capítulo doze;

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G A B R I E L

Me virei para ignorar a pergunta e a presença de Arthur em meu quarto, ouvindo a porta fechando e praguejando mentalmente ao perceber que ele ainda continuava ali.

—— Qual é o seu problema? —— ele perguntou depois que ouvimos a porta da garota bater do outro lado.

Meus ombros pesaram e eu revirei os olhos, afastando minha cadeira para que pudesse sentar e ser vitorioso na tarefa de fingir que ele não estava ali.

Mas eu não era bom ignorando o que estava me incomodando.

—— O meu problema é que vocês não me deixam em paz —— concluí, abrindo o energético e dando um gole longo. —— Meu quarto virou zona agora?

Ele me observou em silêncio, me julgando como se fosse um ser melhor que eu espiritualmente. E sendo honesto, qualquer um podia alcançar esse pódio, porque eu simplesmente tinha parado de dar a mínima pra tarefa de ser uma boa pessoa.

—— O que falou pra ela? —— Havia tensão em sua voz.

E lá ia ele; Arthur Ramos, se importando com tudo e todos quando ninguém daqui se importava com ele. Às vezes me perguntava se ele não cansava de fazer papel de trouxa.

Ele mal a conhecia para que estivesse no meu quarto agora tentando tirar satisfações. E esse mero fato me fez abanar os ombros em desprezo, a impaciência me atacando por ter sua presença inesperada ali.

—— Não falei nada mais que a verdade.

—— E qual é a sua verdade? —— questionou, cauteloso. —— Alguma que a machucou e a fez sair correndo daqui?

Forcei uma risada em minha garganta.

—— Oh sim, me desculpe, às vezes a verdade tem essa característica: ela dói —— debochei, me sentando na cadeira e girando-a até que eu estivesse de frente para ele. —— Nada disso teria acontecido se ela não tivesse invadido meu quarto.

—— Ela invadiu seu quarto? —— Ele parecia espantado demais para acreditar em minhas palavras. —— Conta outra Bak.

–—— Tanto faz. —— Revirei meus olhos. Ok, talvez eu estivesse exagerando. Mas a imagem dela pulando de susto e caindo de quatro no chão, como se tivesse sido pega fazendo algo errado, foi impagável. Só não ri porque estava bastante confuso. —— Eu não a convidei de qualquer forma.

—— O que ela queria?

—— Arthur, você acha que eu quero saber? —— Cuspi, ácido.

Ele riu, passando os dedos pelos cabelos.

—— Ela "invadiu" seu quarto e então você se viu no direito de atacá-la pelo simples fato dela existir —— concluiu em tom acusatório.

Soltei um suspiro, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e esfregando os olhos.

—— Eu. Não. Me. Importo.

Um minuto de silêncio preencheu o quarto.

—— Como você consegue dormir em paz? —— Sua pergunta soou carregada de sarcasmo. Meu coração ainda batia calmo dentro do meu peito, e eu só esperava que aquela conversa não rumasse para o ponto onde ele tocasse em minhas feridas. Porque Arthur adorava fazer aquilo. —— Não consegue mesmo ser nem um pouco gentil? A garota acabou de chegar.

—— Eu não podia me importar menos.

Ele suspirou, desviando os olhos para a minha cama desfeita e apertando a mochila que segurava contra o ombro.

Eu ainda não entendia por que ele havia voltado tão cedo de sua casa quando estava programado para que aquilo acontecesse na próxima semana, e nesse momento nunca desejei tanto que ele ainda estivesse lá.

—— Eu entendo que seu aniversário está chegando e que fica cada vez mais difícil para você. —— Mandando a ele um olhar em forma de aviso, eu apertei o braço da cadeira com a minha mão. —— Mas você percebe que ser assim não vai trazê-la de volta, não é?

Cale a boca, eu queria gritar, mas minha garganta estava seca e parecia que o peso do meu corpo aumentara duas vezes mais para que eu tivesse força de fazer qualquer outra coisa sem ser ouvi-lo.

—— Nada disso vai. Toda essa raiva, ódio e culpa, nada disso vai trazê-la de volta, e eu sinto muito, Gabriel. Eu sinto tanto. Mas você precisa deixar isso ir. Cara, já vai fazer três anos. Não pode continuar estagnado nessa fase da sua vida pra sempre só porque dói. Você precisa seguir em frente.

Eu permaneci estático quando ele deu meia volta e saiu do quarto, fechando a porta atrás dele. E nunca o odiei tanto como naquele momento por me fazer lembrar dela mais uma vez, como se já não fosse suficiente que não pudesse esquecê-la nem em sonhos.

Arthur falava como se pudesse se colocar em meu lugar. Como se pudesse sentir minha dor, mas ele não entendia. Ele nunca iria.

Ela era minha e era culpa exclusivamente minha que eu me sentisse assim.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora