capítulo setenta e oito;

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Gabriel

— Tem certeza que não quer comer nada? Tem bolo na geladeira.

Um sorriso largo iluminava o rosto dela.

Era inegável a semelhança entre as duas, principalmente pelo fato do cabelo cacheado ser quase do mesmo comprimento.

— Vou ficar só no suco, obrigado.

Já era a segunda vez que ela me falava sobre o bolo e eu estava começando a ficar com vontade de comer, mas meu estômago estava embrulhado e eu temia colocar tudo pra fora na primeira garfada.

Joana, como ela insistiu que eu a chamasse, concordou e voltou a se sentar na poltrona ao lado do sofá que eu ocupava, direcionando a atenção para uma novela mexicana (eu acho).

Isso provavelmente foi uma má ideia.

Onde eu estava com a cabeça quando decidi vir aqui sem avisar Daphne?

E se ela ficasse brava por isso?

Porra.

Mas não imaginava que ela fosse sair hoje. Muito menos depois de termos conversado ontem e ela não ter dito nada.

Não que devesse.

Fazia uns vinte minutos ou mais desde que cheguei e toquei à campainha, e ao invés dela, sua mãe atendeu. Quando procurei saber se podia chamá-la, disse que tinha saído algumas horas antes, à tarde, e que possivelmente estaria de volta pouco tempo depois.

Eram 19h23.

— Eu conheço essa atriz. Ela é de Amanhã é para sempre, não é? — questionei.

Joana arqueou as sobrancelhas para mim, assentindo.

— Ela mesma. Você é o primeiro homem que me comenta sobre uma novela. A maioria não gosta.

Eu prendi um sorriso.

— Na verdade eu também não gosto, mas minha mãe via bastante essa novela quando eu era mais novo. Na época eu jogava em um computador que ficava na sala, então via uma coisa ou outra.

— Uma coisa ou outra... sei. — Ela insinuou, brincando. — Eu amo novelas, me distraem. É o entretenimento dos velhos. Sou leiga demais até pro facebook.

— A senhora não parece velha nem de longe.

— Com você me chamando de "senhora", eu começo a duvidar disso. — Acusou, rindo de seguida. — Estou brincando, não precisa se envergonhar. Só acho formal demais. Você é amigo da minha filha e já nos encontramos várias outras vezes.

Tentei disfarçar a queimação em meu rosto com um pigarreio.

— É só costume — concluí.

Ela deu de ombros, não parecendo se importar muito.

— Vocês eram muito próximos? — perguntou, me deixando confuso. — Você e a sua mãe?

Abanei a cabeça.

— Acho que sim.

As coisas ficaram um pouco estranhas depois que Bea se foi.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora