Gabriel
O dia de hoje entrou para a lista dos piores da minha vida. Eu achei que, por já ter passado por isso uma vez, conseguiria lidar com o fato de vê-la no caixão, mas não. Não foi mais fácil; ou rápido. O tempo pareceu passar ainda mais devagar enquanto via a terra caindo e o pensamento de que nunca mais a veria.
O quarto dela continuaria o mesmo, tal como o de Bea. Eu continuaria acordando todos os dias, trabalhando, vivendo, sorrindo, e tudo seguiria o seu curso normal enquanto ela estaria parada nessa fase da vida onde o câncer a levou.
Nunca tive o sonho de me casar ou ter filhos, mas ela comentava sobre isso. Sobre quando eu a daria um netinho que teria exatamente a minha cara, que correria pela casa e bagunçaria tudo, tal como eu era quando criança. Andei pensando bastante nisso, porque sei que agora é uma coisa que ela nunca poderá ver, e não depende apenas da minha vontade.
Eu estava cansado de perder pessoas.
Não me resta nada, pensei no dia em que tudo aconteceu, antes que Daphne aparecesse.
Não achei que fosse vê-la tão cedo.
Na verdade, não achei que fosse mais vê-la.
Depois de tudo o que aconteceu, eu já estava conformado com a saída dela da minha vida. Sempre estive, a partir do momento que soube que deveria contar a verdade.
Mas ela ficou.
Apesar de tudo que vem acontecendo, nunca senti meu peito mais leve. Ter um segredo desses, que você sabe que pode destruir a confiança de alguém, te
corrói por dentro.A campainha soou pela casa e eu sacudi a água dos meus cabelo, fechando o registo e alcançando a toalha, confuso.
Já era noite e eu não estava esperando ninguém.
Pude ouvir a porta do meu quarto abrindo e os passos de Daphne pelo corredor.
Enrolei a toalha no meu quadril e saí do banheiro, entrando no quarto para começar a me vestir. Coloquei minha roupa interior enquanto ouvia vozes abafadas através da parede, e segundos depois Daphne estava aparecendo na porta:
— É o Arthur — ela disse, cruzando um braço na frente do corpo. — Deixei ele entrar, espero que não se importe...
Neguei, secando meu cabelo com a toalha e procurando uma calça moletom.
— Ele está sozinho? — perguntei, porque o que eu menos queria neste momento era uma intervenção.
Daphne concordou.
— Vou ficar aqui — disse. — Deixar vocês conversarem.
Observei ela sentar na cama e ligar a TV enquanto eu terminava de colocar uma camiseta.
— Tem certeza? Se for pra sala não vou me importar.
Ela recusou com um aceno, me dando um sorriso de canto, e eu tive vontade de beijá-la. No entanto, apenas concordei, pegando no maço de cigarros, no isqueiro e saindo do quarto.
Arthur estava em pé, olhando para o lado de fora através das cortinas da sala.
Se virou quando percebeu a minha presença.
— Quer ir pra varanda? — perguntei.
— Pode ser — ele respondeu, me seguindo em silêncio até o local.
Nos sentamos no banco de madeira, debaixo da fraca luz alaranjada. Equilibrei o cigarro na boca e o acendi com um pouco de dificuldades por causa do vento.
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Secrets (loud bak)
FanfictionGabriel é um jogador famoso no cenário do Free Fire. Jovem, e de temperamento forte, repele a maioria das pessoas ao seu redor. A chegada de uma nova integrante na guilda se torna para ele uma oportunidade de ajudar sua família, no entanto, as cois...