capítulo trinta e dois;

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G A B R I E L

Era uma sala branca com decoração simples. O cheiro de hospital já não me incomodava tanto quanto antes, já que eu estava frequentando-o demais de um tempo pra cá.

Minha mãe já tinha feito a sua sessão, e agora esperávamos a chegada do médico (que uma das enfermeiras disse ter tido um imprevisto) para que ele nos desse o resultado dos exames que ela fez semana passada. Ela estava quieta, calada. Não se parecendo 1% com a mulher que me recebeu quando a peguei em casa, esta que preenchia o silêncio durante maior parte do caminho. Se tornou comum que ela ficasse cansada depois da quimioterapia, já que era um dos efeitos colaterais, entre outros.

—— Boa tarde —— o doutor disse entrando naquele mesmo instante, vindo até nós e contornando a sua mesa, nos entregando um sorriso amarelo. Consultei o relógio de pulso, percebendo que já era meio dia. —— Me desculpem pelo atraso, tive um pequeno imprevisto.

Minha mãe abanou a cabeça e fez um gesto com a mão, dispensando sua preocupação.

—— Não precisa se desculpar, não esperamos quase nada.

Ah, mas esperamos sim. Uns vinte minutos desde que ela terminou a sessão.

Revirei os olhos, incomodado com a sua mania de tentar não ser inconveniente quando aquilo era o de menos: estávamos pagando pra ter o melhor atendimento nesse hospital, que não era nada barato, o mínimo seria nos atenderem na hora.

—— Como correu a sessão de hoje? —— o médico questionou, começando a vasculhar uma pilha de papéis na mesa.

—— Bem, estou me acostumando.

O homem sorriu, recolhendo um envelope.

—— Algum problema com a medicação nova? —— Dona Michele negou e ele assentiu, abrindo o objeto e retirando uma folha do mesmo. Me vi sentindo um formigamento desconfortável no estômago enquanto ele levava seu tempo para ler a informação. Minha mãe soltou um suspiro trêmulo, atraindo minha atenção. —— Esses são os resultados dos exames que pedimos que fizesse na semana passada —— o doutor disse, ajeitando os óculos na ponte do nariz e em seguida olhando para nós. —— E eu tenho boas notícias.

Minha mãe, que parecia estar esperando algo totalmente oposto, olhou surpresa para mim.

—— Boas? —— perguntou, se voltando pro doutor, que assentiu.

—— Sim. O tratamento está surtindo efeito, e aqui diz que a senhora está em remissão parcial —– ele explicou, tirando os óculos e colocando-os na mesa. —— Não significa que o câncer desapareceu, mas houve uma redução de 76% do tumor. Isso é um número muito bom. Precisamos continuar com a sessões e voltar a fazer exames para acompanhar por um mês no mínimo para termos certeza.

—— Nossa, isso... —— ela balbuciou. —— Eu nem consigo...

—— Você está indo bem no tratamento, Sra. Michele. —— Ele parecia bastante satisfeito.

—— Por que para ter certeza? —— perguntei. —— Quer dizer que mesmo que ela continue com o tratamento o estado dela pode regredir?

—— Sim, acontece. Há vezes em que os pacientes entram em remissão mas depois o câncer volta, é um processo chamado recidiva. Por isso é importante ficarmos bastante atentos pra evitar isso. E com esses exames, com a remissão parcial, nós podemos ter esperança de que o tratamento só melhore o seu estado e possivelmente nos leve para uma remissão total, não significando que o câncer será curado, porque como já informei a vocês, não é, mas significando que ele já não aparecerá nos exames; deste modo... pode ser possível remover o tumor com uma cirurgia curativa, a Whipple.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora