capítulo sessenta e sete;

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Daphne

Ele levantou num sobressalto, empurrando o tronco para trás e batendo as costas no braço do sofá.

Seu corpo estava molhado; testa, pescoço, peitoral. Ele parecia estar ardendo em febre mas confirmei que não antes dele ter acordado abruptamente.

Gabriel apertou os olhos com força, soltando um suspiro longo e pesado enquanto massageava a nuca.

— Você não queria acordar — comentei, vendo ele dar um pulo para o lado e levantar a cabeça rapidamente, parecendo surpreso ao me ver sentada no tapete. Coloquei minhas mãos sobre os joelhos dobrados e arrastei uma unha sobre a pele, ansiosa pela forma como ele estava me encarando. — Parecia estar tendo um pesadelo.

Despertei minutos antes, quando pensei ter ouvido ele me chamar mas na realidade ele ainda estava dormindo; murmurando e suando enquanto sonhava.

O quê..?  — balbuciou com o tom baixo e rouco, ainda me fitando severamente.

Inclinei meu corpo para frente, tocando em seu ombro.

Senti ele tensionar.

— Como está se sentindo? — perguntei, cautelosa, vendo ele erguer o corpo para se sentar corretamente; minha mão deslizou pela sua pele e tombou para o lado.

— O que... O que está fazendo aqui? — questionou retoricamente, parecendo ser mais para ele do que para mim, observando o ambiente com uma testa franzida. Seus olhos pararam na garrafa de líquido incolor atrás de mim, em cima da mesinha de centro, e então sua face experenciou uma série de emoções: confusão, realização, dor, raiva e depois dor novamente. — Eu liguei para você?

Neguei, percebendo que ele evitava meu olhar.

— Não. Eu é que vim.

Ele permaneceu em silêncio pelos próximos minutos, vegetando e olhando para o nada.

— Eu poderia ter evitado — sussurrou, pensativo, piscando lentamente para a parede branca. — As duas.

Engoli em seco.

— O que poderia ter evitado?

Ele ponderou.

— Foi com isso que sonhei. Elas estavam lá e diziam que a culpa disso é minha — concluiu, finalmente me fitando. — Eu poderia ter evitado.

Por que ele falaria isso?

— Nada do que aconteceu é culpa sua, Gabriel — garanti, vendo ele quebrar o contato visual após soltar um riso zombeteiro.

— Sim, Daphne, infelizmente é culpa minha.

— Eu sei que é difícil aceitar, mas as coisas acontecem exatamente da forma que elas deveriam acontecer e no momento que devem acontecer. Não é culpa sua. Não temos controle do...

— Você não sabe de merda nenhuma, porra! — me cortou; o tom saindo de calmo para raivoso. — Ficar com essas frases filosóficas não vão fazer eu me sentir melhor! Como pode falar que a culpa não é minha se nem sabe o que aconteceu? O que eu fiz? Se na...

— Então me diz! — pedi. — Me diz o que aconteceu para que eu consiga entender!

— O que aconteceu é que ela está morta! Minha mãe está morta! Minha irmã está morta! — despejou, se levantando. — Se eu tivesse conseguido o dinheiro antes talvez... Talvez tivesse dado certo... e não teriam tido complicações. E se eu tivesse cuidado da Bea naquela tarde, se eu não tivesse continuado naquele maldito computador, ainda estaria aqui, se... — Ele parou, apertando a ponte do nariz com força e sacudindo a cabeça. — Foda-se.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora