Choi San, 8 anos. Hori, das Cinco Ilhas.
Hori parecia ter um sol próprio só para ela, pois o calor era intenso e dificilmente chovia ou fazia frio. Mas San não reclamava, ele gostava do calor e, para ele, o sol deixava a ilha ainda mais bonita.
A água da praia cobrindo seus pés era tão cristalina que possibilitava a perfeita visão de todos os dedinhos se remexendo na areia pálida. Hori possuía algumas das praias mais bonitas do continente, era uma pena que agora sua beleza não poderia mais ser apreciada apropriadamente...
Depois que o Usurpador chegara com seus homens de preto e laranja, o menino nunca mais ouviu risadas, vozes felizes e conversas agradáveis na feirinha entre os comerciantes e visitantes. Ele nem podia chegar perto do centro da cidade, porque se o vissem, seria levado como as outras crianças foram.
A praia estava deserta como de costume, por isso ele estava tranquilo, sentindo as fracas ondas tocarem as canelas e aproveitando o calor do sol que aquecia o rosto. O brilho do cabelo preto estonteante contrastava deslumbrantemente com a solitária mecha platinada, cujas pontas acariciavam a sobrancelha esquerda. O sol realçava a beleza peculiar do pequeno San.
Naquele momento, olhando para o horizonte azul claro, ele não pensava em mais nada além de sair mundo afora e não voltar nunca mais. Tinha medo de estar fadado a viver o resto da vida na grande gruta a alguns metros atrás de si, cuja entrada era escondida por plantas e folhas compridas que pendiam de cima dela.
— Sanie! — Ouviu a voz familiar soar ao longe, tirando-o de seus pensamentos, e virou para trás.— Tio Hyuk. — Ele não estava tão animado quanto o tio, que carregava uma cesta grande nos braços.
O homem fez um gesto com a cabeça para chamá-lo e San não demorou a se mobilizar, embora não quisesse ir. Mal havia tirado os pés da água e já estava se sentindo mais incompleto. Queria poder ficar para sempre sentindo o mar e o sol tocando a pele, pois lhe trazia paz.
Mas, para a infelicidade dele, não podia viver só de água salgada e raios solares, o tio o lembrou disso ao tirar o tecido amarelo desgastado da cesta e revelar diversas frutas frescas quando o menino se aproximou.
— Estão bonitas, não? — O homem sorriu orgulhoso.
— Estão. — O sobrinho desanimado deixou a resposta fraca para trás junto com homem e continuou a caminhar na direção da gruta.
— Sanie, eu sei que era melhor comida de verdade, com grãos, carnes e tudo mais, mas foi o que eu consegui hoje. Não fique chateado — o homem seguiu atrás do menino.— Não é pela comida, tio. — San virou para encarar os olhos esverdeados do parente. A expressão no rosto dele era preocupada e compreensiva, moldada por cabelos castanhos curtos que balançavam sutilmente com a brisa. — Estamos vivendo assim há meses. Quando vamos sair e recuperar nossa dignidade?
— Do que adianta ter dignidade se estivermos mortos, San? — Hyuk já ouvira esse papo antes e não queria ter que discuti-lo com o menino mais uma vez. — Estamos aqui, mas pelo menos estamos vivos!
— Então por que eu me sinto morto? — A voz do garoto se elevou brevemente sem perceber. Ele também não aguentava mais discutir aquele assunto. A opinião dele nunca era levada em conta, pois ele era "jovem demais para entender a gravidade da situação".
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Ele é o Rei
AdventureToda a infância de Kim Hongjoong fora destruída num piscar de olhos quando a denominada Invasão aconteceu na ilha em que morava. Um velho pirata ganancioso e com sede de poder deseja executar um plano insano de usurpar o governo das chamadas Cinco...