capítulo setenta e cinco;

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Gabriel

Daphne ainda estava dormindo quando saí de casa. Para que ela soubesse onde eu estava quando acordasse, mandei uma mensagem pro celular dela e arranquei em direção ao meu destino.

8h17min.

Minhas mãos apertavam o couro do volante, e a cada curva eu tinha cada vez mais certeza que era a melhor decisão a tomar. Na verdade, nem a melhor, mas a que eu deveria ter tomado faz tempo. A visita recente só serviu pra provar isso.

PlayHard nunca realmente se importou comigo, e eu nunca realmente me importei com esse fato. Ele era tão ganancioso quanto eu e nos dávamos bem daquela forma. Eu trabalhava arduamente para atingir os meus objetivos e ele os dele, e a partir do momento que ninguém interferisse nos planos de ninguém, eu não ligava.

Mas ele cruzou uma linha quando veio até minha casa antes mesmo que minha mãe tivesse vinte e quatro horas longe dessa terra. Uma linha que dizia claramente: nós não trabalhamos juntos. Eu apenas te usei para o melhor dos meus interesses.

E por mais que eu já tivesse usado muita gente na minha vida para conseguir as coisas que eu queria, nunca cheguei em um nível tão baixo. Ou cheguei? Será que sou tão ruim quanto o cara que odeio nesse momento e não sei?

O que ele tinha na cabeça? Vinha até mim com seu discurso disfarçado de condolências e dizia algo como "ei, sei que está em um momento de dor por agora, mas só vim te lembrar de não ficar choramingando por muito tempo, porque como você sabe, a Daphne caiu fora e eu preciso de você pra continuar fazendo dinheiro, ou seja, foda-se a sua mãe".

Era demais até pra mim. E só o fato dele ter achado que eu levaria numa boa me faz questionar se sou tão ruim quanto.

Minha garganta secou quando vi o muro da mansão. Deixei o carro do lado de fora e toquei o interfone, sendo recebido por uma das tias que fazia a limpeza no local.

A sala estava vazia, e era de se esperar. A galera tinha costume de fazer live e não acordar antes das dez horas da manhã.

Quando subi alguns degraus, ouvi a voz de Voltan atrás de mim:

— Você já voltou? — questionou com um pouco de preocupação e me virei, balançando a cabeça em negação antes de continuar.

— Não. Eu vou é sair.

Os passos dela soaram atrás de mim.

— Sair? Sair de onde? Da mansão?

— Da guilda — finalizei, seguindo pelo corredor após perceber ela parar e ficar para trás após minhas palavras.

Meu quarto continuava da mesma forma que deixei naquela madrugada. Ninguém tinha o costume de entrar para limpar sem que eu dissesse, e aparentemente respeitaram essa vontade.

Era estranho, porque muito tempo se passava desde então, mas conseguia sentir o perfume suave de Daphne. Ou talvez fosse psicológico porque sei que ela esteve aqui da última vez.

Sacudi a cabeça, percebendo que eu vinha pensando nela com mais frequência do que poderia considerar normal. É como se tivesse alugado um apartamento na minha mente. Se eu visse ou notasse algo já me perguntava o que ela diria ou faria naquela determinada situação. Como quando um gato preto atravessou a rua na minha viagem até aqui e me questionei se ela acreditava em superstições.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora