capítulo trinta e sete;

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D A P H N E

Os dias se passaram muito rápido. Já ia fazer um mês que eu estava aqui na mansão, logo, estaria recebendo o meu primeiro salário. Eu não conseguia descrever o quão realizada eu estava me sentindo, sabendo que finalmente poderia ajudar minha mãe. A probabilidade é de que eu receba o pagamento amanhã, quinta, então sexta já estarei arrumando as coisas pra ir passar o fim de semana em casa.

Eu já antigi as horas necessárias pra esse mês, então não precisava me preocupar em fazer live de casa.

Boa parte dessa vantagem eu consegui porque passei muito tempo jogando com Gabriel nas últimas semanas, e ele conseguia fazer tranquilamente mais de seis horas, coisa que eu não conseguia sem me sentir um caco e por isso saía mais cedo, mas era legal não jogar "sozinha".

Você pode estar se perguntando: sozinha? Como pode estar jogando sozinha com tanta gente que conheceu? Pois é. Grande parte daquelas pessoas que surgiram de todos os cantos pra jogar comigo quando eu cheguei na guilda foram sumindo lentamente até que agora eu conte nos dedos quem ficou. Por um lado eu achei bom, porque toda aquela atenção me deixava desnorteada.

Eu nunca diria isso em voz alta para o Gabriel com o risco de inflar seu ego mil vezes mais, mas ele era muito bom no jogo. Chegava a ser ridículo. No entanto, ele também era estressado na mesma proporção. Eu já estava me acostumando com o seu pavio curto, me tornando mais resistente à pressão (já que ele não fazia questão de esconder quando eu estava jogando pessimamente e mostrava sua insatisfação da pior forma possível) e melhorando minha jogabilidade. É como dizem: para se tornar bom em algo, cerque-se dos melhores.

Eu já estava me habituando a acordar depois das dez horas, também. Não era difícil quando eu estava dormindo um pouco mais tarde.

Após responder um meme que o Daniel mandou, me arrumei e desci para o andar de baixo (que se encontrava vazio), recebendo um áudio dele, no qual ele dizia que estava fazendo compras.

A nossa relação retornou ao que era antes; posso dizer que está até melhor. Colocamos as cartas na mesa sobre os nossos sentimentos e passamos a entender melhor o lado do outro.

Na época em que ele se manteve meio distante, Daniel não estava em uma boa relação com sua mãe. Na verdade, andava de mal a pior. Ela é uma narcisista de primeira e nunca se preocupou com nada além de seus próprios sentimentos. Quando o pai de Daniel, que era a pessoa mais próxima que ele tinha, morreu, ela não esteve lá pra ele e não deu um tipo de apoio sequer. O pai dele era o alicerce, o que fazia com que eles "tentassem" conviver, mas desde então eles são como água e óleo; não se misturam.

Daniel está atualmente procurando um emprego e pensando em se mudar. Fica um pouco complicado quando ele ainda tem a faculdade para se preocupar, mas ele diz que assim que receber parte da sua herança, quer ter estabilidade suficiente para cair fora e arrumar um lugar bem longe dela. E eu não podia apoiá-lo mais.

Enterrei meus dois fones no ouvido e coloquei Songs I don't wanna lose, "músicas que eu não quero perder", que era literalmente uma playlist de músicas que eu queria guardar num potinho para a vida toda.

Comecei a preparar o meu almoço, já que era meio dia. Eu não era uma profissional na cozinha, mas com uma receita certa achada no YouTube, o que era impossível?

Eu fiquei vendo o vídeo e seguindo as instruções, me sentindo satisfeita quando coloquei um pouco do que preparava na palma da mão para provar e surpreendentemente não estava uma gororoba.

Dei um pulo e respinguei um pouco do molho quando senti alguém puxando um lado do meu fone. Enquanto minhas batidas voltavam lentamente a normalidade, Gabriel espreitava a panela com curiosidade.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora