capítulo sessenta;

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D A P H N E

Coloquei os meus pés para fora da cama, catando a blusa de alça e o short que formavam o meu pijama. Após vesti-los, cobri meu corpo com um robe e calcei meus chinelos, saindo do quarto.

A casa estava silenciosa e o corredor totalmente escuro; não havia nenhuma luz debaixo das portas dos quartos denunciando que alguém ainda estava acordado. Nem mesmo o de Milena; notei quando passei do local.

Desde aquela nossa conversa na cozinha, ela nunca mais havia tocado no assunto. Ninguém além de nós sabia do ocorrido e não agíamos de forma que alguém fosse desconfiar.

Nos esbarravamos nas gravações e pela mansão, era inevitável - trabalhávamos e "vivíamos" no mesmo local -, mas nem por isso eu tentava ser simpática como antes. E mesmo que tentasse, não daria em nada, porque ela comtinuaria me olhando torto por causa da aproximação que tive com Gabriel nos últimos tempos: Milena tinha um amor platônico por ele.

Pois é. Eu não sei como ele ainda não percebeu; é tão esperto para umas coisas e tão lerdo para outras.

Depois daquele dia em que ela veio me falar coisas sobre ele, passei a observar como ela agia na presença dele, e para mim se tornou claro por que ela inventaria coisas com o intuito de que eu me afastasse do mesmo. Mas agora eu não tinha assim tanta certeza de que ela tinha apenas enlouquecido, porque tudo que vi ao abrir a porta do quarto de Gabriel foi sua cama vazia.

O frio na minha barriga se intensificou; não sei por que sentia que estava fazendo algo de errado estando ali.

Talvez fossem apenas uma daquelas vezes em que ele sumia e voltava no dia seguinte? Nós éramos amigos mas ele não tinha a obrigação de me contar seu passos; eu tentei dizer para mim mesma, querendo que fosse isso, mas as chaves do carro estavam jogadas na cabeceira, fazendo com que as palavras de Milena ganhassem mais veracidade.

O que ele estaria fazendo no escritório de PH de madrugada? Sozinho? E se estivesse acompanhado... que negócios não podiam esperar para o dia seguinte? O que era tão importante? E o que eu tinha a ver com isso?

Algo em minha mente clicou e eu me lembrei de horas atrás quando ouvi um alarme na garagem. Lembrei do olhar vazio do garoto e de como ele parecia perdido em seu próprio corpo, apenas vagando nele. Lembrei de como nos deitamos e de como ele me agarrou contra o seu peito e eu pude sentir seu corpo inteiro tenso.

E então, noticiando a sequência de eventos estranhos, a noite na praia me veio à mente. Me lembrei dele dizendo que não era uma boa pessoa. Dele me dizendo que eventualmente me machucaria. De como ele parecia pisar em ovos a cada palavra que dizia e a cada ação que tomava, como se tudo fosse ter consequências desastrosas além do meu entendimento.

E agora eu me questionava por que não perguntei sobre aquilo no dia seguinte. Por que minha mente simplesmente deletou essa parte, ignorou todas aquelas palavras e me fez esquecer que os olhos dele brilhavam em arrependimento naquela noite?

Eu estava tão inebriada e entregue àquele momento que nem me passou pela cabeça que algo pudesse estar errado, e mesmo achando que eu poderia não encontrar algo bom no andar de baixo, eu desci.

A sala e a cozinha estavam escuras, no entanto, a lâmpada do corredor que dava as outras salas e ao escritório de PH estava ligada. Já no meio dele, eu consegui ver uma luz saindo por baixo da porta do cômodo.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora