capítulo sessenta e nove;

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Daphne

Não é que melhorou mesmo? Estiquei o meu pé, suspirando aliviada quando não senti dor.

Gabriel arrastou minimamente o canto da boca e guardou a compressa na vasilha.

O sofá afundou quando ele sentou ao meu lado e apoiou a cabeça na parte traseira; um suspiro pesado deixou seus lábios quando ele fechou os olhos, certamente exausto.

— Você comeu alguma coisa desde ontem? — perguntei, vendo ele abanar a cabeça em negação. Reprovei a atitude, mas ele não viu porque ainda permanecia de olhos fechados. — Vou fazer alguma coisa.

Peguei impulso para levantar, mas sua mão me impediu.

— Não precisa — murmurou, parecendo fazer muito esforço para falar.

Eu não duvidava que toda essa letargia era porque ele não tinha se alimentado. Eu cheguei ontem, mas não sabia se antes disso ele comeu alguma coisa.

— Como não precisa, Gab? Você passou o dia bebendo ontem.

— Tomei café antes de você acordar — se justificou, fazendo com que eu o olhasse como quem dizia "sério?". — Não precisa se incomodar com isso, sério mesmo. Daqui a pouco eu vou ter que sair, voltar pro hospital e tratar da certidão de óbito e toda essa papelada. Eu pego algo pelo caminho.

Ponderei, não acreditando muito que ele realmente se alimentaria.

— Eu também estou com fome, então por que a gente não faz assim: você toma um banho pra relaxar e eu faço algo pra nós comermos. E como eu vou ficar uns dias por aqui, preciso de roupa. Quando você for pro hospital passa a me deixar em casa pra eu levar.

Ele pareceu pensar na proposta, ainda esparramado no sofá. Deslizei meus dedos pelos seus cabelos, vendo ele piscar lentamente.

Era nítido que precisava dormir umas boas horas de sono.

— Hum? — Tentei novamente quando percebi que ele não tinha respondido; sua cabeça inclinava em direção ao carinho.

Ele voltou a abrir as pálpebras, descendo o olhar pelo meu nariz até parar no ponto acima do meu queixo. Sua mão subiu até o meu pescoço, se encaixando entre a parte traseira e minha mandíbula, e então seu polegar roçou meus lábios.

Você é tão linda, Daphne...

A forma como ele sussurrou aquilo com as íris fixas nas minhas fez meu coração palpitar. Meu estômago esfriou quando percebi ele aproximando o rosto até esbarrar nossos lábios delicadamente.

— Não queria sair daqui — soprou contra minha pele.

Apoiei minha cabeça em seu ombro.

— Podemos ficar mais um pouco.

Ele não se deu o luxo de relaxar por muito tempo, no entanto. Minutos depois o chuveiro já era ligado e eu me dirigia para a cozinha, decidida a procurar algo de jeito pra fazer: o básico teria de servir, até porque eu não sabia onde ficava a maior parte das coisas e não queria ficar abrindo armários.

Preparei torradas e ovos mexidos. Pra acompanhar tinha um suco de laranja pela metade que achei na geladeira.

Esperei Gabriel na sala, pegando no meu celular para ver se tinha alguma notificação importante.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora