capítulo sessenta e um;

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N A R R A D O R

Ele percebeu que havia cometido um erro.

Não por ter escondido aquele segredo por tanto tempo. Ou por ter sido desonesto com ela e com o vínculo que eles vinham construindo; disso ele sabia desde o início e poderia, ainda, acrescentar inúmeros motivos que lhe qualificariam como o menos merecedor da sua amizade.

Naquele momento, ele acabava de perceber que cometeu um erro alarmante, quando, tomado pela urgência em tentar amenizar a situação, seguiu Daphne para fora do escritório.

Deveria ter sido mais cauteloso.

Deveria ter continuado lá e agido de tal forma que PH continuasse acreditando que tudo aquilo não passava de um jogo para ambos. Mostrou se importar demais para se assemelhar a um Gabriel de meses atrás; um que teria ficado no local para discutir o desfecho do contrato; um que não teria agido pela emoção.

A possibilidade de que ele descobrisse o que acontecia debaixo do seu nariz deixava Gabriel com um pé atrás, pois se PH decidisse usá-la para chantageá-lo, já não tinha tanta certeza que colocaria seus interesses à frente da garota.

Por que deixou que chegasse a esse ponto?, praguejou ao esfregar os olhos.

Não ouviu nada quando parou de bater na porta. Nenhum xingamento, choro ou grito o mandando embora.

Nada.

Daphne se silenciou completamente e aquilo era a pior coisa que ele poderia receber.

Conteu a vontade que teve de chamá-la outra vez e respirou fundo, diminuindo o ritmo cardíaco. Após sentir que já estava mais calmo, desceu as escadas.

— Ela se trancou no quarto — informou quando entrou no escritório onde, de frente para a janela, PH observava a chuva cair; um copo meio cheio na sua mão. — Preciso da cópia da chave.

— Pra quê?

— Para que eu tente contornar a situação e o contrato não esteja totalmente perdido? — respondeu como se fosse óbvio, recebendo uma risada seca. — A não ser que esteja conformado com o fato de perder seu ninho de ouro, porque do jeito que ela saiu daqui, pode estar pensando em sair da guilda.

O vidro tintilou pela fricção dos anéis em volta dos dedos e PH entornou um gole do álcool, soltando um pigarreio.

— Você sabe bem que eu não estou conformado.

— Imaginei.

— Pois é. E sabe com o que mais não me conformo? — O homem virou o tronco para olhá-lo sobre o ombro; os olhos brilhando em excitação. — Como ela pode ter feito a sua cabeça em tão pouco tempo.

Gabriel ergueu as sobrancelhas.

— Do que está falando?

— Do fato de eu ter vindo aqui propor a você algo que só nos traria benefícios, algo que você está fazendo — enfatizou — e receber um "não". E você ainda teve a audácia de dizer que não estava pulando para fora do barco. Sua mãe já fez a cirurgia e então eu posso ir me foder, não é? — Caminhou de volta à mesa, despejando mais bebida e dando um meio sorriso ao ver a expressão do menor endurecer. — Ah... por favor, Bak, não me olhe assim. Eu precisava saber qual era a sua motivação para fazer tudo isso, ok? Não se preocupe, apenas liguei em um dia para saber como andavam as coisas e ela acabou mencionando a cirurgia — explicou, inclinando a cabeça. — Fiquei um pouco magoado por não ter me contado, no entanto.

Secrets (loud bak)Onde histórias criam vida. Descubra agora