As Escrituras

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Meio, Estreito de Aurora.

Nenhum dos nativos atirou flechas contra eles enquanto o bote flutuava pela calmaria da água. E era assim que Hongjoong esperava que fosse mesmo. Ele e Wooyoung eram justos, e, segundo as Histórias Antigas, a passagem era dada aos justos.

E eles passaram, tranquilamente, por todo o Estreito. A pequena ilhazinha diante deles era diferente de tudo que já tinham visto — e Wooyoung já tinha visto muita coisa mundo afora. Parecia uma toca de coelho gigante. A faixa de areia da "praia" era minúscula, perdendo espaço para a plantação, que cobria todo o resto, inclusive o morro para cima da entrada.

Se olhassem a pequena ilha pelo outro lado, pensariam tratar-se apenas de um montinho de floresta e areia perdido e separado das ilhas que o cercam. Jamais pensariam que existia um buraco na parte da frente, uma entrada cavernosa para dentro da terra, para abaixo do nível do mar.

Mas ali estava.

Não havia ondas, as águas eram dóceis. Wooyoung remou até onde o bote agarrou. E então eles saíram e puxaram a pequena embarcação para fora da água.

Claro que era maior de perto, ainda assim era uma ilha muito menor do que qualquer outra que já viram. Talvez por isso fosse chamada apenas de caverna pelo povo das Gêmeas. Porque era a única coisa que havia ali, fora as plantas e a areia.

Eles se dirigiram até a frente da entrada, que era alta o bastante para fazê-los olharem para cima. Algumas plantas compridas pendiam lá de cima, como se cobras descessem do morro e se pendurassem na parte superior para vigiar a entrada. Parecia tão assustador quanto bonito.

O exalar de Wooyoung foi audível de tão pesado. Mas talvez a intenção fosse fazer ser ouvido mesmo. Hongjoong virou a cabeça para ele, estava com as mãos na cintura, encarando a caverna como se fosse um desafio exaustivo. Parecia cansado só de olhar.

Wooyoung devolveu o olhar.

— Não sei se estou pronto para ver com meus próprios olhos que tudo aquilo do qual eu ri e desacreditei a vida toda é real.

— Acha que estou pronto para aceitar que uma bola iluminada no céu me escolheu para salvar um conjunto de ilhas desconhecidas pela maior parte do mundo? Ou que o melhor amigo, que eu conheci por acaso em uma gruta e salvou minha vida, foi escolhido por uma bola ainda maior e ainda mais iluminada para me ajudar a salvar esse conjunto de ilhas? E que esse mesmo amigo tem uma mecha loira na cabeça porque essa bola muito grande e muito iluminada no céu o beijou?

Wooyoung piscou por alguns segundos. E, então, riu.

— E seu outro amigo tem olhos cristalinos porque o oceano, o protetor dele, preencheu-os com as próprias águas.

Os dois se olharam por alguns segundos. Mais alguns... e explodiram em riso.

— Você está olhando para um garoto agora, Kim Hongjoong, mas se você piscar... eu posso virar um vulcão e EXPLODIR!

Wooyoung encheu as mãos de areia e jogou tudo para o alto, em uma encenação sofrível de erupção. Hongjoong, que nunca tinha visto uma peça de teatro antes, gargalhou até a barriga doer.

— E o bundão do Yeosang, que devia ser uma coroa, e está lá nos dando trabalho e prejuízo — o haliano fez um bico. — Kang Yeosang, a personificação daquela coisa de cabeça, sabe... Coroa? Não! Dor! Dor de cabeça!

Ele é o ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora