capítulo oitenta;

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Daphne

Não vai me convidar para entrar? — PlayHard questionou, parado a minha frente enquanto segurava uma mala preta.

Estávamos do lado de fora da minha casa. Ele tinha acabado de chegar para deixar a minha parte do "contrato".

Cruzei os braços, não fazendo menção de me afastar do portão.

— Por que convidaria?

Ele arrastou o canto da boca em um sorriso onde apenas os lábios se esticavam; não havia nada por trás daqueles olhos.

— Estou parado na rua com uma mala cheia de dinheiro. — Apontou. — Tendo em conta que este bairro não é um dos mais seguros, é um pouco perigoso, não?

Dei de ombros.

— Não vejo motivos para ficarmos aqui por mais de cinco minutos.

— Certo. — Ele ainda tinha aquele sorrisinho irritante no canto da boca. Observei quando colocou a mala no chão, abrindo o zíper da mesma e retirando dentre as notas um papel.

— O que é isso? — perguntei quando ele estendeu o objeto para mim.

— Um contrato de rescisão — disse. Tomei o papel de suas mãos. — É uma forma de formalizar o fim do seu contrato com a Loud. E é o que vai permitir que outras guildas possam te contratar sem terem que pagar uma multa, que não é muito pequena; seu antigo colega de trabalho deve ter por aí sete milhões. — Abriu mais o sorriso, se referindo a Gabriel. — Enfim, estava em uma das cláusulas do contrato de trabalho que você assinou quando entrou. Supus que já não se lembrava disso.

Eu soltei uma risada nasal, fitando-o com nada menos do que indiferença.

Ele esperava um agradecimento da minha parte por ter sido tão bondoso?

— Por que não fez o mesmo por Gabriel? Se é tão gentil?

PlayHard arqueou uma sobrancelha.

Ah, ele sabe. Gabriel foi um investimento. Eu levei ele pra dentro numa época em que ele tinha acabado de quebrar outro contrato dessa forma, sem avisar. Precisei pagar a multa pra trazê-lo pra minha guilda. Não foi tão alta quanto essa, claro, antes ele não era ninguém, apenas um bom jogador. Enfim... Uma coisa que precisa entender sobre ele, é que é uma pessoa muito orgulhosa: ele não virá pedir o contrato de rescisão, conheço a peça. Se ele tivesse vindo até mim depois que saiu, eu teria dado, é um direito dele, mas não veio. Que arque com as consequências.

Eu ri, sentindo vontade de amassar aquele papel em minhas mãos.

— Não é pelo fato dele ser orgulhoso — concluí. — Você sabe que o perdeu; sabe que ele não volta mais, que não vai conseguir mais manipulá-lo. Apenas quer que demorem séculos pra chamá-lo para uma guilda por causa da multa, mas você se esquece que todos querem ele do lado deles.

— Ah, eu sei, querida. Uma coisa que nunca neguei é que ele é bom. Mas consigo contar nos dedos da minha única mão quantas organizações têm a capacidade pra arcar com esse prejuízo, e no final, ainda ter o benefício da dúvida de ter o mesmo acontecendo com eles. Quem vai alguém que não tem nenhum princípio ético e que a qualquer momento pode sair sem dar uma explicação? A fama dele lhe persegue.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora