Secrets (loud bak)

capítulo dezanove;

D A P H N E

Estava prestes a abrir a boca quando um toque rompeu o ar. Olhei em volta, percebendo que era o meu celular quando vi o olhar dos dois em mim.

Tirei ele do bolso.

—— É a minha mãe —— informei, levantando os olhos brevemente pro PlayHard. Eu tinha esquecido de retornar à última ligação dela. —— Posso...

—— Você pode ir, Daphne. A gente espera.

Me levantei, respirando aliviada na medida em que me afastava e fechava a porta atrás de mim.

——  Oi, mãe —— falei assim que atendi, parando no corredor.

—— Daphne, você quer me matar do coração? —— Ela parecia brava. —— Não falo direito com você tem uma semana.

Suspirei, olhando para os meus próprios pés.

—— Eu sei... É só que muita coisa anda acontecendo por aqui e eu acabei esquecendo de retornar aquela ligação —— concluí.

—— Hm... Vou deixar passar dessa vez. Mas fale pra mim, como você está? Está se virando bem aí?

Precisei de um tempo para organizar as palavras e dizê-las de uma forma que não a deixasse preocupada. Porque não, depois dessa proposta eu nao estava bem e aparentemente eu não estava me virando bem por aqui.

—— Eu estou bem —— menti, forçando um sorriso e sabendo que ela conseguiria sentir do outro lado. —— Venho dormindo um pouco tarde e tal por causa das horas que fico trabalhando mas tirando isso... tudo bem. Mas e você, como está tudo por aí?

—— Está tudo bem. Só o ônibus que sempre atrasa. E eu estou sentindo muita saudade sua.

—— Eu também, mãe, muita —— Era o milésimo suspiro que eu soltava. Ficamos em silêncio por um segundo. —— Ninguém incomodou a senhora nesses dias, não é?

Eu não precisava citar nomes para que ela soubesse que estava falando do TH. Ele não era de bater na nossa porta e nos amedrontar sempre que tivesse chance —— até porque ele sabia que mesmo que fizesse isso, o dinheiro que devíamos não cairia do céu —— mas sempre que ele nos achava na rua dava um jeito de deixar o seu recado e avisar que a cada dia a dívida acumulava.

Por que meu pai foi se meter com agiotas?

—— Não, ele não incomodou. —— A voz dela baixou drasticamente, como se eu tivesse desligado um botão nela e tirado toda aquela animação.

Me senti horrível por isso.

—— Logo a gente vai se ver livre... disso, mãe, eu prometo —— afirmei.

Assim que eu completasse o meu primeiro mês aqui e recebesse o meu salário já daria para pagar uma parte; talvez precisasse de no mínimo cinco meses pra quitar tudo, o que me fazia pensar: não seria tudo mais fácil se eu aceitasse proposta?

—— Mãe... —— eu murmurei após um tempo, brincando com um fio solto da calça moletom. —— E se tivesse um jeito de resolver tudo isso mais rápido? 

Ela soltou um chiado.

—— Que jeito?

—— Se... —— Neguei, soltando o ar com força. —— Não sei, você acha que vale a pena fazer tudo pra conseguir algo?