capítulo quarenta e um;

5.5K 422 579
                                    

D A P H N E

—— Onde você conseguiu todo esse dinheiro? —— TH perguntou, apoiado à parede e com um baseado preso no canto dos lábios.

Eu ainda esperava ter vindo aqui e encontrado apenas seus comparsas. Ele raramente estava em casa; sempre ocupado por aí cometendo crimes. Mas para o meu azar hoje, eu dei de cara com ele, tanto que foi quem me atendeu na porta.

A mochila que eu trouxe estava na mesa de madeira à frente dele enquanto o mesmo tinha algumas notas na mão, contando o valor.

—— O importante é que eu tenho, não? —— rebati, sem nenhuma noção do perigo.

TH não me assustava. Se fosse pra ele fazer alguma coisa, já teria feito faz tempo. Faz anos, porque eu e a minha mãe andávamos por aí como uma prova ambulante da dívida que meu pai deixou.

Minha mãe sempre tentava pagar uma parte que fosse da dívida sempre que podia, então ele se contentava em pregar sustos pra ela na rua, ou até pra mim, quando mandava uma de suas pessoas, mas nunca chegava a passar barreiras como ir até minha casa.

Eu o conhecia desde que era uma pré-adolescente. Naquela altura eu lembro de ter tido um crush por ele porque ele era um jovem no auge dos seus vinte anos, de cabelos encaracolados e que andava sempre sem camiseta, deixando seu peitoral à mostra. O tempo passou e hoje em dia ele tinha muito mais músculos, ainda não tinha perdido a mania de andar descamisado por aí, mas eu já havia crescido e ganhado algum senso.

TH enfim terminou sua contagem, olhando para mim.

—— Continue assim todo mês e quem sabe até o próximo ano consegue quitar a dívida —— declarou, gritando o nome de uma garota, que rapidamente surgiu no local trajando roupas apertadas. Ela me olhou depressa. —— Não quero nenhuma de vocês tocando nessa grana —— alertou, com o tom sério. A mulher assentiu. —— Se eu perceber que uma nota sumiu, você vai ficar sem cabelo, entendeu?

—— Sim.

—— Avisa isso para as outras vadias —— ele disse, e então observamos ela se retirar. Respirei fundo, incomodada com tudo aquilo. Eu só queria ir embora, mas o fato de não sentir medo dele não significava que eu podia simplesmente mandar ele pra merda e dar meia volta. —— Agora, onde você conseguiu esse dinheiro? E dessa vez quero que me responda.

—— Eu comecei a trabalhar —— falei, vendo ele afinar os olhos. —— Já faz um mês, por isso não estava aqui.

—— Que você não estava aqui eu ouvi por aí —— ele disse, se aproximando devagar. —— Mas que merda de trabalho é esse que você me vem com isso —— apontou para a mochila atrás dele com o polegar, ainda me olhando —— em apenas um mês? São oitenta mil aí, lindinha, isso não é pouco dinheiro.

Eu precisei levantar a cabeça para olhá-lo, tamanha era a nossa aproximação.

—— Internet. Você ficaria surpreso se soubesse quanto é possível ganhar lá.

Ele me analisou por um tempo, vasculhando o bolso e colocando um outro cigarro na boca, se afastando.

—— Tanto faz. Desde que vocês me paguem o que o vosso ente querido deixou.

Desde o sumiço dele, todo mundo o considerou como morto, era mais fácil. No entanto, eu não descartava a possibilidade de que ele estivesse por aí, perdido com uma agulha no braço.

—— A gente vai pagar —— afirmei, já fazendo a minha saideira. —— Mas hoje em dia eu já não o consideraria um ente querido.

TH abriu um sorriso pequeno, soltando a fumaça e me fazendo perceber que havia sido apenas uma provocação.

—— E devia tomar cuidado. Andar com essa quantidade de dinheiro numa mochila não é muito seguro.

Eu assenti e me virei, revirando os olhos enquanto saia da casa. Ele estava me falando de perigo?

O ar pareceu até mais puro do lado de fora (e era), longe de toda aquela fumaça e cheiro de sexo.

Ouvi alguns comentários maliciosos dos amigos dele que conversavam perto do portão, ignorando-os quando começaram a assobiar e indo em direção ao ponto de ônibus.

Eu sentia um frio na barriga, mas ele era bom, porque agora, mais do que nunca, eu sabia que finalmente estávamos a um passo de nos vermos livres da dívida do meu pai ou de qualquer coisa que nos conectasse ou nos fizesse lembrar dele.

Me sentei no banco, vendo o carro arrancar e me sentindo feliz enquanto olhava o sol se pôr; nem parecia que no dia anterior eu havia passado a noite toda chorando por causa do meu término que nem uma condenada. Talvez as coisas realmente começassem a dar certo daqui pra frente.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora