Secrets (loud bak)

capítulo trinta e nove;

G A B R I E L

—— Os caras querendo meter o louco em xTreino? Vai tomar no cu —— esbravejei, vendo eles pegarem a tirolesa e descerem pra Pochinok.

—— Relaxa, mano. Eles estavam zuando —— Jordan disse. —— Dá tempo de chegar aí e salvar você.

—— Zuando é o caralho! —— rebati, apertando o maxilar. —— Galera falou mil vezes que ninguém troca na primeira safe e eles já vem de brincadeirinha pro meu lado? Se juntando pra me derrubar e ainda ficam mandando emoji? Filhos da puta.

—— Ih, 'tá 'mei atacado hoje né, 'fi? —— Thur perguntou.

—— Quando é assim a patroa deu um pé na bunda dele —— Lzinn comentou, e eu pensei que estava demorando pra ele começar a falar.

—— Ihh... —— os outros disseram em uníssono. —— Que patroa é essa aí? —— Thur quis saber.

—— Vai me dizer que não sabe que ele e a Daphne andam de duozinho por aí? —— Lzinn respondeu e eu revirei os olhos.

—— Vocês querem calar a boca? —— murmurei, pegando na garrafinha de água e dando alguns goles.

—— Viu só? Todo estressadinho. O que foi, Bakzin? A Daphne achou um duo melhor que você? —— Lzinn perguntou, me fazendo soltar uma risada sem vida.

—— Como se isso fosse possível —— constatei.

—— Hmm... Então você admite que anda de duozinho com ela por aí —— Jordan se intrometeu, finamente chegando até mim.

—— Pronto, acabou a palhaçada —— falei assim que voltei, me ajeitando na cadeira. —— Jordan vem comigo que eu acho que aqueles caras devem ter ido pra Factory.

—— Qual é, cara? Vai querer ir atrás deles mesmo? A safe ainda nem fechou —— Thur reprovou a ideia.

—— É óbvio que eu vou atrás. Vou cobrar de todo mundo. E se acharem ruim ainda vai ter dancinha.

—— É... Hoje ele está mais atacado que o normal. Vou perguntar pra Daphne depois qual é o segredo —– Lzinn implicou e eu revirei os olhos pela milésima vez, mandando ele calar a boca.

(...)

Ok. Hoje provavelmente havia sido a noite mais estressante jogando. Além dos fãs encubados que ficavam caçando a gente, ainda precisei ficar aturando os caras no meu ouvido falando da Daphne a cada 2 segundos. A menina nem na mansão estava, mas ninguém parecia querer me fazer esquecer isso.

Combinamos de jogar um 4x4 assim que o xTreino acabou. Enquanto eles ainda decidiam quem chamar, eu fui pro banheiro e joguei água no rosto, reparando que meus olhos estavam um pouco irritados pelo tempo em que eu estava no computador; praticamente desde que acordei.

Saí do quarto, descendo as escadas e vendo Carolina e Bárbara encolhidas num edredom enquanto assistiam um filme que parecia de terror na TV. Passei despercebido, indo até a cozinha e encontrando Arthur sentado na ilha, comendo cereal.

—— E aí —— ele disse assim que me notou e eu abanei a cabeça, indo até a geladeira para pegar outra garrafinha de água. Eu realmente devia comprar um frigobar ou assim para o meu quarto, porque ficar descendo toda a hora pra pegar coisa não estava dando. —— O que está rolando entre você e a Daphne?

Eu não consegui conter minha indignação, tirando minha cabeça de dentro da geladeira e endireitando minhas costas, me virando pra ele.

O quê? Agora todo mundo vai falar dela? O que é isso? Um complô?

—— O quê? Eu já não posso descer para pegar água em paz? —— questionei, cruzando minhas sobrancelhas.

Arthur levantou os ombros, colocando a colher na boca.

—— Só estou fazendo uma simples pergunta —— disse inocentemente, voltando a me olhar. —— Não pode responder?

Respirei fundo, fechando a geladeira após tirar duas garrafas de água.

—— Devia estar acontecendo algo?

—— Por que está tão na defensiva? —— ele rebateu, parecendo me analisar.

—— Não estou na defensiva.

—— Eu acho que você se esquece que sou seu melhor amigo desde os seus dezesseis anos ——Arthur declarou e eu ergui as sobrancelhas. —— Bom, era, até você virar uma pessoa completamente diferente.

—— Talvez por isso mesmo você devesse colocar na cabeça que não sabe absolutamente nada sobre mim —— pontuei, lhe dando as costas mas parando quando sua voz soou novamente.

—— Eu conheço o suficiente desse Gabriel para saber que tudo isso está estranho —— ele disse. —— Primeiro você esculacha a garota e a trata como menos que nada. E nas últimas semanas você anda com ela de lá pra cá, não aja como se não estivesse percebendo.

Eu me virei.

—— E o que você tem a ver com isso? —— perguntei, severamente.

Sério. Toda essa gente estava começando a me irritar com esse papo.

Arthur suspirou, empurrando a vasilha e cruzando os braços sobre a bancada.

—— A garota é legal, Gabriel... —— alertou, hesitando um pouco antes de continuar. —— Se está fazendo isso tudo com a intenção de apenas levá-la para a cama... Pelo menos deixe que ela saiba que é só isso que você quer.

Eu me aproximei da ilha, parando do lado oposto e apoiando as mãos na bancada.

—— Se tivesse usado toda essa sua desconfiança da forma correta e para o que realmente é da sua conta, talvez tivesse impedido que eu comesse a sua namorada no banco de trás do meu carro.

Eu percebi o exato momento em que seus ombros viraram pedra e o semblante tranquilo sumiu do seu rosto.

—— Ah, não, espera. Agora é ex namorada, não é?

Dei a ele um sorriso fechado, recolhendo as garrafas e dando meia volta.

—— Eu ainda tenho esperança de que um dia você vai voltar a ser o que era antes. —— Parei no meio da cozinha quando ouvi a voz dele atrás de mim, mas não me virei desta vez. —— Porque apesar de tudo o que aconteceu, eu ainda não deixei de me importar com você. E mais que tudo, ainda sinto falta do meu melhor amigo.

Eu sentia as minhas costas queimando com o seu olhar, e pela voz trêmula eu soube que o havia atingido com as minhas palavras anteriores. No entanto, eu não me importava; não mais. Por isso mesmo não senti nada ao sair do local sem sequer olhar para trás.