capítulo seis;

7.2K 574 347
                                    


G A B R I E L


—– Espero que haja uma razão muito boa para estar batendo na minha porta a essa hora —— falei assim que abri a porta, vendo Bárbara do outro lado.  

—— Se é uma razão boa ou não, você quem decide, mas precisa ficar pronto em vinte minutos.

—— O quê? —— Bocejei, tentando me manter em pé após ter dormido lá para as cinco.

Aliás, que horas eram?

—— Acorde, porra! —— Ela estalou os dedos na minha cara e segurei sua mão. Odiava quando ela fazia aquilo. —— Eu nem devia estar aqui.

—— Concordo.

—— Ugh! Você é um babaca! — Cruzou os braços.

Me encostei ao batente e imitei seu gesto.

—— Vai falar logo por que está aqui ou gosta do que vê? —— provoquei.

—— Querido, não se ache muito, ok? —— Ela revirou os olhos, mas mesmo assim notei eles descendo pelo meu tronco nu.

Ri, sarcasticamente.

Ela nunca resistia e eu adorava aquilo.

—— Ok, agora sério —— falei, tirando o sorriso do rosto.

—— A Daphne chega hoje.

—— Quem?

—— A Daphne —— ela repetiu, me olhando como se estivesse dizendo que 2+2 eram quatro. —— A nova integrante da casa. Chega hoje.

—— E eu com isso?

—— Mais especificamente daqui a meia hora. Ou menos. O PlayHard ainda não chegou, então fique pronto e desça antes que ele descubra.

"Fique pronto!", "Desça antes que ele descubra!". Todas aquelas frases naquele tom imperativo estavam me enervando, mas a sonolência não me permitiu ter uma reação que satisfizesse meu ego.

—— Você sabe que ele não faria nada comigo.

Ela revirou os olhos castanhos, bufando.

—— Se prepare!

E após ditar sua "ordem", Bárbara se virou e sumiu pelo corredor. Fechei a porta, tomei um banho e me vesti.

Quando desci, todos já se encontravam na sala, sentados e enfileirados no sofá como bonitinhos meninos da pré-escola. PlayHard surgiu minutos depois, entrando na companhia de Jesus.

—— E aí, chefinho —— Gilson cumprimentou.

—— Me desculpem a demora. Tráfego de São Paulo. Enfim, a Daphne chega daqui a menos de quinze minutos segundo o Roberto. —— Roberto era o motorista. —— Leram o guia?

—— Que guia? —— Gilson perguntou e PlayHard o olhou de cara feia. Ele levantou as mãos em rendição. —— Calma, chefinho, eu li, eu li. Não me mate agora, ainda quero ter um filho para lhe dar o nome de Gecicleydson.

Eu não havia lido porra nenhuma. Aquele guia estava apodrecendo na minha cômoda, e eu sempre esquecia de sua existência até quando ia pegar o meu maço de cigarros e ele estava por baixo dele.

Não importava, no dia em que o recebi e dei uma olhada, eu não tinha muita coisa pra fazer. E aquela coisa toda da recepção não era algo novo, sempre podia improvisar. Sem contar que as bocas de Gilson, Bárbara e Marcos já faziam o trabalho por conta de mil pessoas.

Carolina estava entretida com a conversa do Gilson. Milena estava quieta mexendo no celular e Arthur voltará de sua casa na próxima semana, pelo o que parece.

—– Sejam simpáticos com ela e muito cuidado com as vossas palavras.

—– E o que isso quer dizer? —— Marcos perguntou, parecendo tão confuso quanto nós.

PlayHard nunca havia dado um aviso de uma forma tão seria.

—— Vocês descobrirão assim que ela chegar —– ele finalizou. —— E ah, sejam discretos, por favor.

—— Por que precisaríamos ser...

—— Ela chegou! —— PlayHard interrompeu Gilson assim que ouvimos a buzina do lado de fora.

Ele saiu e nós ficamos à espera. Me ajeitei na poltrona, entediado, escutando os murmúrios das garotas e vendo algumas notificações no meu celular.

As pessoas ainda estavam falando sobre a NFA. Eu não tinha muito a comentar. Odiava perder e tocar naquele assunto me causava dor de cabeça.

Meus devaneios foram interrompidos quando a porta foi aberta e PlayHard surgiu acompanhado. No momento em que meus olhos a encontraram, eu entendi o que ele quis dizer para nós, e soube também que tudo estava perdido.

Todo aquele tempo tentando varrer meus pesadelos para debaixo do tapete não valeram de nada, pois agora eu tinha alguém que era a personificação deles bem na minha frente.

Não tinha para onde correr; a quem recorrer.

Daphne era o karma que a vida tinha guardado para mim durante todos aqueles anos.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora