D A P H N ESe havia uma coisa que esse local era, era ridiculamente grande. Eu não decoraria todos os cantos nem que me dessem um mapa, e eu duvidava que isso acontecesse até depois de passar mais de duas semanas aqui.
Fui infeliz de não ter trazido o celular comigo para perguntar à Bárbara sobre qual das "segunda porta depois de virar o corredor" ela falava, porque eu estava no meio dele e haviam duas "segundas portas". Uma na parede esquerda e outra na direita.
A primeira estava fechada, e depois de algumas batidas enquanto eu olhava para os dois lados do corredor, como se alguém fosse aparecer para dizer se eu batia na porta certa, eu desisti. Ou a pessoa não estava ali, ou estava dormindo, ou simplesmente não queria atender ninguém. E eu não queria ser intrometida o suficiente para abri-la sem ser convidada.
Fui até a outra, que para minha surpresa, estava entreaberta. Parei no limiar do batente, estendendo a mão para bater na madeira pintada de branco.
—— Oi? —— Aquele meu simples gesto de bater à porta fez com que ela recuasse lentamente para trás, me revelando um quarto parcialmente escuro (se não fosse pela LED azulada que vinha do setup). —— Gilson? —— perguntei com um tom resignado, quando revistei timidamente o local e não avistei ninguém.
Dando uma olhada mais atenta eu percebi que não fazia muito tempo que alguém esteve aqui. Um personagem esperava no lobby enquanto um pacote de salgadinho aberto estava jogado sobre a mesa, a cadeira ligeiramente torta como se a pessoa tivesse saído às pressas.
—— Que porra é essa? —— A voz soou em minha nuca e eu pulei de susto, cambaleando para frente e caindo de quatro para dentro do quarto.
O carpete macio protegeu meus joelhos do impacto, mas meu coração batia com uma força esmagadora dentro do meu peito enquanto eu me apoiava sobre minhas mãos.
Me levantei tão depressa que minha pressão podia ter caído, carregando o peso do meu corpo e do enorme constrangimento que começava a aquecer minhas bochechas. Quando eu achei que não podia ficar pior, ficou, porque quem me encarava de forma intrigada não era o Gilson, ou o Marcos, ou o Victor. Era Gabriel, e ele estava com uma cara de poucos amigos.
Era a segunda vez que eu tinha algum tipo de contato com ele desde a minha chegada aqui. A primeira sendo quando ele me ignorou completamente no dia em que cheguei.
—— O que faz aqui? —— voltou a perguntar, os olhos sérios exigindo respostas.
A atmosfera sempre foi assim tão pesada ou foi porque ele acabou de chegar?
—— Estou procurando o quarto do Gilson. —— Minha voz saiu um murmúrio apressado e eu odiei a forma como minhas mãos suavam.
Gabriel arqueou as sobrancelhas grossas.
—— Não sou o Gilson, como pode ver —— disse, entrando no quarto e caminhando até o setup. Só então percebi que carregava uma lata de energético na mão. —— E esse definitivamente não é o quarto dele.
Concordei devagar, levando minhas mãos para os bolsos traseiros da calça moletom e analisando enquanto ele deixava a latinha sobre a mesa e se preparava para sentar.
—— Você deve ser o Bak —— eu falei, atraindo sua atenção quando ele olhou sobre os ombros. —— A gente não teve chance de se falar direito ainda.
Talvez ele só não fosse bom interagindo? Ele não desceu pra comer com a gente quando as meninas pediram pizza, e nenhuma delas (nem mesmo os garotos) pareceram sentir falta dele ou achar aquilo estranho. Mas para mim era um pouco, porque as meninas me disseram que ele não estava ocupado fazendo live ou algo do tipo. Então o problema era comigo? E se era, qual? E por quê?
Eu não queria ter mal entendidos com ninguém da casa quando mal acabei de chegar.
—— Você sabe quem eu sou, anjo. —— Ele tinha um sorriso estranho (quase maldoso?) no canto dos lábios. —— E não é como se eu estivesse interessado em uma conversa.
O tom duro em cada uma de suas palavras me fez levantar as sobrancelhas em surpresa. Tudo bem, me avisaram que ele não era lá muito simpático, mas ser grosseiro dessa forma sem necessidade nenhuma?
—— Você não é lá muito humorado, não é?
Gabriel soltou uma risada nasal, desistindo de tentar me ignorar e se virando.
—— Nada dessa baboseira me interessa, Daphne. Não sei o que se passa na sua cabecinha, mas não seremos amigos. Então podia poupar o meu e o seu tempo, e dar o fora do meu quarto. Já teremos que conviver mais do que necessário nesse trabalho.
Meu cérebro ainda tentava processar o significado de suas palavras vários segundos depois dele tê-las dito. E ele (meu cérebro) não conseguia encontrar alguma lógica onde tais palavras pudessem pertencer a pessoa que eu encarava. A mesma que eu acompanhava no cenário. A mesma que serviu de inspiração para mim em vários momentos. A mesma que era incrível, super incrível com os fãs e as pessoas que o admiram.
—— Isso é algum tipo de pegadinha? —— eu questionei com um sorriso constrangido, olhando discretamente para os lados.
E naquele momento eu nunca desejei tanto que Gilson surgisse de algum canto daquele quarto e risse da minha cara por ter acreditado.
—— Você realmente se acha especial, não é? —— ele constatou, o sorriso nunca deixando seus lábios. —— Acha que entrou aqui porque tem algum potencial, então deixa eu te dizer uma coisa: tal como todas as outras, você é só mais um rosto bonito. Com sorte vão lembrar de você por dois meses.
—— Eu estou delirando ou estou vendo sua porta abert... Opa! —— Uma voz masculina surgiu no quarto, me fazendo quebrar o contacto visual que eu mantinha com ele.
Minha garganta ardia e minhas mãos tremiam quando eu pousei meus olhos no moreno parado no batente, olhando de mim para Gabriel e de Gabriel para mim.
Não foram precisos mais de cinco segundos para que Arthur sentisse o clima tenso no ar e percebesse que alguma coisa estava errada.
Ainda agarrado à alça de sua mochila, pendurada no ombro, ele fez menção de falar algo, mas antes que conseguisse abrir a boca, eu passei por ele, incapaz de continuar no mesmo cômodo que aquele imbecil.
—— Daphne? —— Arthur hesitou, mas eu não respondi e muito menos deixei de caminhar, virando o corredor.
Antes que eu me afastasse completamente consegui ouvir ele questionar ao mesmo tempo em que a porta se fechava em um baque surdo:
—— O que você fez?
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Secrets (loud bak)
FanfictionGabriel é um jogador famoso no cenário do Free Fire. Jovem, e de temperamento forte, repele a maioria das pessoas ao seu redor. A chegada de uma nova integrante na guilda se torna para ele uma oportunidade de ajudar sua família, no entanto, as cois...