capítulo cinquenta e sete;

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D A P H N E

— Vai depender do que você vai dizer ao abrir a boca agora — murmurei, voltando a atenção para o celular.

Ele fechou a porta e se aproximou sorrateiramente, parando ao lado da cama. Pelo canto do olho pude ver ele cruzando os braços, me encarando fixamente, provavelmente querendo que eu lhe desse atenção.

Acontece que eu não estava mais tão brava quanto antes. O que ele fez foi algo idiota, sim, mas não ia condená-lo até a eternidade; mas eu ainda queria que ele admitisse o erro.

— Desculpa — Gabriel disse meio relutante e eu me segurei para não demonstrar a minha surpresa, continuando com o olhar despreocupado no celular.

Eu não imaginei que ele, sendo o cabeça-dura que é, fosse ceder tão facilmente. Estava esperando que ele viesse aqui tentar provar o que fez ou não fez, e não apenas tentar resolver tudo com um pedido de desculpas.

Não me aguentando ao sentir meu rosto queimar com seus olhos em cima de mim, eu o fitei. O rosto dele estava tão emburrado quanto o de uma criança que era obrigada a comer legumes em vez de doce, e se eu não estivesse tentando bancar a egípcia, teria rido da sua cara.

— É mesmo? — perguntei, sem muita animação.

Um suspiro rompeu no ar.

— É.

Voltei a minha atenção para o celular.

— Hm.

O aparelho escapou das minhas mãos quando ele se inclinou e o roubou de mim, jogando-o no meio da cama.

— Estou falando sério. Se isso te incomodou de verdade mesmo, então desculpa.

— Foi algo meio infantil de se fazer, né? — Me sentei.

— Talvez — ele disse, quebrando o contato visual. Arqueei as sobrancelhas. — Ok, foi infantil. Mas, porra, a gente tinha acabado de passar a tarde e a noite juntos, aí eu vou te deixar em casa e dou de cara com ele lá. Sei lá, me senti meio troca... — Ele travou no meio do discurso, olhando para mim como se estivesse absorvendo as próprias palavras.

Cruzei o cenho, o fitando com desconfiança.

— Se sentiu meio...?

Gabriel negou.

— Esquece. Foi mal, ok? Só para de me ignorar porque isso está chato pra caralho.

Ele ia dizer que se sentiu trocado? Porque se fosse, então ele tinha feito aquilo não para aumentar o seu já gigantesco ego, e sim para consolar o mesmo. Ele havia ficado com ciúmes.

Eu não sabia dizer o quão hilário era aquilo vindo dele. Nem parecia fazer o seu tipo.

— Impressão minha ou você ficou com ciúmes? — provoquei.

Gabriel fechou a cara. 

— Não viaja, Daphne.

Eu soltei uma risada, balançando a cabeça como se estivesse desapontada.

— Quem diria ein, loud bak? — frisei a última parte, vendo ele apertar o maxilar. — Quem te viu, quem te vê...

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora