitada olhando para o teto do dossel de sua cama, seus olhos não focavam.

Havia um zumbido nos ouvidos, e a cabeça dela girava mesmo estando imóvel. A respiração dela não funcionava mais como ela se lembrava. Sooyoung sentia-se despertando de um descanso de anos. O corpo estava tão pesado que só de pensar em se levantar, já a cansava; o peito subia e descia rápido, seus pulmões doíam.

O zumbido estava sumindo aos poucos. E, aos poucos, silêncio...

Silêncio.

Um horripilante silêncio.

Ninguém mais falava em seus ouvidos. Ninguém mais olhava para ela por de trás das cortinas.

No entanto...

A cabeça dela latejou violentamente, e foi como se tivesse sido sugada para dentro da própria consciência. Para que ela visse...

Seonghwa, diante de seus olhos, pequeno e cabisbaixo. Uma criança de olhar tão triste e desamparado. Vez ou outra, ele erguia os olhos inundados. Erguia para ela... para vê-la encarando-o com repulsa.

O coração dela doeu vendo a si mesma. Vendo a forma como olhou para ele naquele dia.

Mas então ela se lembrou. Não era Seonghwa quem ela tinha visto naquele dia, era uma forma maligna e sadicamente sorridente. Ela gritara de pavor, empurrara a coisa para longe e o ofendera.

E, naquele momento, dentro de seu subconsciente, ela descobriu que a coisa era Seonghwa, distorcido por seus olhos condenados. E o coração dela doeu mais.

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora