Ele é o Rei

Aquele desgraçado

King Island, das Cinco Ilhas.

Minnie estava sentada numa cadeira de madeira simples no próprio quarto. No seu lado direito, Hang estava sentado em outra cadeira. De frente para ela, o herdeiro estava de pé com uma pistola na mão, que por sua vez estava apontada para a cabeça de Kyum, também sentado numa cadeira de frente para ela.

Gotas de suor escorriam pelas costas de Minnie, escondidas pela cascata negra de cabelo.

— Então, minha adorável bruxinha — disse o herdeiro em seu tom suave. — Você tem essas duas opções: fazer o antídoto para o meu pai ou deixar Choi Kyum ter a cabeça estourada por essa arma — ele gesticulou sutilmente com a cabeça para a pistola.

Minnie apertou os dedos dos pés, nervosa.

— E você vai fazer isso na minha frente. Se algo acontecer com meu pai, se passar mal, se desmaiar ou morrer, Kyum leva um tiro no mesmo instante.

Minnie olhou para Kyum, ele balançou a cabeça negativamente num gesto sutil. Não obedeça.

— Se ele passar mal ou morrer daqui a algum tempo, eu vou saber que foi graças a você e vou atirar em Kyum.

Minnie engoliu. Ela olhou de Kyum para Hang e então para o herdeiro. Ele apertou os dedos na pistola.

— Minnie, não faça — disse Kyum apressadamente.

O herdeiro sorriu para ela, um sorriso de desafio, sádico, apenas esperando a decisão dela. Seria divertido para ele se ela negasse, ele atiraria em Kyum e a veria sofrer, alegando tranquilamente que era culpa dela por não ter obedecido. Não fazia diferença para ele. Ele podia trazer mais e mais amigos dela para o abate, até que ela estivesse destruída o suficiente para não resistir mais.

— Eu farei.

O herdeiro tirou imediatamente a pistola da cabeça de Kyum e a guardou.

— Mas lembre-se que o antídoto cura o corpo, não a mente — ela avisou, olhando de canto para Hang.

Kyum abaixou o olhar, suspirando, derrotado. Ela também, derrotada.

— Muito bem, bruxinha! — Ele sorriu, e o sorriso chegou até os olhos, como se ele estivesse genuinamente contente. — Agora, próximo passo...

Minnie ergueu o olhar para ele. Kyum ficou atento, temeroso.

— Eu sei que você sabe e quero que me conte — começou ele. — Onde estão as Escrituras? 

Ela não conseguiu impedir o suspiro surpreso de escapar. Por que ele queria aquilo? Como ele sabia daquilo?

— Acho que você já percebeu que a Profecia está se cumprindo há um tempo. E, como eu e você sabemos, ela pode ser interrompida. Onde estão as Escrituras com a profecia?

Minnie ficou estática. Aquilo era segredo de séculos. Muitos séculos. Ou milênios, ela não sabia. Mas tinha certeza que era um segredo. E era um segredo espirituoso, cultivado por um povo de muita fé, como os feiticeiros, e ela não achava que o herdeiro era muito religioso ou espiritualista. Minnie tinha muitas informações e muito conhecimento que lhe foram passados pela sua mãe, e ela lembrava de tudo.

Já era algo além do aceitável o herdeiro saber sobre a maleabilidade da profecia — todos deviam acreditar que ela era absoluta. Sendo assim, ela não abriria ainda mais margem daquele segredo para ele.

— Não vou dizer que não sei, porque você sabe que eu sei — disse ela. — Mas não vou te contar. Não posso deixar algo tão sagrado quanto as Escrituras cair nas suas mãos malignas.