Um Conto de Natal

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Mas autora, tu tá doida? Como assim Natal se estamos no Carnaval? Bom, não havia Carnaval em 1869 em Northfolk, infelizmente. Kkkkk
Bom feriado a todas e muito obrigada pelo apoio de sempre. Bora pro capítulo ;)
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O ano passou rápido. Voltei para Northfolk fazem três meses e parece que nunca saí daqui. Sinto que aqui é meu lugar, minha casa. Sinto saudades dos meus pais todos os dias e ainda mais hoje, véspera de Natal. Acordei cedo para ir à clínica pois teria um procedimento simples para fazer. Depois mandaria um telegrama desejando Feliz Natal à minha família e a noite, talvez eu fosse à vila ver os fogos de Natal. Não passarei o Natal com Vitória. Ela saiu em missão com algumas amazonas para ajudarem a reconstruir a barragem da aldeia Pedra da Lua, que fica quase nas montanhas. É muito tempo de cavalgada. Estou triste por não passar essa data com minha cacheada preferida.
A casa é quieta sem ela por aqui. Esses dias, me peguei conversando sozinha pensando que ela estava na cozinha. Quando levantei a cabeça e vi que ela não estava, me deu um aperto no peito, como se tivessem tirado um pedaço meu. Sinto muita falta de Vitória.
Tomei meu café, que não é nem de longe gostoso como o dela, comi meu pãozinho e fui para a clínica.
Letícia tem dormido na clínica. Desde a cirurgia de Sabrina ela tem ficado por aqui. Confesso que ela tem me ajudado muito em meus artigos científicos. Embora aqui não tenha muitos recursos, ela disse gostar daqui do interior.
“-Bom dia, Drª Tavares. Como está?”
“-Bom dia, Drª Caetano. Dormi como uma pedra. Ontem teve uma apresentação de Natal aqui na vila. Fiquei para assisitir e estava bem divertido. Os moradores  fizeram ponche e lanches para dividir com todos. Fui dormir bastante tarde.”-Disse ela se espreguiçando.
“-Ótimo. Então vamos ao trabalho. Daqui à pouco meu pimeiro paciente chegará. É um procedimento simples. Vou tirar uma farpa de ferro que caiu dentro do olho do Sr. Roberto enquanto ele afiava uma faca.”-Falei enquanto arrumava os instrumentos.
Logo meu paciente chegou. Sr. Roberto, um bom homem dedicado à sua família. Sua esposa sempre fala dele com muito carinho.
Examinei seu olho direito, onde a farpa se alojou, peguei meu instrumento magnético e, com cuidado, retirei a farpa de seu olho.
“-Pronto, Sr. Roberto, agora o senhor já pode...”-Não consegui terminar de falar. O homem começou a se debater na maca e morreu. Chequei seus sinais vitais e nada. Sofreu uma parada cardíaca. Tentei ressussitá-lo com massagem cardíaca e respiração artificial. Nada. Causa morte: ataque cardíaco.
“-Santo Rei Poderoso! Não acredito nisso!”-Exclamei para Letícia. “-O homem teve um ataque do coração. Vou ter que dar a notícia para a família”-Falei tirando meu avental.
Fui até a rua onde estava sua esposa e filhos explicar a fatalidade. A esposa chorava e me culpava pela morte do marido. Difícil absorver uma perda na véspera de Natal. Definitivamente, hoje não era meu dia.
Estava voltando para dentro da clínica quando fui chamada às pressas. Algo havia acontecido no alojamento dos imigrantes.
Alguns imigrantes vieram para Northfolk buscando uma vida melhor. Eles montam suas barracas ao sul da vila. São boas pessoas em busca de uma oportunidade de sustentar suas famílias.
Fui até lá, à galope em Ventania. Cheguei em uma barraca onde uma mãe chorava. Sua filha de três anos havia sido picada por uma cobra. Quando cheguei, a menina já estava sem vida.
Me ajoelhei e comecei a chorar. O que estava acontecendo? Parecia um tipo de inferno. Só quero que esse dia acabe.
Voltando para clínica, passei perto do Saloon e vejo um rapaz ser arremessado pela porta, com a cebeça sangrando por uma garrafada que levou.
“-Mas não é possível.”-Falei descendo de Ventania. “-Tu tá bem? Vem, vou te dar uns pontos.”- Levei o garoto para clínica. Ele devia ter uns dezesseis anos.
“-Doutora, não tenho dinheiro.”-Falou ele enrolando a língua exalando cheiro de whisky.
“-Tô vendo porque tu apanhou. Bebeu e não tinha dinheiro? Mas tu é um menino. Não devia estar num lugar daqueles.”-Falei fechando os pontos em sua testa.
“-Já sou homem, doutora, e posso lhe mostrar se quiser.”-Falou na maior cara de pau.
“-Seu atrevido! Já te costurei e dá o fora da minha clínica. E se eu te ver lá naquele Saloon de novo, vou contar pra tua mãe. Conheço dona Dora e sei que ela é uma fera.”- Ameacei.
“-Não, doutora! Eu prometo que não faço mais. Me desculpe.”-Ficou tão assustado com a ameaça que até a bebedeira passou.
“-Não peça desculpas pra mim, peça à sua mãe. Ela não merece um desgosto desses.”- Falei empurrando ele pra fora.
Esse dia estava sendo um dos piores desde que vim pra cá. Mas não queria pensar mais nisso e fui até o correio, mandar um telegrama à meus pais. Estava andando até la, quando vejo Vitória, parada na porta do correio, conversando com Vítor. Ele deu um pacote pra ela, que parecia ser um presente. Me escondi atrás de um poste pra ver  o que estava acontecendo. Vitória não estava construindo a barragem? Ela mentiu pra mim?
Vitória conversava muito animada com ele. Não consegui escutar, porque estava um pouco longe. Ela abraçou o presente e em seguida, deu um abraço apertado em Vítor. Minha vista embaçou e tive uma tontura. Vitória vai passar o Natal com Vítor e me deixar sozinha?
Voltei correndo para clínica, com paltpitações, tremedeiras, suor frio.  Estava tendo um ataque de asma...asma...há quanto tempo eu não tinha isso...
“-Le...Letícia...”-Falei tentando respirar.”-Pe... pega aque...aquelas plantas..plantas ali.”-Apontei em cima do armário, onde elas estavam, enquanto eu pegava o clorofórmio para inalar. O clorofórmio relaxa a musculatura e acalmaria minha crise nesse primeiro momento.
Letícia pegou as plantas e eu fiz uma infusão para nebulizar.
“-O que aconteceu, Ana? E essa crise de asma? Tu tá nervosa com alguma coisa?”-Me perguntou preocupada.
“-Não, Letícia, eu tenho crises às vezes.”-Menti para não falar o que havia acontecido. Não queria falar sobre isso. Poderia me causar uma nova crise.
A nebulização funcionou e eu já estava respirando normalmente. Eu Só queria ir pra casa chorar.
O dia passou rápido com todos esses acontecimentos nada felizes para mim.
“-Letícia, tô indo pra casa então. Tu vai passar o Natal aqui? Não quer passar comigo, lá em casa? Não tenho muita coisa pra fazer a ceia porque não tive tempo de comprar, mas a gente inventa algo pra comer.”-Estava triste e passar o Natal sozinha me deixaria ainda pior.
“-Eu vou mais tarde então, Ana. Vou beber um whisky no Saloon e mais tarde vou pra tua casa.”-Me falou e saiu. Coragem a dela ir beber lá. Acho que ela está muito confiante. Tomara que ela fique bem.
Peguei Ventania e fui pra casa. Já era passado das seis da tarde.
Cheguei em casa e vi alguns cavalos em frente a porta. Entrei e lá dentro estavam Sabra, AnaB, AnaLu e Sabrina já cozinhando e fazendo até sobremesa.
“-Boa tarde, que surpresa boa vocês aqui”-Falei muito contente.
“-Oi, doutora, viemos aqui lhe desejar Feliz Natal. Sabrina queria te trazer um presente. Esperamos que goste.”-Me disse Sabra apontando para o chão, próximo a lareira. Elas me trouxeram um tapete de pêlo de urso, belíssimo e muito confortável.
“-Que lindo! Eu amei! Olha como é macio!”-Falei caminhando nele com os pés descalços.
A noite seguiu com muita conversa e música. AnaB trouxe o violão e cantamos muitas músicas populares. Impressionante como a música é universal. Não importa a raça ou cor, a música atinge todos da mesma forma.
Letícia chegou já um pouco embreagada e se juntou a nós na cantoria. As amazonas davam risada das danças que Letícia fazia. Estava bastante engraçada.
Jantamos perto das dez da noite e logo depois, as amazonas já foram se despedindo.
“-Doutora, obrigada por nos receber em sua casa. Vamos agora lá pra casa de mainha. Venha conosco.”-AnaB me convidou.
“-Não, Aninha, obrigada mas vou ficar em casa hoje.”-Falei triste por elas terem que ir.
“-E tu, Drª Tavares? Vamos lá tomar um hidromel?”-Perguntou AnaB, cheia de malícia.
“-Só se for agora!”-Letícia disse já se levantando e pegando sua bolsa.
Me despedi delas e as acompanhei até a porta. Nem falamos em Vitória. Se eu perguntasse por ela, começaria a chorar.
Fechei a porta e o silêncio se fez presente de novo. Droga, esqueci de mandar o telegrama pros meus pais.
AnaB esqueceu seu violão. Me sentei em meu tapete de urso, perto da lareira, e comecei tirar alguns acordes. Meu irmão me ensinou quando eu era pequena. Dedilhei algumas notas e quando percebi, alguns versos chegaram pra mim:
“-A ausência quer me sufocar...
Saudade é privilégio teu
E eu canto pra aliviar
O pranto que ameaça
Difícil é ver que tu não há
Em canto algum eu posso ver...”
Fui interrompida por batidas na porta. Certamente AnaB voltou pra buscar sua viola.
“-Oi, Ninha, Feliz Natal!”-Era Vitória, toda linda na minha frente. Uma lágrima me traiu e despencou de meu olho.
“-Vitória, tu não tava na barragem?”-Falei secando as lágrimas e fazendo de conta que não vi ela abraçando Vítor. Na certa, veio terminar comigo.
“-Eu não ia te deixar sozinha no Natal, Ninha. Voltei da barragem cedo. Fui até a vila buscar teu presente, óia.”-Me entregou o pacote que havia recebido de Vítor.”-Eu pedi pro moço do telégrafo encomendar pra mim. Demorou muito pra chegar.  Ainda bem que deu tempo de chegar pro Natal.”-Me falou enquanto tirava o casaco. “-Tu não vai me dar um beijo? Eu tô com saudade de tu.”-Falou me fitando com aquele par de olhos que é meu favorito no mundo.
Larguei o pacote em cima da mesa e corri para os braços de Vitória. Grudei em seu pescoço e a beijei com força e saudade. Invadi sua boca com minha língua e lhe dei um beijo ardente. Logo desci os beijos para seu pescoço e clavícula. Chupei e lambi sua pele enquanto ela deixava escapar seus gemidos em meu ouvido.
“-Ah, Vitória, se tu soubesse a vontade que eu tô de tu.”-Continuei descendo meus beijos por seu corpo.
“-Aé, Ana, então me mostra essa tua vontade.”-Falou sussurando com aquela voz rouca que me fez perder a postura.
Arrastei Vitória até meu quarto e já fui tirando sua blusa.
“-Roupa demais, Vitória.”-Tirei sua calça e joguei longe. “-Te quero nua, na minha cama agora.”-Deitei-a na cama, me despi  e me ajoelhei entre suas pernas.
“-Olha, Ana, não sei que bicho te mordeu hoje mas tô gostando muito.”-Vitória disse com uma cara de safada.
“-Assuma tua responsabilidade, Falcão. Tu que me deixa assim, sem rumo, sem norte. Só quero ir pra onde tu vai.”-Falei enquanto beijava sua barriga, descendo meus beijos. Fiquei ajoelhada na cama, levantei suas pernas e as coloquei sobre meus ombros, erguendo seu quadril . Seu sexo já estava molhado me deixando loucamente excitada. Lambi e chupei sua intimidade, aprofundando minha língua dentro dela. A cada gemido que Vitória dava, eu enfiava com mais força e velocidade. Coloquei meus dedos e massageei seu clitóris. Vitória se contorceu na cama, se segurando na cabeceira.
“-Ai, amor...enfia mais forte.”-Me pediu com a voz arrastada de prazer me fazendo perder a linha. Obedeci enfiando a língua com mais força e a penetrei com meus dedos. Vitória gemeu mais uma vez.
“-Ana...eu vou gozar...”-Vitória falou rebolando em meu rosto.
“-Goza, amor.”-Vitória gozou com força na minha boca. Continuei lambendo e chupando seu sexo para prolongar seu prazer.
“-Ana, dexia eu te provar também...”-Soltei suas pernas na cama e continuei estocando meus dedos dentro dela. Subi os beijos por seu corpo, chegando em sua boca. Rocei meus lábios nos dela enquanto a penetrava rápido e forte, lhe disse:
“-Hoje tu me pertence, amazona.”-Falei isso, ela gemeu alto e se derramou em mim.
Vitória ofegava, com batimentos acelerados, enquanto eu chupava um de seus seios e massageava o outro. Me ajeitei entre suas pernas e comecei a rebolar, esfregando meu sexo no dela. Vitória gemeu alto.
“-Ana, mais forte...”-Suplicou.
“-Ainda não, amazona.”- Parei os movimentos, desci minha boca até seu sexo e a puxei pra cima de mim, invertendo nossas posições. “-Cavalga na minha boca, amazona.”-Falei e comecei a lamber e chupar.
Vitória ficou de joelhos na cama, com minha cabeça entre suas pernas e rebolava em minha boca. Enquanto eu a chupava, ela massageava seus seios e eu me masturbava. Vitória rebolando na minha boca era uma das minhas visões preferidas.
Vitória acelerou os movimentos, jogando seu quadril pra frente e para trás, gemendo e falando besteiras até que gozou demoradamente e caiu sobre mim, exausta.
Ela se ajeitou na cama, me puxando pra junto dela.
“-Isso tudo era saudade, Ninha?”-Falou com o maior sorriso no rosto.
“-Não, isso tudo é meu amor por ti. Eu te amo de um jeito que nem sabia que dava pra amar.
“-Eu te amo demais, pequena.”-Roçou seu nariz no meu e me beijou demoradamente.
“-Tu não tá com fome?”-Perguntei por que eu estava.
“-Vou comer depois. Mas tu nem viu o presente que eu te trouxe. Vou ali pegar. Quero saber se acertei no presente.”-Se levantou e foi buscar o pacote. “-Abre, Ana.”
“-Vitória do céu! Eu amo esse livro! Como tu adivinhou?”-Vitória me deu um exemplar do livro “Um Conto de Natal” de Charles Dickens. Eu era fascinada por esse livro. Meu pai sempre lia para nós na noite de Natal, todos os anos. Era uma tradição de família.
“-Tive uma ajudinha de um certo senhor seu pai. Eu reparei que tu tinha vários livros desse autor, mas não tinha esse. Perguntei pro teu pai se era bom e ele disse que era um tiro certo.”-Me disse toda orgulhosa.
“-Meu pai lia pra gente todo Natal. Tenho memórias afetivas com esse livro. Obrigada.”-Falei cheirando o livro.
“-Ei, obrigada nada, bora ler esse livro aí. Vou trazer algo pra gente comer enquanto tu lê pra mim.”-Vitória trouxe um prato com frutas e se deitou do meu lado. Me ajeitei na cama, limpei a garganta e comecei a ler.
“-Capítulo1- O Fantasma de Marley: Pra começar a história, Marley estava morto. Não havia a menor dúvida quanto a isso. O atestado foi assinado pelo escrivão, pelo sacerdote, pelo agente funerário e pelo encarregado do enterro. Scrooge também assinou...”-Vitória me olhava prestando atenção em cada palavra que era lida. Nós não sabíamos ainda, mas naquele momento, criamos uma de nossas tradições de Natal.

Dra. CaetanoOnde histórias criam vida. Descubra agora