capítulo sessenta e três;

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Gabriel

Horas atrás

Eu deixei Daphne no quarto e sequer olhei para trás.

Eu queria resolver as coisas, eu iria resolver as coisas, mas minha mãe era prioridade. Sempre foi.

Meu peito disparava a mil por hora, claramente mais acelerado que o carro enquanto eu ia pro hospital. Pensar nas possibilidades que fizeram com que eu recebesse a ligação resultavam em um velocímetro estourado e num estômago revirado.

Ela está bem, eu repetia a cada curva, me convencendo de algo que a mulher se recusou a confirmar.

Puta que pariu.

O pneu cantou no asfalto quando travei, descendo do carro e correndo pelo estacionamento molhado enquanto ativava o alarme. 

Minhas pernas doíam enquanto eu pulava os degraus subindo para o andar que ela estava, já que a merda do elevador não chegava.

À frente da porta dela uma enfermeira e o médico conversavam.

— O que aconteceu? — perguntei quando me aproximei, percebendo o olhar deles no meu traje encharcado. Que se dane, pensar em um guarda-chuva era a menor das minhas preocupações. Bufei quando continuaram me encarando. — Só me fale o que houve. Minha mãe está bem?

Ele fez um gesto para a mulher, que se retirou após me cumprimentar silenciosamente.

— Ela estava se queixando de uma forte dor no peito e no estômago — explicou. — Demos analgésicos, ela adormeceu. Acontece que... durante esse tempo ela teve uma parada cardíaca. — Meu sangue gelou. — Conseguimos trazê-la de volta — ele acrescentou quando provavelmente viu a minha expressão. — Isso foi há duas horas. Ela acordou novamente há menos de vinte minutos e pediu para vê-lo.

Soltei o ar denso em meus pulmões.

— Uma parada cardíaca? Isso é normal?

O médico encarou a prancheta em suas mãos.

— É um cirurgia complicada, eu disse desde o começo.

Sacudi a cabeça, não percebendo quando meus pés começaram a andar de um lado para o outro.

Ela estava bem — recordei, conseguindo finalmente travar minhas pernas inquietas. — Ela está bem. Eu estive aqui algumas horas atrás e ela... ela estava bem.

— Eu entendo como se sente...

— Não, você não entende! Sabe o que eu tive de fazer pra que ela esteja aqui? Recebendo essa merda de tratamento? Fazendo essa cirurgia? — questionei, suspirando ao ver seu olhar confuso. — Ela vai ficar bem?

— O corpo dela está lutando pra tal. Ela está lutando pra isso.

— E o que isso quer dizer?

— Quer dizer que já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Agora precisamos esperar pra ver como ela vai reagir a cirurgia. 

A pergunta estava entalada em minha garganta.

Eu sabia que teria de fazê-la, mas dizer tornaria tudo aquilo real, palpável, e eu não queria. Não queria que aquela fosse uma possibilidade; ela estava bem até horas atrás.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora